A cultura dos preceitos de ESG ainda é pouco difundida entre os pequenos negócios que, em sua maioria, consideram que a operação não produz impacto nas mudanças climáticas e no aquecimento global, por exemplo.
A adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança contribuem para tornar as companhias mais competitivas, inovadoras e sustentáveis, além de ajudar a atrair investimentos. A estimativa, conforme estudo da Bloomberg realizado em 2021, é que a agenda ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance — ambiental, social e de governança) deve atrair algo próximo a US$ 53 trilhões em investimentos em 2025.
Outro estudo, realizado pela consultoria Walk The Talk by La Maison mostra que 94% dos brasileiros esperam que as empresas sigam a agenda ESG e acreditam que as organizações têm obrigação de solucionar problemas nesse setor. No mês do meio ambiente, especialistas destacam que a estratégia sustentável dos negócios está se tornando cada dia mais importante para as empresas por vários motivos, como na gestão de riscos para a perenidade do negócio, atratividade para investidores, engajamento de funcionários e reputação positiva. “É importante compreender que a gestão ESG é um processo sistêmico e evolutivo, colaborativo e reflexivo. Ganha a empresa, ganha o meio ambiente, ganham as pessoas”, diz Ricardo Voltolini, CEO e fundador da consultoria Ideia Sustentável.
Os brasileiros, cada vez mais, procuram por empresas que tenham no DNA projetos que contribuam para a preservação da natureza, apoiem as comunidades e adotem uma gestão transparente, responsável e ética.
Pesquisa realizada pela Opinion Box mostra que 67% dos consumidores brasileiros buscam saber a respeito dessas iniciativas antes de adquirir um produto ou serviço. Ainda no levantamento do relatório ESG e Sustentabilidade da empresa, 75% dos respondentes afirmaram que empresas com práticas sustentáveis têm mais chances de encantá-los, enquanto 57% já deixaram de comprar quando descobriram que determinada marca prejudica o meio ambiente de alguma forma.
Mesmo representando uma importante aliada das empresas, a cultura dos preceitos de ESG ainda é pouco difundida entre os pequenos negócios. Ao mesmo tempo em que 70% das corporações monitoram o consumo de água, apenas 21% das Pequenas e Médias Empresas (PMEs) adotaram essa ação. Um dos motivos é que a maioria (97%) acredita que sua atividade não produz impacto nas mudanças climáticas e no aquecimento global.
A boa notícia é que oito em cada dez firmas buscam auxílio na implementação da agenda ESG no cotidiano, conforme pesquisa do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), por meio de seu Comitê ESG, realizada no ano passado com cem empresas sediadas na cidade de São Paulo — sendo 90 delas com menos de dez funcionários e outras dez companhias de maior porte, com mais de 50 funcionários. Para especialistas, pequenas ações podem ser o pontapé inicial para esse processo.
“Há uma suposição, fundada em premissa frágil, de que uma PME ‘não tem recursos para investir em sustentabilidade’ ou de que ‘não provoca grandes impactos’. A fragilidade consiste em associar o conceito exclusivamente a despesas e, também, em querer eximir a pequena empresa da responsabilidade por esses impactos”, afirma Voltolini, da Ideia Sustentável, ao destacar que nem sempre sustentabilidade exige investimento financeiro. Segundo ele, boas inovações nascem do desejo de fazer diferente.
A Turquesa Esmalteria & Salão de Beleza começou a implementar, desde o ano passado, um trabalho de ESG nas suas cerca de cem unidades espalhadas pelo Brasil (e uma na Bolívia). Dentre as ações adotadas, estão reúso de água nos lavatórios dos salões; implementação de energia solar — que, além de economizar energia de uma forma sustentável, também é um excelente investimento de longo prazo —; e coleta seletiva dos materiais recicláveis.
Já o brechó Peça Rara foi criado com objetivo de impactar significativamente o ciclo de vida de itens de segunda mão, ao incentivar sua reutilização e a redução do descarte de mercadorias. Essa abordagem vem sendo cada vez mais aceita pelos consumidores, que buscam tanto ter acesso a produtos exclusivos como recuperar valores investidos em peças que, por algum motivo, estejam paradas. Para promover o ciclo completo de economia circular, a marca criou o Instituto Eu Sou Peça Rara, fazendo doações a entidades que atendam a famílias carentes, com itens consignados que ficaram mais de seis meses disponíveis nas lojas ou que não atenderam aos requisitos básicos para serem vendidos a outros clientes.
A advogada Daniela Stump, head de Prática ESG do escritório DC Associados, considera que a palavra-chave é priorizar. De acordo com ela, é preciso que haja um trabalho inicial para diagnosticar os temas ESG relevantes para o negócio e para a cadeia de valor. O fato é que há um espectro muito extenso de temas relacionados à agenda, por isso, a seleção daqueles que fazem mais sentido trabalhar primeiro varia de acordo com o setor, o modelo de negócios e a fase de implementação das atividades. Após mapear essas questões, é preciso priorizar as mais relevantes sob o olhar das diversas partes interessadas: clientes, consumidores finais, reguladores, sociedade em geral, entre outros. “As pequenas e médias empresas respondem por uma parcela relevante da geração de riqueza e de empregos no Brasil. Portanto, têm o potencial de gerar impactos positivos à sociedade e ao meio ambiente por meio da adoção de ações sustentáveis, ou, ainda, ações que sejam regenerativas e gerem mais impacto positivo do que negativo, devolvendo à sociedade e ao meio ambiente mais do que tira deles”, destaca Daniela.