Com o objetivo de facilitar a abertura de negócios e promover o crescimento de empreendedores da periferia de São Paulo, o programa Aceleração Vai Tec, promovido pela prefeitura, chega à sétima edição. A iniciativa oferece apoio educativo e financeiro de mais 39 mil reais para jovens empresários.
Segundo dados da pesquisa Perfil dos Empreendedores de Impacto no Brasil: o desafio das desigualdades territoriais, conduzida pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com apoio da Fundação Arymax, os negócios de impacto na periferia do Brasil têm uma escala de repercussão relevante na sociedade, beneficiando grupos desfavorecidos, principalmente famílias de baixa renda.
“Um dos aspectos mais importantes do empreendedorismo periférico é utilizar a própria vivência para resolver problemas que são particulares da região. O mercado consumidor para este tipo de negócio é enorme; estudos indicam que apenas os moradores de favelas do Brasil movimentam, por ano, quase R$ 120 bilhões”, conta Aline Cardoso, secretária de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo da Prefeitura de São Paulo.
Mesmo trazendo resultados positivos, os empreendedores da periferia ainda sofrem com a desigualdade. A pesquisa, feita entre setembro de 2020 e 2021, aponta que, fora da periferia, o capital inicial para abrir um negócio é 37 vezes maior do que nas regiões abastadas. Como consequência, as receitas dos negócios nestas áreas são muito maiores (21 vezes), assim como sua escala de atuação (15 vezes). A falta de apoio do Estado, das empresas e do terceiro setor resulta na escassez de estabilidade e crescimento desses empreendedores.
Diante deste cenário, o programa Aceleração Vai Tec surgiu com o objetivo de superar os desafios de acesso ao conhecimento entre jovens que moram na periferia. A ideia é promover melhores condições de vida para pessoas que moram e trabalham nestas regiões, onde o acesso a informação, equipamentos e redes é mais demorado. “Para tentarmos minimizar esta desigualdade, foi criado um programa para apoiar estes jovens empreendedores”, reforça Ary Scapin, gerente de projetos do Ade Sampa (Agência São Paulo de Desenvolvimento), órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo e responsável pela iniciativa.
Desde 2015, o programa já transformou a vida de mais de 200 projetos. As primeiras edições eram voltadas apenas para o suporte financeiro. Contudo, a partir da terceira edição, a iniciativa passou por melhorias e foi expandida, passando a contemplar realização de oficinas, mentorias, assessorias e encontros com empreendedores periféricos.
“Fazemos com que as empresas se posicionem melhor, tornando-se mais competitivas. Dessa forma, elas conseguem reivindicar seus direitos participando de novas acelerações, sendo vistas por investidores, que incentivam financeiramente seus projetos”, defende Scapin.
Foi assim que a 4Way se concretizou no mercado e conseguiu seu espaço. Criada em 2017, a empresa é mais do que uma escola de idiomas tradicional, é também um negócio de impacto social: a cada três alunos pagantes, uma bolsa gratuita é concedida para jovens vindos de comunidades e da periferia.
O projeto de línguas recebeu aporte a partir de uma crise financeira, que ameaçava o fechamento de suas portas. “Sabíamos que era um programa que nos auxiliaria e ajudaria em nosso desenvolvimento, para atingirmos um novo estágio”, relembra Diogo Bezerra da Silva, fundador da 4Way. Ele conta que, desde muito novo, tinha o sonho de ajudar os jovens da periferia, dando a oportunidade para que aprendessem inglês e mudassem de vida.
A aceleração viabilizada pela prefeitura facilitou a conexão das empresas com outros empreendedores da “quebrada”, que ajudaram Diego a acreditar no próprio projeto. Segundo o fundador, foi com o Ade Sampa que ele conseguiu enxergar como seu empreendimento trazia impacto e gerava renda para a região. “Pudemos formar pessoas de modo mais dinâmico, criamos produtos, investimos no capital de giro e aumentamos nossas iniciativas de ensino.”
O projeto DedoVerde participou da terceira edição do programa. A iniciativa tem como objetivo educar pessoas para preservar o planeta. Sua sede é considerada o primeiro Centro de Educação Ambiental na periferia da Zona Sul de São Paulo, recebendo grupos de escolas, ONGS e empresas, que aprendem sobre a importância da preservação ambiental.
Lançado em 2012, o DedoVerde luta para que a periferia tenha acesso a alimentos orgânicos e de qualidade. “O objetivo é inspirar as pessoas a produzirem o próprio alimento, em vaso, ocupando espaços ociosos, resgatando e valorizando o conhecimento ancestral de ir para o mato colher seu alimento”, conceitua Renato Rocha, um dos fundadores.
Até agora, eles já coletaram 25 mil litros de óleo de fritura usado, deixando de poluir 500 milhões de litros de água potável. Além de gerenciar mais de 30 ações socioambientais em escolas e ONGs, com a ajuda de voluntários de empresas, fundações e institutos, impactando diretamente mais de dez mil pessoas na periferia.
O Projeto Mulheres, umas das ramificações do DedoVerde, produz sabão a partir de óleo usado. Com a entrada no Vai Tec, foi possível ampliar sua área de atuação, inovar com produtos diferenciados e apresentar novas ferramentas de trabalho para os colaboradores da iniciativa, descreve Rocha: “Conseguimos aperfeiçoar algumas técnicas e adquirir mais ferramentas para melhorar os processos administrativos e financeiros. Foi um grande aprendizado, que levamos até hoje.”
Todas participantes da terceira edição do Vai Tec, cada uma das empresas recebeu um aporte de R$ 32 mil. O valor do subsídio disponibilizado este ano será de até R$ 35.700 para as ideias selecionadas.
Para Aline Cardoso, a grande vantagem é que “estes projetos podem não só impulsionar a economia local, promovendo a empregabilidade e a comercialização em sua região, como até mesmo se tornar referência para outras iniciativas e empreendedores em início de carreira.” Ela detalha que o processo de aceleração do Vai Tec se dá em etapas, consideradas fundamentais para entender e assessorar as propostas de acordo com a necessidade de cada um.
Primeiro, é analisado o estágio de maturidade e a viabilidade de cada iniciativa apresentada. Nesta fase, o empreendedor precisa ter em mente qual tipo de iniciativa deseja executar. Com o apoio da equipe da Ade Sampa, ele poderá estruturar melhor a sua ideia.
A etapa seguinte é a da aceleração propriamente dita, em que os empreendedores recebem as mentorias e assessorias especializadas, quando a ideia sai do papel e passa a alavancar os negócios na prática. Só depois disso é que que vem, por fim, a construção de uma rede de comunicação entre os empresários de impacto social. “Rede é sempre fundamental, pois é onde você pode comparar formas de pensar, conseguir apoio de pessoas com as quais mais tem identificação e criar um ambiente favorável para receber e doar informações”, diz Ary Scapin.
Ficou interessado? Saiba mais clicando aqui. A publicação dos 24 projetos selecionados em 2022, cujas inscrições foram de 15 de janeiro a 6 de março, será no dia 6 de maio.