A concretização de rumos preocupantes nas conjunturas política e econômica mundiais, nos últimos anos, tem testado os limites do bloco de cooperação internacional formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics), acendendo um sinal de alerta acerca da capacidade de controle do Brasil sobre qualquer posicionamento do grupo em temas geopolíticos.
Na cúpula do bloco, ocorrida em agosto de 2023, em Joanesburgo, na África do Sul, o País perdeu a oportunidade de direcionar o debate para temas de interesse em comum.
A entrada de novos membros, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Argentina, Egito e Etiópia, a partir de 2024, pode diluir ainda mais o poder de influência e de barganha do Brasil no grupo. Isso acontece porque o ingresso de novos integrantes pode pressionar o País a ter de referendar decisões com as quais não concorda, adverte o Conselho de Relações Internacionais da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O Brics se formou, no início da década passada, com o propósito de encaminhar propostas específicas de interesse comum entre os países signatários, concentrando-se em demandas distantes de conflitos diplomáticos ou bélicos.
Contudo, de lá para cá, duas situações decisivas mudaram essa configuração: o início de uma forma mais intensa e agressiva de “guerra tecnológica” entre Estados Unidos (EUA) e China, culminando com o radical Chip Act — a alocação de bilhões de dólares na produção de semicondutores em solo norte-americano —, e a invasão da Ucrânia pela Rússia. Agora, com metade dos países signatários do Brics envolvida em conflitos profundos (que dividem o mundo), o grupo assumiu um formato muito perigoso. A questão primordial que fica ao Brasil é ponderar se vale a pena assumir um posicionamento a respeito do conflito entre as duas maiores potências mundiais, além de adotar uma postura pró-Rússia, o que seria desastroso tanto em termos diplomáticos quanto humanitários. Nesse contexto, o desafio atual do País é, sobretudo, buscar evitar qualquer atitude que afete as relações com nações que estejam em conflito com outros integrantes do bloco.
Mas como fazer isso? Concentrando-se em temas prioritários e de suma importância para todos os membros do Brics no momento, como desenvolvimento humano, combate à pobreza, diminuição de barreiras alfandegárias, enfrentamento das mudanças climáticas e promoção de energias limpas.
Outro aspecto crítico presente nessa discussão é a facilitação das trocas comerciais entre países utilizando as respectivas moedas. A redução da dependência do dólar nessas transações pode ser benéfica, especialmente para países como o Brasil e a China, que sofrem com as flutuações da moeda norte-americana, impactando os seus negócios bilaterais. No entanto, a ideia de uma moeda única ainda é distante.
Para que essa proposta seja considerada, seria necessário haver uma convergência quase obrigatória em termos de condições macroeconômicas, incluindo níveis de dívida, déficits e modelos cambiais (como a livre conversibilidade das moedas). Nesse caso, as condições macroeconômicas dos países-membros do bloco (e dos novos convidados) são extremamente díspares.
Sendo assim, o Brics deve concentrar esforços na promoção do crescimento de seus países-membros. Só assim valerá a pena investir algum tempo da nossa diplomacia, enfatiza o conselho da FecomercioSP. O grande perigo é que o grupo se fortaleça como um bloco antagônico em relação aos EUA e ao mundo ocidental. Não há vantagem para o Brasil em adotar essa postura. Portanto, a diplomacia nacional deve rejeitar essa possibilidade de forma clara.