O novo Congresso tem um aparente perfil conservador, mas apresenta traços progressistas. Apesar da alta fragmentação partidária, em função da legislação eleitoral mais restritiva, o número de legendas na Câmara caiu de 30 para 19. O volume tende a diminuir nos próximos meses já que estão em negociação fusões e federações. A nova legislatura terá maior representatividade de mulheres, deputadas trans, negras e indígenas. PB apresenta a seguir o perfil de alguns parlamentares que representam as várias facetas do plenário.
De terno na Câmara Municipal de Belo Horizonte (MG), o agora deputado federal Nikolas Ferreira (PL/MG), de 26 anos, anunciava em fevereiro pelas redes sociais: “Começou. Esse ano é guerra”, escreveu na legenda de uma foto. No dia 2 de outubro, com uma camiseta verde e amarela, oficializou: “O deputado federal mais votado da história de Minas é cristão e conservador”. Entre uma publicação e outra, oito meses se passaram. Nesse período, Nikolas conquistou uma legião de seguidores alinhados à direita. O então vereador de Belo Horizonte totalizou 1.492.047 votos – o parlamentar mais votado do País.
Entre autoria e coautoria, assina 13 projetos de lei que vão da prioridade da matrícula de irmão na mesma escola da rede municipal a um projeto de lei que proíbe o ensino da linguagem neutra no aprendizado da língua portuguesa.
– Reeleita para o sétimo mandato
– Deputada mais idosa da Câmara, com 87 anos
– Cargos exercidos: secretária de Educação de Campina Grande (PB), vereadora, deputada estadual e a primeira mulher a se prefeita de São Paulo, entre 1989 e 1992
– Tem mais de 80 projetos em defesa das mulheres, gestantes, crianças e adolescentes e dos direitos humanos
– Em 2023, assume o nono mandato consecutivo como deputado federal, aos 72 anos
– Ocupou o primeiro cargo em 1978 quando se elegeu deputado estadual pela Arena, que apoiava a ditadura militar
Tardia, mas histórica. Essa é a avaliação da deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP) sobre a sua candidatura. “Estamos nos mobilizando para construir novas narrativas. Sem nós, a política não pode existir.” A nova configuração da Câmara terá as duas primeiras deputadas trans da história. Além de Érika, Duda Salabert (PDT-MG).
Nascida em uma família evangélica em Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo, Duda foi criada pela mãe e pela avó. Aos 15 anos, foi expulsa de casa e passou a morar nas ruas. Tempos depois, retomou os estudos e se formou em pedagogia. Na faculdade, integrou o movimento estudantil.
Enquanto vereadora, presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de São Paulo. Eleita com 256.903 votos, quer atuar para combater a fome, o desemprego e as mudanças climáticas. “O mundo nunca foi um lugar acolhedor para nós, mas não podemos deixar sequestrarem nosso poder.”
Sônia Guajajara (Psol-SP), de 48 anos, é uma das cinco pessoas indígenas eleitas para a Câmara dos Deputados. A vitória conquistada com 156.966 votos representa para ela a continuidade do trabalho como liderança indígena. “Fui eleita por um desejo coletivo”, afirma.
Pertencente ao povo Guajajara/Tentehar, nasceu na Terra Indígena Araribóia, em Campo Formoso, no Maranhão. A parlamentar se engajou a luta territorial aos 27 anos, quando participou da Primeira Conferência Pós-Marcha dos 500 anos, em Brasília. Se formou em Letras e em Enfermagem, fez pós-graduação em Educação Especial, foi coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e integrante do Conselho da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais do Brasil. Em 2018, foi candidata à vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos (Psol).
“Nossa principal causa é o meio ambiente, a mãe terra, provocar mudança de consciência dentro e fora do Congresso.”
