Teste de estresse na democracia brasileira

05 de fevereiro de 2021

As instituições democráticas foram bem desenhadas e estiveram funcionando até o passado recente, respondendo a questões como ajuste fiscal e negociações entre os três poderes. Contudo, atualmente, elas se encontram em estado de degradação, em meio a um desajuste interno, pondera a cientista política, Bárbara Dias, pesquisadora na Universidade de Tours (França).

Wesley Damiani Joélson Buggilla e Paula Seco

Bárbara participa de um debate do UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, junto de Helga Almeida, também cientista política e professora da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

A gravação foi feita em parceria com a revista Problemas Brasileiros (PB), publicação da mesma entidade. A mediação do debate foi comandada pelo jornalista e editor da publicação, Lucas Mota. Ambas as entrevistadas integram o grupo de especialistas que escrevem às quartas-feiras na coluna “Ciência Política” do site da PB.

Segundo Bárbara, a legislatura de 2018 tem um caráter conservador muito acentuado, mas, mesmo assim, o Executivo faz um discurso antissistema em relação ao Congresso, casa que tem semelhanças muito grande com o próprio discurso do governo. “A sensação que se tem é de um Executivo que alimenta a sua base com esse discurso antissistema para nutrir o símbolo da negação do pacto [social em prol da democracia].”

Ela reitera que diversos discursos – sobre excesso de direitos na Constituição, uma corrupção política resultado de uma corrupção moral anterior e problemas econômicos decorrerem diretamente da corrupção – desembocam no bolsonarismo, “que se apresenta como a antipolítica”, afirma. “Não é apenas conflito. É um discurso antidemocrático, como se a democracia em si fosse corrupta”, reforça Bárbara.

Helga ressalta que tais discursos contra sistema, mídia e Judiciário geram rupturas e acentuam a desconfiança já existente em relação à democracia.

Por outro lado, lembra ela, parte dessa desconfiança se explica pela distância entre os representantes e a sociedade. “Esse distanciamento acaba gerando apenas uma democracia eleitoral, somente no momento do voto. As pessoas se sentem apartadas do sistema, como se os poderes fossem caixas-pretas, as quais ninguém sabe o que acontece lá dentro”.

Entretanto, por outro lado, diz, o discurso antissistema faz com que muita gente entenda que é melhor que não exista esse sistema todo. “Isso faz com que a gente desconfie das instituições que funcionam muito bem, como a urna eletrônica, ou até mesmo dos políticos que realmente trabalham muito e são bons representantes”, pontua Helga.

Wesley Damiani Joélson Buggilla e Paula Seco