PB: 60 anos

05 de junho de 2023

A trajetória da Problemas Brasileiros (PB) é marcada por espaço para debates acerca de questões socioeconômicas e culturais. Livre de alinhamentos de qualquer natureza, a publicação acolhe a análise de especialistas sem deixar de retratar anônimos que vivenciam a realidade nacional.

P

Problemas Brasileiros. PB. Quando a primeira edição da revista entrou em circulação, em abril de 1963, os cenários político, econômico, social e cultural do Brasil eram, para resumir em uma palavra, complexos. Eram e continuam sendo. 

Seis décadas depois, alguns problemas estruturais — como a hiperinflação e o analfabetismo —, foram superados, mas outros permanecem no cotidiano, como a ineficiência dos serviços públicos. 

Fundada sob o ideal de estimular o debate e propor alternativas à superação de mazelas seculares do País, a PB acompanhou o espírito do tempo, tornando-se instrumento singular de defesa não só das causas empresariais, mas de toda a sociedade. Ferramenta estratégica de interlocução dos empresários do setor de comércio e serviços, a revista surgiu reconhecendo a existência de graves questões sociais e econômicas herdadas desde o tempo colonial — e que deveriam ser discutidas de forma democrática.

A edição 475, comemorativa de 60 anos, é um reflexo do amplo escopo editorial da PB. As transformações que moldaram e influenciaram o Brasil são apresentadas por meio de um extrato das mais de 450 edições veiculadas, além de vozes que ajudam a entender o País, suas mazelas e virtudes.

Nessas seis décadas, muita coisa foi resolvida, mas ainda vivemos no mesmo Brasil repleto de desigualdades. A impressão é do antropólogo Roberto DaMatta, um dos entrevistados da edição. Ele destaca que a estrutura hierarquizada do País dificulta um horizonte social mais igualitário — ou mesmo o sucesso de políticas desenhadas com esse fim. “Pode haver leis para tentar equalizar, democratizar, mas a igualdade não pega, porque depende sempre da circunstância”, afirma. DaMatta vê uma nação muito semelhante à do contexto da criação da PB, apesar das mutações que o País vivenciou nesse período. Para ele, embora tenha alcançado uma “modernidade superficial”, os grandes entraves nacionais persistem. “Ainda convivemos com dificuldades na educação primária, na saúde, na desigualdade…”.

O jurista Nelson Jobim é outra personalidade ouvida. Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro de Estado de Fernando Henrique Cardoso (FHC), Lula e Dilma e deputado constituinte, ele traça uma visão transversal do poder. Ao analisar o ambiente institucional nacional, Jobim afirma que os ataques de 8 de janeiro, em Brasília, estremeceram a relação entre o governo e as Forças Armadas, mas a situação se estabilizou. “Não vejo dificuldade nenhuma entre Lula e os militares. É uma relação boa. Existiu algo no início, mas as coisas estão compostas”, diz.

Na entrevista, disponível em vídeo, ele ainda critica o mecanismo de decisões monocráticas do STF. “Isso é importante quando há uma urgência absoluta, mas o conceito de urgência começou a se esvaziar. Então, se tiver de decidir com urgência mesmo, submeta-se imediatamente ao plenário.” Na visão dele, o Supremo não pode ser um ambiente de afirmações individuais. “Não é um local para formação de história própria”, ressalta.

EDUCAÇÃO E SOCIEDADE 

Para rememorar as origens das relação luso-brasileira, PB conversou com a historiadora portuguesa Isabel Corrêa da Silva, que conta como começaram as trocas comerciais e culturais entre nós e os portugueses.

Já o reitor emérito da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, referência global em docência, reflete sobre a escola do século 21. E defende que a instituição escolar precisa melhorar as relações com a sociedade para além de seus muros.

A fim de dissertar a respeito das mudanças no papel da mulher na sociedade, PB também conta com um ensaio exclusivo da historiadora Mary Del Priore. Na visão dela, as modificações nos padrões culturais, intensificadas pelo impacto dos movimentos feministas e pela presença mais atuante dessa parcela da população nos espaços públicos, alteraram a constituição da identidade feminina, cada vez mais voltada ao trabalho produtivo. “Assistimos à lenta, mas, constante reconfiguração das relações entre os sexos e dos papéis e das representações de cada um deles”, escreve.

Um extrato das mais de 450 edições veiculadas retrata as transformações que moldaram o Brasil

CHOQUE ENTRE O VELHO E NOVO

Reportagens sobre o ambiente de negócios e o mercado de trabalho brasileiro mostram que por ter adiado reformas estruturais e amargar um histórico de desajustes no orçamento estatal, o País mudou menos do que poderia, e isso acaba afugentando investimentos e se limitando a uma pauta de produção de baixo valor agregado.

Num retrospecto pela história do Brasil, a edição registra ainda assuntos que afligiam a sociedade em décadas passadas — como em março de 1979, quando as dificuldades enfrentadas pelos jovens à procura do primeiro emprego foram assuntos debatidos na PB. Quase 45 anos depois, esses desafios parecem ainda mais profundos: dentre a população de 14 a 29 anos, 27% não estudam nem trabalham, segundo estudo recente divulgado pela Fundação Roberto Marinho (FRM). De lá para cá, a escolaridade melhorou, mas as competências requeridas agora seguem na esteira de um novo componente dessa engrenagem: a transformação digital.

Mais do que olhar para o passado, a PB#475 aborda entraves da atualidade, como a corrida pela descarbonização do setor produtivo e a adoção da agenda ESG no meio empresarial.

Baixe a edição comemorativa de 60 anos da PB aqui.

Lucas Mota e Vinícius Mendes JOÉLSON BUGGILLA
Lucas Mota e Vinícius Mendes JOÉLSON BUGGILLA
receba a nossa newsletter
seta