A telemedicina e a telessaúde se consolidaram no Brasil ao longo de dois anos de pandemia. Empresas privadas registram aumento da demanda e, na saúde pública, iniciativas como o Alô Saúde Floripa, em Florianópolis, e o Saúde Simples, em Cotia, na Grande São Paulo, apresentam resultados positivos.
Quando a pandemia do coronavírus foi anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 11 de março de 2020, havia, entre pacientes, médicos e demais profissionais da saúde, pouca aceitação e incertezas sobre a efetividade do atendimento on-line. Passados dois anos, a telemedicina e a teleconsulta se consolidaram no Brasil, tanto na saúde pública como na privada.
O exemplo mais recente do impacto positivo do consultório virtual foi visto nas primeiras semanas de 2022, momento em que o País amargou um pico de casos associados à variante ômicron e ao surto de Influenza A (variante H3N2). Levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital, conhecida como Saúde Digital Brasil (SDB), aponta que os atendimentos por telemedicina para casos de Influenza e covid-19 entre os associados saltaram de sete mil para 15 mil entre o Natal e o Ano Novo, e para 50 mil na primeira semana de janeiro. A SDB representa 90% do mercado privado brasileiro de telessaúde.
Entre as empresas que quantificaram o crescimento está a TopMed, pioneira no País, com 16 anos de atuação em saúde digital. A procura por consultas mais que triplicou em janeiro de 2022, em relação ao mesmo mês do ano passado, saltando de 1.055 para 3.655. De acordo com outra empresa do setor, o Grupo Conexa, as duas primeiras semanas do ano apresentaram aumento, respectivamente, de 211% e 445% nos atendimentos on-line, em relação ao mesmo período de 2021.
Renata Zobaran, diretora de Telemedicina e Saúde Digital da TopMed, observa que a área de healthtechs cresceu muito com a pandemia, com muitas empresas surgindo e ampliando sua atuação. “Temos hoje avaliações complementares via aplicativo, com a tecnologia que aponta diversos dados do usuário pela leitura facial, como verificação de pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e saturação. Vejo um avanço enorme ainda pelos próximos anos na telessaúde.”
A proposta com a telemedicina é oferecer o primeiro atendimento ao paciente e, com isso, encaminhar para o presencial apenas os casos realmente necessários. Na prática, explica Renata, um profissional preparado e amparado por uma plataforma tecnológica robusta pode resolver on-line o problema do paciente com a mesma qualidade do atendimento presencial. “Passamos a enxergar a tecnologia como aliada para ampliar o acesso à saúde em um país tão grande e desigual como o Brasil”, comenta ela.
De acordo com Caio Soares, presidente da Saúde Digital Brasil, os sistemas de saúde público e privado estão sobrecarregados, especialmente os que prestam primeiro atendimento. Por isso, “a telemedicina continua sendo uma alternativa viável e segura para desafogar as filas nos postos de saúde, nos ambientes de pronto-atendimento e nos hospitais, evitando assim dificuldade de atendimento ainda maiores para os pacientes”, defende Soares.
Na telemedicina, as etapas de uma consulta são muito parecidas com as dos atendimentos presenciais, respeitando algumas limitações, detalha Gabriel Garcez, diretor médico da Conexa: “O médico confirmará a identidade do paciente, coletará dados para a tradicional anamnese – ou seja, ouvirá queixas, entenderá o que está se passando – e, posteriormente, poderá solicitar a realização de algumas manobras que simulem o exame físico. Por fim, fechará a hipótese diagnóstica, ofertando orientações, prescrevendo medicamentos, solicitando exames e emitindo documentos com assinatura digital, bem como determinando a data de retorno.”
O impacto positivo da telemedicina também é observado na saúde pública. Na capital catarinense, Florianópolis, a Secretaria Municipal de Saúde e a TopMed implantaram o Alô Saúde Floripa, que serve de referência para cidades de todas as regiões do Brasil. Ainda em 2021, o serviço já havia ultrapassado a marca de 500 mil usuários ativos. Levantamento do Alô Saúde Floripa aponta que sete entre dez pessoas que pretendiam procurar serviços presenciais de emergência tiveram seu caso resolvido na triagem do atendimento telefônico, sem precisar correr o risco de contágio de covid-19 e de outras doenças em hospitais e prontos-socorros. Além disso, 96,9% dos usuários disseram ter melhora total ou parcial dos sintomas depois da orientação do profissional do Alô Saúde Floripa; 89% seguiram as orientações fornecidas; e 92% indicariam o programa para amigos e familiares.
Outro registro importante é do município de Cotia, em São Paulo. Assim como Florianópolis, logo após a sanção da Lei Nº 13.989/20, que autorizou a prática da telemedicina no País, em razão da pandemia, os mais de 249 mil moradores da cidade podem contar com o serviço para consultas, diagnósticos e monitoramentos a distância. Até dezembro de 2021, foram realizados 55.841 teleatendimentos. Cotia utiliza o sistema Saúde Simples, que inclui oftalmologista, cirurgião vascular, otorrinolaringologista, neurologista, endocrinologista e metabologista, dermatologista, reumatologista e pneumologista.