A meditação ajuda a melhorar a saúde física e mental, reduz o nível de estresse, aumenta a criatividade, a concentração e o autoconhecimento. Adeptos apontam esses entre os seus principais benefícios, que não requer uso de equipamentos específicos e pode ser praticada por qualquer pessoa.
Segundo o monge budista Hui-Li, que atua no Templo Zulai e ministra cursos de meditação zen-budista, a única condição essencial para que aconteça é o próprio desejo de fazê-lo. “Um ambiente silencioso é desejável, mas não absolutamente indispensável; algumas pessoas conseguem meditar ao varrer a casa, ao passear no parque, porque tudo ocorre dentro da mente.”
Embora o ato em si não exija nenhum conhecimento técnico, os praticantes são unânimes em afirmar que é importante ter um guia para as primeiras sessões, seja um mestre, professor ou até um aplicativo para celular. “Não teria conseguido se não fosse pela orientação da professora, pois é difícil atingir sozinha o controle da respiração”, diz a empresária do ramo imobiliário Marianne Miraglia, que medita há 13 anos. “No início eu chegava a cinco minutos, mas hoje já consigo meditar por até 20 minutos.”
Para explicar como funciona o processo de começar a meditar, o monge Hui-Li busca uma analogia usada nos ensinamentos do zen-budismo: “Nossa mente é como um macaco selvagem. Se colocamos nele uma coleira e o amarramos a uma árvore, ele vai se debater, tentará roer a corda para se livrar. Para que fique quieto, é preciso acalmá-lo. Assim funciona conosco também. Nossa mente nunca se concentra no ‘agora’. Permanece constantemente pulando. Ou está no passado, remoendo acontecimentos, ou no futuro, tentando planejar os atos seguintes. Para meditar, é preciso mantê-la no momento presente”. De acordo com o monge, meditar não significa “esvaziar” a cabeça. “É um clichê quando se trata do tema. A maioria chega aos cursos de meditação achando que precisa se livrar de todos os pensamentos e desiste rapidamente por não conseguir. Isso nem é possível, pois pensamos em alguma coisa o tempo todo. Para meditar, precisamos é organizar a mente.”
Quem deseja atingir o estado meditativo e aproveitar seus benefícios precisa, no entanto, ser perseverante, pois o início pode ser frustrante. “Esperar resultados imediatos é como ir à academia um dia apenas, chegar em casa e já ficar procurando músculos definidos”, compara Hui-Li. Marianne, que conta quase ter desistido, concorda: “Comecei a meditar por recomendação de um psiquiatra, por sofrer de síndrome do pânico. Vencer aquela agitação intensa, descontrolada, que me tomava corpo e espírito, não foi nada fácil, mas à medida que insistia e avançava na meditação, fui conseguindo aumentar meu nível de autoconhecimento e serenidade; hoje sou capaz de enxergar melhor a mim, o mundo ao redor e as outras pessoas. Aprendi a viver o ‘agora’ plenamente.”
Hui-Li explica que se alguém alcançar esse nível – o de incorporar uma maior percepção sobre si mesmo e os demais por meio da meditação –, terá chegado a um patamar considerado avançado. “Se não deixo a raiva do outro me atingir, troco o sentimento de revanchismo pela compaixão. Quando alguém me dirige insultos, faço como Buda: não aceito, pois sei que aquilo não é comigo. Entendo que há algo errado com aquela pessoa e preciso ajudá-la.”
Contrariando a orientação geral, porém, o médico Jean Rafael decidiu começar a meditar há nove anos tendo como objetivo justamente atingir esse estágio superior. “Entendo que minha missão é melhorar a mim mesmo, o próximo e o planeta”, diz. Cirurgião especializado em traumas, ele trabalha no Hospital de Emergência Dr. Daniel Houly, de Arapiraca (AL), que tem recebido doentes do covid-19.
