A despeito da importância usual das eleições para a presidência da Câmara dos Deputados, os níveis de repercussão e especulação em torno da próxima escolha nunca foram tão intensos. O poder acumulado pelo cargo, ao longo da última década, alterou profundamente as bases do sistema conhecido como presidencialismo de coalizão, pondo em xeque seus fundamentos e deslocando, em parte, o eixo do Executivo para o Legislativo. Dentre as pré-candidaturas já anunciadas, três nomes ganham destaque: Antônio Brito (PSD/BA), Hugo Motta (Republicanos/PB) e Elmar Nascimento (União Brasil/BA).
Para entender essa conjuntura, é preciso voltar no tempo e observar as mudanças que ocorreram nas atribuições e prerrogativas da presidência da Mesa. O controle sobre o orçamento e a gestão das sessões remotas foram algumas das alterações mais marcantes — questões essas que têm se mostrado essenciais no fortalecimento da figura do presidente da Câmara, ampliando a sua capacidade de influenciar tanto o andamento das políticas públicas quanto o comportamento dos parlamentares. Os partidos políticos, por sua vez, se articulam com o objetivo de lançar candidatos que possam conquistar o cargo e, com isso, usufruir das prerrogativas e do poder oferecidos.
Brito representa o PSD, que ampliou substancialmente o número de prefeituras. A força do partido, somada à tentativa de comunicação moderada do deputado federal, faz do parlamentar um nome competitivo, embora ele ainda precise consolidar alianças mais amplas para garantir a candidatura. Já o Republicanos aposta no jovem Motta, de apenas 35 anos, mas já com uma longa trajetória política, tendo exercido quatro mandatos como deputado federal. Até o momento, Motta conta com o apoio de Arthur Lira. O terceiro nome em destaque é Nascimento, do União Brasil, um partido que, apesar de relevante, não cresceu tanto nas últimas eleições. O deputado, que já foi aliado próximo de Lira, agora tenta se distanciar e conquistar o apoio dos partidos de esquerda, especialmente o PSB e o PT.
A ausência de candidaturas próprias por parte de dois grandes partidos chama a atenção. O PT, segunda maior bancada da Câmara, optou por não lançar candidato, preferindo atuar como fiel da balança nas negociações. A legenda, que teve experiências negativas em disputas anteriores, parece mais confortável no papel de negociadora. O PL, com a maior bancada da Casa, em contrapartida, lida com problemas de consenso interno em torno de um nome forte. Além disso, os resultados do partido nas eleições municipais ficaram aquém do esperado, o que enfraqueceu a sua posição na disputa pela presidência da Câmara.
Outro ponto importante para entender tudo o que está acontecendo é o papel do Centrão, um bloco tradicionalmente pragmático e com forte inclinação clientelista — cujos partidos que o formam foram os grandes beneficiados pelas mudanças que ampliaram as prerrogativas da presidência da Câmara, uma vez que a possibilidade de distribuir estrategicamente recursos orçamentários fortalece o poder de negociação com o governo e com outros atores políticos. Assim, o comportamento do Centrão nas eleições para a presidência da Câmara será decisivo, pois segue sendo uma força política determinante.
As eleições para a Câmara de 2025 prometem ser um marco na política brasileira. Mesmo que os partidos de esquerda e direita moderados tenham apresentado uma recuperação tímida nas últimas eleições, a grande força emergente é o fisiologismo, que parece ter saído vitorioso do pleito municipal. Em um cenário no qual o poder da presidência da Câmara é cada vez maior, a tendência é que os partidos que apostam em um comportamento mais pragmático sejam os grandes beneficiados na próxima disputa pela liderança da Casa.
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