Indispensável para o desenvolvimento nacional, a ciência brasileira enfrenta, mais uma vez, declínio no ritmo de crescimento. Dados recentes de relatório da BORI em parceria com a editora científica Elsevier — lançado em julho, durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), em Brasília — revelam que a produção de Ciência no País caiu 7,2% em 2023, na comparação com o ano anterior. Outros 34 países também registraram decréscimo na publicação de artigos científicos no mesmo período, como Estados Unidos, Alemanha e Rússia. No caso brasileiro, essa é a segunda queda consecutiva de produção científica, acendendo um sinal de alerta.
A partir dos dados da base Scopus/Elsevier, a pesquisa analisou todos os países que publicaram mais de 10 mil artigos científicos em 2022, em um total de 53 países. O relatório constatou que o ritmo de produção científica nacional caiu, pela primeira vez, em 2022, quando houve queda de 8,5% no número de artigos publicados em relação a 2021. Com esse novo declínio, a produção de ciência do Brasil no ano passado ficou bem próxima à de 2019, ou seja, período pré-pandemia. Até 2022, o País vinha mantendo um ritmo de crescimento anual da sua produção de artigos desde 1996, quando os dados começaram a ser tabulados.
“Sabemos que o volume de publicação de artigos de um país reflete, dentre outros fatores, o volume de investimento em pesquisa científica de alguns anos atrás. Isto é, são efeitos de médio prazo”, afirma Dante Cid, vice-presidente de Relações Institucionais para a América Latina da Elsevier. “Portanto, nossa expectativa é de que, diante de um melhor nível de investimentos dos últimos anos, a produção nacional retome o crescimento em breve”, conclui. Taiwan, Etiópia e Brasil lideram a lista das 20 nações com maior variação negativa na produção científica entre 2022 e 2023. Em sentido contrário, Emirados Árabes, Iraque e Indonésia apontaram crescimento superior a 15% no mesmo período.
Mais de 300 veículos jornalísticos de todo o País repercutiram o resultado do relatório, inclusive em editoriais, o que mostra a relevância do tema. Artigos científicos trazem resultados de pesquisas em desenvolvimento, com potencial impacto social. Publicar menos artigos significa produzir menos conhecimento e menos soluções para áreas estratégicas, como a Agropecuária, e para problemas enfrentados pela sociedade, como tratamentos de doenças e violência urbana.
Retrato da desaceleração
No Brasil, Ciências Médicas foi a área de conhecimento que sofreu a maior queda no número de artigos publicados, com variação negativa de 10%, de 2022 para 2023. O estudo mostra também que, com exceção das universidades federais de Juiz de Fora (UFJF) e de Pernambuco (UFPE), todas as 31 instituições de pesquisa analisadas — com mais de mil artigos publicados no ano retrasado — registraram redução na produção científica no período. “Acompanhar dados sobre a produção científica de um país é essencial para justificar os investimentos em ciência”, diz Estevão Gamba, cientista de dados da BORI. “É necessário compreender o processo de desaceleração da produção de ciência no Brasil para encontrar maneiras de retomar o crescimento.” Esse é o quinto relatório da parceria entre a BORI e a Elsevier. A ideia é retratar a produção de ciência nacional e munir o debate público com informações relevantes para políticas científicas e para as tomadas de decisão.
ESTE ARTIGO FAZ PARTE DA EDIÇÃO #483 IMPRESSA DA REVISTA PB. CONFIRA A ÍNTEGRA NA VERSÃO DIGITAL, DISPONÍVEL NA PLATAFORMA BANCAH.
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