À uma da manhã do dia 5 de julho de 1922 – cem anos atrás – um tiro de canhão do Forte de Copacabana, disparado no mar, deu início a um ciclo de revoltas militares conhecido como tenentismo, que apressou o fim da República Velha e instalou a política dentro dos quartéis. Luís Carlos Prestes, Juarez Távora, Eduardo Gomes, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias e Juracy Magalhães são nomes que o movimento projetou no cenário político nacional e que exerceram duradoura influência na sociedade brasileira.
Embora tenham se dividido posteriormente em campos ideológicos antagônicos, estes jovens oficiais tinham um ideário comum nas primeiras décadas do século passado: para superar a crise agrário-exportadora causada pela excessiva dependência do café, defendiam a modernização e industrialização do Brasil; em consequência, exigiam o voto secreto e o fim do Estado dominado pelas oligarquias rurais, sustentado pela corrupção e a fraude nas eleições.
Provenientes de famílias modestas, enfrentavam no próprio âmbito do Exército uma contradição: tinham formação profissional qualificada, com foco no domínio dos avanços da tecnologia bélica proporcionados pela Primeira Guerra Mundial, mas sentiam-se bloqueados na carreira militar por critérios de ascensão marcados pelo apadrinhamento político.
Em março de 1922 o candidato oficial das oligarquias, Artur Bernardes, derrotara em eleições (mais uma vez, fraudulentas) o oponente Nilo Peçanha, do movimento intitulado Reação Republicana, impulsionado pelas camadas médias urbanas identificadas com os oficiais de baixa patente. O descontentamento destes explodiu no dia 24 de junho de 1922, na mais tumultuada assembleia da história do Clube Militar. Na ocasião, aos gritos, tenentes xingavam seus superiores e apontavam o dedo na cara de generais.
Os acontecimentos se precipitam. Em 3 de julho, o Clube Militar é fechado e seu presidente, marechal Hermes da Fonseca, é preso. Dois dias depois, somente o Forte de Copacabana se levanta em armas, pois o governo, devidamente informado sobre a conspiração, neutraliza o levante em outras unidades, como a Escola Militar do Realengo. Os revoltosos são cercados, e os que se negam a render-se acabam mortos na areia da praia, em episódio que passa à história como “Os 18 do Forte”.
O heroísmo demonstrado gera simpatia na opinião pública e forte repressão em todo o País. São suspensas as garantias constitucionais e decretado o estado de sítio, mantido em vigor durante todo o governo de Bernardes. As transferências de oficiais rebeldes para extremos do território nacional – como o Rio Grande do Sul ou o Amazonas – não diminui, entretanto, o ímpeto dos tenentes. Ao contrário, faz com que estes Estados participem do segundo levante, com início em São Paulo, exatos dois anos depois, em 5 de julho de 1924.
Na madrugada desse dia, tropas rebeldes do Exército e da Força Pública tomam de assalto os principais pontos estratégicos da capital paulista. Embora os verdadeiros líderes da revolta fossem os tenentes Miguel Costa e Joaquim Távora (morto em combate), o comando do movimento foi entregue ao general reformado Isidoro Dias Lopes, que, durante 20 dias, assumiu o controle da cidade.