O médico se especializou em ensinar outros profissionais de saúde a meditar, para aliviar o estresse, e organiza pequenos cursos no hospital para os colegas. Fora da pandemia, oferece seus conhecimentos em palestras direcionadas ao mundo corporativo. “Com formação cartesiana, meu negócio era abrir barriga, costurar fígado, mas muitos questionamentos me tiravam o sono, como pacientes que não respondiam ao tratamento, então busquei a meditação como forma de ser um ser humano melhor, ter mais empatia”, afirma. “Ao estudar o assunto descobri que a meditação promove transformações admiráveis na anatomia do cérebro. Hoje sou um entusiasta. Acho que todos deveriam meditar. É uma prática barata e pode ser feita em qualquer lugar. Não é necessário ir até uma montanha do Tibete para meditar. Eu medito quando tenho chance, às vezes até entre um atendimento e outro, no hospital. Os benefícios daqueles poucos minutos se estendem pelo dia todo.”
O engenheiro Alexandre Lunardelli, sócio da Academia de Mindfullness, instituição particular que oferece cursos e treinamentos na área, tem notado aumento de cerca de 20% ao ano na procura pelos cursos de meditação, desde 2012, quando começou a atuar na área.
“Nesse momento de pandemia, evidentemente, tudo caiu, mas já ministramos 90 cursos desde que começamos e a maioria foi nos dois últimos anos”, afirma. Ele atribui o crescimento ao aumento do estresse na vida das pessoas e ao fato de a meditação não exigir comprometimento com nenhuma religião. A quem deseja começar a meditar ele aconselha procurar uma orientação, ainda que seja via aplicativo para celular. “Não há jeito certo ou errado de meditar e também não é necessário estabelecer metas (como ‘quero meditar 40 minutos hoje’), então, a prática pode ser algo leve, que a pessoa inclui na rotina diária de maneira orgânica, e vai tomando gosto”, diz. “Realmente clareia a mente e a vida flui melhor quando adquirimos esse hábito.”
A sócia-fundadora do Centro de Promoção de Mindfullness, Vivian Vargas, compartilha a percepção de que houve aumento na procura pela meditação nos últimos anos. Na instituição que comanda desde 2014, ela contabiliza o desenvolvimento de 400 programas, formação de 600 profissionais e passagem de 7 mil alunos pelos cursos, workshops e palestras. “Tenho notado uma mudança no perfil do público que nos procura. Antigamente só vinham pessoas iniciadas, hoje recebemos muita gente que vem por indicação de profissionais do ramo de saúde e também leigos que leram ou ouviram falar dos benefícios da meditação.”
A instituição desenvolveu cursos específicos de meditação para o período de quarentena, ministrados online. “No contexto da pandemia, o programa Gerenciamento Emocional procura focar no tempo presente, pois nunca foi tão difícil prever o futuro quanto nesse momento da história da humanidade.”
Preferencialmente sentado, com os olhos fechados e em um lugar calmo, comece a controlar a respiração, assim: inspire, conte até um, expire. Inspire novamente, conte até dois, solte o ar. E assim sucessivamente, até chegar ao dez. Se no meio do caminho lembrar de tirar a roupa lavada da máquina, passear com o cachorro, ligar para alguém ou perceber qualquer outro pensamento que o distraia, comece tudo de novo, até conseguir manter a mente apenas na respiração e na contagem.
Headspace – aplicativo de meditação mais popular, mundialmente. A empresa divulga que já foram feitos mais de 10 milhões de downloads. Oferece exercícios gratuitos e pagos. A assinatura custa a partir de R$ 15,99 por mês.
www.headspace.com
Academia de Mindfulness – lives gratuitas e cursos online (remotos, com interação) a partir de R$ 540,00.
https://academiademindfulness.com.br/
Oferece o aplicativo Ácora, desenhado para o desenvolvimento de foco e inteligência emocional. Disponibiliza conteúdos gratuitos e pagos, que custam a partir de R$ 14,90 mensais. https://acoraapp.com/
Centro de Promoção de Mindfulness – oferece diversos cursos, alguns gratuitos. O curso online de mindfulness para combater a ansiedade custa R$ 197,00. O programa para qualidade de vida, no valor de R$ 990,00, tem oito sessões online.
https://cpmindfulness.com.br/
Templo Zulai – tem materiais de leitura, tutoriais para exercícios e cursos online, tudo gratuito. Os cursos presenciais estão suspensos por tempo indeterminado.
https://templozulai.org.br/por-que-meditar