Artigo

As empresas e o combate às desigualdades

Caio Magri
Caio Magri é diretor-presidente do Instituto Ethos.
V
Caio Magri
Caio Magri é diretor-presidente do Instituto Ethos.

Vivemos em um país de dimensões continentais, repleto de desafios de igual tamanho ou ainda maiores que a sua extensão territorial. Quinta maior nação do mundo nesse aspecto, o Brasil também é um dos líderes em desigualdades, em especial quando falamos do abismo que separa ricos e pobres.

De acordo com um estudo sobre o desenvolvimento humano, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o País perde apenas para o Catar em concentração de renda. Temos o décimo maior Produto Interno Bruto (PIB) entre as 15 maiores economias do mundo, mas estamos no “Z10”, o grupo dos dez países mais desiguais do planeta. Hoje, por exemplo, são mais de 62 milhões de pessoas que vivem com renda familiar per capita inferior a US$ 3 por dia no País, das quais 17 milhões — mais de 8% da população total do Brasil —, fazem parte da parcela de extrema pobreza, com rendimento diário per capita abaixo de US$ 1,90, ou cerca de R$ 9,50, segundo dados do IBGE. Se considerarmos um mês de 31 dias, a renda mensal é inferior a R$ 300, menos de 25% do valor referente ao salário mínimo atual nacional, de R$ 1,32 mil.

A consequência de tamanho abismo social é que, enquanto quase 30% da população seguem à margem de direitos básicos, como alimentação, saúde, educação, moradia, segurança e bem-estar,  1% dos brasileiros concentra 28,3% da renda total do País. Além de todo um contexto extremamente desafiador para a parcela das pessoas menos favorecidas, o quadro das desigualdades no Brasil se acentuou com a pandemia de covid-19, que expôs a negligência e a ausência de acesso e garantias de direitos por grande parte do povo brasileiro, o que se refletiu no aumento do desemprego, da insegurança alimentar e, até mesmo, do acesso desigual à vacinação nesse período.

Esses são alguns exemplos das desigualdades brasileiras, cujo enfrentamento é urgente e necessário para alcançarmos uma sociedade mais justa e equânime. Nesse sentido, o Ethos definiu esse tema como central da sua atuação para os próximos anos. Isso passa desde o chamamento das empresas à responsabilização até o apoio a elas para atuar no enfrentamento e no combate a essas injustiças.

O Guia para empresas: como combater as desigualdades no Brasil, lançado durante o anúncio do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, em Brasília (DF), em agosto de 2023, tem esse objetivo. O material é composto por dez iniciativas para que as empresas assumam responsabilidades e ajam de forma objetiva, direcionada e qualificada.

O guia apresenta um conjunto de ações efetivas para que os negócios exerçam um papel fundamental e protagonista no enfrentamento das disparidades sociais. O documento traz, para cada uma das dez iniciativas, o contexto setorial de cada item, recomendações sobre como agir e subsídios a respeito de como participar de políticas públicas. As dez iniciativas são: promover o trabalho decente, gerar oportunidades e renda justa; promover a diversidade, a equidade e a inclusão; promover a segurança alimentar; prevenir e combater corrupção e fraudes empresariais e promover a transparência; promover saúde e bem-estar; fortalecer o acesso à educação; promover a gestão responsável da cadeia de valor; conservar os ecossistemas e combater o desmatamento; promover a justiça social no enfrentamento à crise climática; e fortalecer a democracia no País.

Em um contexto social e histórico, as empresas sempre desempenharam um papel importante na busca por soluções de combate às desigualdades no Brasil — e a transformação social exige colaboração, ambição e inovação. As propostas do guia partem do princípio de que o encontro desses três atributos pode levar o Brasil a avançar significativamente na construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável para as gerações presentes e futuras. Essa ação, que se soma a diversas outras realizadas pelo Instituto Ethos durante 25 anos de trajetória, mostra um caminho dentro da agenda Ambiental, Social e de Governança (ASG) para que as empresas possam se inserir no centro do problema e da solução, desenvolvendo melhores práticas de negócios que alcancem toda a sua cadeia de valor e a sociedade.

Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.