– Entrou na lista das 100 pessoas mais influentes da revista Time
– Já fez dezenas de denúncias na Organização das Nações Unidas (ONU), no Parlamento Europeu e nas Conferências Mundiais do Clima (COP)
– Viajou mais de 30 países do mundo na defesa de seus ideais
Apesar de ter apenas 21 anos, o sergipano Ícaro de Valmir (PL) respira política em família. Estudante de Direito e proprietário de uma TV local, foi eleito com 75.912 votos. É filho de Valmir de Francisquinho, que já foi cinco vezes vereador e duas vezes prefeito em Itabaiana (SE), e teve a candidatura a governador indeferida pela Justiça Eleitoral. Ícaro diz que disputou a eleição contra o que chamou de injustiças contra o pai e o irmão, que teve o mandato de deputado estadual cassado.
“Beba água”, dizia o então candidato Amom Mandel (Cidadania) na propaganda eleitoral. Aos 21 anos, se elegeu como deputado mais votado do Amazonas com 288 mil votos. Vereador em Manaus, empresário e ativista social tem como principal bandeira a sustentabilidade e o cuidado aos povos indígenas.
A representação feminina na Câmara de Deputados aumentou de 77 para 91 parlamentares, passando de 15% para 18%. A mais jovem deputada federal eleita é a vereadora em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, Camila Jara (PT), de 27 anos. O gosto pela política vem, segundo ela, do legado deixado pela avó Narciza, que criou um clube de mães solo no bairro em que vivia na capital. Além disso, é filha da professora Edna Bazachi e do jornalista Gerson Jara, que se conheceram em um protesto em Brasília.- Formada em Ciências Sociais na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
– Estagiou na Câmara dos Deputados e militou no Elas Podem, movimento que incentiva a participação de mulheres em debates sociais
– Única mulher vereadora em Campo Grande em 2020
Longe da política desde o término do mandato do e ex-deputado Sarney Filho (PV), em 2018, o sobrenome Sarney está de volta ao Congresso. Filha do ex-presidente José Sarney (MDB), a ex-governadora Roseana Sarney (MDB/MA) foi eleita deputada. No próximo ano, retornam à Câmara dos Deputados, além de Roseana, mais 16 parlamentares que tiveram mandatos em outras legislaturas, o menor número dos últimos 24 anos.
Uma das maiores operações de combate à corrupção da história do país, a Lava Jato ajudou a eleger o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos) a deputado federal. Candidato mais votado ao cargo no Paraná com 340 mil votos, ele esteve seis anos que à frente da ofensiva contra políticos e empresários. O agora parlamentar foi condenado pela Justiça Federal do Paraná por vídeos publicados com críticas ao Supremo Tribunal Federal e à campanha de Lula. Em um deles, se referiu à Corte como “casa da mãe Joana”. Dallagnol afirma que fará oposição ao governo eleito, defendendo o “cumprimento da lei e de políticas públicas com base em evidências e valores cristãos”.
Em uma eleição em que política e religião se misturaram, o pastor Henrique Vieira (Psol), eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, garante que vai se empenhar para “desarmar a bomba do fundamentalismo religioso” no Congresso. Por isso, não tem planos de atuar na bancada evangélica. Vieira defende que é preciso enfrentar o “fanatismo” sem eliminar a religiosidade. Pastor na Igreja Batista do Caminho, ele acredita que a composição de uma Frente Parlamentar Evangélica sugere algum grau de corporativismo religioso. Suas pautas são ligadas à educação e saúde pública, luta antirracista e demarcação de terras indígenas. Além de pretender trabalhar para revogar as reformas econômicas que tiveram início no governo de Michel Temer (MDB) e para formular propostas para regulamentar os meios de comunicação, limitando o poder das igrejas evangélicas na televisão. Vereador de Niterói entre os anos de 2011 e 2012, Vieira é escritor, ator e professor de História.
O número de candidatos militares e de forças de segurança que concorreram aos cargos de deputados estaduais e federais cresceu 92,89% nos últimos 20 anos, segundo um estudo do instituto República.org, a partir de dados do TSE. O tenente coronel Zucco (Republicanos) é um deles.
– Eleito com 259.023 votos, o mais votado do Rio Grande do Sul
– Foi Deputado Estadual, eleito em 2018
– Graduado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulha Negras
– Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), participou ativamente da campanha à reeleição
– Principais bandeiras: escolas cívico-militares, facilidade o acesso da população às armas, política de atenção ao câncer infantil e reformas estruturais