Gastos públicos, ambiente de negócios, burocracia, desigualdades, educação política, inovação, transformação digital, desenvolvimento sustentável, corrupção e democracia, entre outros. São muitos os temas discutidos pela plataforma UM BRASIL em suas centenas de entrevistas e debates realizados ao longo dos últimos dez anos.
Para registrar uma década de análise da realidade brasileira, o Canal UM BRASIL, uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), está lançando uma publicação especial com 700 frases que traduzem o País.
Dividido em capítulos de economia, poder e sociedade, o livro reúne declarações — extraídas de entrevistas e debates do canal — que auxiliam a compreensão da complexa conjuntura nacional e apontam caminhos para uma nação mais moderna em todos os aspectos. Uma quarta seção, In memorian, homenageia os entrevistados já falecidos. Ladeando as frases, charges de profissionais reconhecidos, como os cartunistas Adão Iturrusgarai, Benett, Caco Galhardo e Jean Galvão, selecionadas para dar leveza e humor aos temas tratados.
A última década retrata um período turbulento da política e da economia brasileiras, com desafios, tentativas e erros — mas também com as pistas para que o País alcance, enfim, o grande potencial de crescimento.
O presidente da FecomercioSP, Abram Szajman, lembra que a publicação reúne declarações que conformam os problemas e caminhos viáveis a um desenvolvimento sustentável. “São avaliações formuladas por especialistas sobre as complexas conjunturas que marcam a história brasileira”, escreve.
O capítulo Economia evidencia as limitações estruturais que carregamos há gerações. Por outro lado, revela as potencialidades do Brasil em meio a uma história de desigualdades, destacando que o empreendedorismo e a inovação abrem horizontes de alternativas.
O ambiente de constante turbulência vivido pelo País, nas últimas décadas, é resumido pelo escritor e administrador Max Gehringer, em tom tragicômico: “O Brasil é um país que tem momentos de estabilidade entre crises, e não crises entre momentos de estabilidade”. Já o economista Gustavo Franco não tem receio de pôr o dedo na ferida ao falar de privilégios: “Por que um parlamentar se aposenta com oito anos de função? Tudo o que é privilégio é imposto. É igual ao imposto. Temos horror ao imposto, mas não temos horror aos privilégios”.
O Plano Real, que acaba de completar 30 anos, é lembrado em frases de Fernando Henrique Cardoso, Rubens Ricupero, Maílson da Nóbrega e Persio Arida, que lembra da complexidade para a criação e o lançamento da então nova moeda. “As pessoas acham que, para um plano de estabilização funcionar, basta uma ideia. É um equívoco monumental. O plano de estabilização, antes de mais nada, é uma obra de engenharia política. É necessário convencer, além das leis aprovadas e apoio da população e do Congresso. É uma engenharia política complicada”, comenta o ex-presidente do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
No capítulo dedicado ao tema Poder, a publicação aponta como o Brasil se acostumou ao desequilíbrio entre os poderes e, constantemente, experimenta crises e renovações. Em contrapartida, os esforços para conciliar divergências ainda persistem — na esperança de uma agenda capaz de reformar a Nação.
No subtema Reformas e Renovação Política, o escritor Mario Vargas Llosa ressalta a importância da presença política, sobretudo dos mais idealistas, para o fortalecimento da democracia. “Sem uma participação ativa e sem a política captando os melhores, os elementos mais idealistas da sociedade, a democracia está condenada ao fracasso.” Na mesma seara, o filósofo Eduardo Giannetti chama a atenção para a desconexão entre Brasília e Brasil. “O Estado brasileiro está onde não deveria e não está onde deveria. Precisamos de menos Brasília e mais Brasil”, alerta o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL).
O lamento sobre a polarização política que enfrentamos vem nas palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “A democracia exige temperança, a capacidade de ouvir o outro, de haver diversidade. Infelizmente, estamos numa situação de muita agressividade. Se o País vai a pique, todos nós vamos a pique”.
