Em pouco menos de seis meses, acontece o primeiro turno das eleições gerais de 2022, em 2 de outubro. Assim como na disputa de 2018, a expectativa é de polarização e do uso massivo das redes sociais como formas de alcançar os eleitores.
Mas, diferentemente do que se viu naquele ano, desta vez, o Brasil enfrenta uma economia fragilizada – situação agravada pela pandemia e, mais recentemente, pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Para os jovens, o cenário é ainda pior. Historicamente, são eles os que mais sofrem com um dos principais efeitos colaterais do baixo crescimento econômico – a falta de oportunidade no mercado de trabalho. Dados divulgados em março, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostram que o desemprego chega a 22,8% nessa parte da população.
Apesar de o momento ser difícil, o interesse dos jovens pelas eleições vem se mostrando acanhado em 2022. O Tribunal Superior Eleitoral tem em seu calendário, desde 2015, a Semana do Jovem Eleitor. Neste ano, no entanto, as adesões ao título de eleitor deram um novo contorno à campanha, que se intensificou nas redes sociais por meio de uma série de ações.
Paralelamente à campanha do TSE, artistas, como Anitta e Zeca Pagodinho, usaram suas contas para mandar recados aos adolescentes que ainda não estão habilitados a participar das eleições. No Lollapalooza, um dos principais festivais de música do País, nomes como Emicida, Marina Sena e Jão aproveitaram o palco para falar da importância do título.
Dados do TSE mostram que, desde 2012, quando o voto passou a ser facultativo para quem tem 16 e 17 anos, a adesão ao título nunca foi tão baixa, como mostram os números a seguir:
Projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o Brasil tem 6.131.971 jovens entre 16 e 17 anos. Ao incluir a população com 18 anos completos, chega-se a um total de 9.224.473 adolescentes. Até 29 de março, segundo o TSE, 854.685 pessoas com idade entre 16 e 18 anos tiraram o título de eleitor – ou seja, 9,17% do universo total.
De 2012 até agora (lembrando que o prazo final para a inscrição no TSE vai até 4 de maio), 2018 foi o ano de eleição presidencial com maior adesão de jovens com idade entre 16 e 18 anos cadastrados para o primeiro voto, num total de 2.515.536 novos eleitores. Se não houver uma corrida aos cartórios ou ao site do Tribunal nesta reta final, os números de 2022 ficarão bem abaixo da média registrada na última década.
No entanto, quando se compara os números deste ano com os do pleito municipal de 2020, o cenário é mais otimista. As adesões feitas até agora representam 62,1% do que foi contabilizado no último ano, quando foram eleitos prefeitos e vereadores.
Na avaliação de Carolina Botelho Marinho da Cunha Hecksher, professora e pesquisadora ligada ao Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública/IESP/UERJ, a pandemia pode ter um peso importante no comportamento dos jovens em relação ao tema da política. Isso, porque o coronavírus restringiu o convívio social, limitando as conversas sobre diferentes temas, inclusive sobre as eleições. No entanto, a estudiosa ressalta que ainda é cedo para apontar que haja desinteresse pelo pleito de outubro. “Pode ser falta de informação, acompanhada de algum desalento político ou angústia momentânea, diante do quadro institucional político vivido nos últimos anos”, analisa Carolina.
Como consequência deste quadro, a pesquisadora acredita que campanhas, como a realizada pelo TSE, e o movimento de artistas para incentivar a obtenção do título podem ter um papel central no estímulo ao debate sobre a política e as eleições de 2022. “São iniciativas que ajudam a lembrar sobre a responsabilidade da escolha”.
Cientista político e coordenador do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudio Couto lembra que, historicamente, a participação dos jovens nas eleições é baixa, o que acontece, segundo o especialista, pela falta de maturidade para entender o seu papel na política.
“Às vezes, o jovem demora para considerar que a participação política vale a pena. Como o voto não é obrigatório até os 18 anos, ele deixa para depois”, explica. Outra questão importante, segundo Couto, é o fato de essa parte da população estar inserida em um contexto social em que as pessoas não têm muito interesse em falar sobre política. “Parece um assunto árido, desagradável, por isso, muitos acabam seguindo a mesma toada dos pais e dos conhecidos”.
Tanto Carolina como Couto acreditam que parte do desinteresse dos jovens pelas eleições tem a ver com a forma como veem o atual governo. Pesquisa do PoderData, divulgada em 31 de março, mostra que a população entre 16 e 24 anos tem a visão mais pessimista do trabalho do presidente Jair Bolsonaro (PL). Para 56% dos entrevistados, a avaliação é ruim ou péssima. Também é nesta faixa etária a maior desaprovação, que chega a 67%.
“Este é um governo muito rejeitado entre os jovens, o que contribui para que mais gente não se sinta motivado a votar”, avalia Couto. O cientista político não acredita que seja possível comparar o atual nível de engajamento dos jovens com o que se viu em outros momentos históricos, como na época das Diretas Já e do Fora, Collor. Couto lembra que foram períodos marcados pela redemocratização do País, muito diferente das causas defendidas hoje, assim como as formas de mobilização – hoje, articuladas principalmente por meio das redes sociais, que, não por caso, foram os meios escolhidos pelo TSE para capturar o interesse dos adolescentes.