A Constituição, promulgada há 35 anos, é comentada por nomes como Ives Gandra Martins, Carlos Ayres Britto, Mary Del Priore, Gustavo Loyola e Edson Fachin, que alerta: “Não basta uma Constituição do ponto de vista formal, é necessário que o povo brasileiro se sinta pertencente a ela”.
Já em Sociedade, a publicação analisa como o Brasil, em franca transformação, se empenhou na busca por uma identidade mais plural, confrontando visões socioambientais e econômicas. Nesse cenário, por um país mais justo, ganham protagonismo pautas como a dos direitos humanos e a da responsabilidade empresarial.
A Identidade é um dos subtemas do capítulo, contando com declarações duras como a do professor e filósofo Clóvis de Barros Filho, para quem “a violência entre as pessoas é, sem dúvida nenhuma, o primeiro traço identitário que costuma ser mencionado no mundo sobre o Brasil”. Contudo, há análises mais otimistas, como a do autor e pesquisador inglês John Howkins, que enaltece que “o Brasil carrega mais do que o próprio peso no quesito criatividade”, em alusão à rica diversidade cultural nacional.
A complexidade da nossa sociedade é resumida pela professora e influenciadora Rita von Hunty, com boa dose de humor. “O Brasil é o país do carnaval. Nenhum país do carnaval pode se pleitear cristão, conservador e heterossexual, monogâmico e tradicionalista. Isso é uma contradição.” A famigerada sentença de que o Brasil é o país do futuro é analisada pelo economista Roberto Macedo, que o compara com a Argentina e afirma que a diferença entre ambos é que “lá, eles sonham com um passado que não volta. E o Brasil, com o futuro que não chega”.
No subtema Desigualdade, o questionamento vem do empresário, produtor artístico e ativista Preto Zezé: “Onde está uma pessoa negra em uma sociedade dividida em classes?”. E é o próprio presidente da Central Única das Favelas (CUFA) quem responde, afirmando que “sempre em um lugar subalterno”. Valéria Café, diretora-geral do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), associa diversidade à inovação, ao ressaltar que “não dá para fazer coisas diferentes ou entregar projetos, produtos e serviços diferentes sempre com as mesmas pessoas”.
No universo corporativo, o publicitário e administrador de empresas Walter Longo enaltece as oportunidades geradas pelo mundo digital, que “escancarou as portas para as empresas pequenas, dando a elas todas as vantagens de ser pequenas, como flexibilidade e adaptabilidade, e, ao mesmo tempo, todas as vantagens de empresas grandes, como alcance e acesso a clientes de qualquer lugar do mundo”.
A pandemia da covid-19 — que marcou a história recente do Brasil e do mundo — é abordada por entrevistados como Richard Horton, Ricardo Abramovay, Laura Yawanawá, Mario Sergio Cortella, Laiz Carvalho e Luiz Felipe Pondé. Já o médico Drauzio Varella aborda a questão das fake news espalhadas no período. “A única forma de combater a ignorância é pelo conhecimento.” O também médico Gonzalo Vecina Neto reforça a necessidade da troca, lembrando que “sem diálogo, não há como resolver problemas complexos. É preciso negociar, ceder, aceitar, dividir”. Para fechar, a biomédica Jaqueline Goes enaltece o papel das mulheres no combate à doença. “O sequenciamento genético do coronavírus no Brasil [realizado em 48 horas] foi conduzido por uma equipe de mulheres e gerou evidência de que uma ciência feita por elas é também muito efetiva.”
O Canal UM BRASIL é uma realização da FecomercioSP. Por meio da plataforma, a Entidade excede os debates relativos ao campo laboral e discute os rumos do País, além de seus problemas e suas soluções. Composta por entrevistas, debates e documentários com nomes dos meios acadêmico, intelectual e empresarial, exprime o empenho da Federação ao antecipar os urgentes avanços sociais e econômicos nacionais.