Faz dez anos que a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) criou uma plataforma de entrevistas chamada UM BRASIL. O intuito da iniciativa era o de promover debates ou gerar entrevistas com pessoas de diferentes lugares do País e do mundo que, de alguma maneira, abordassem questões que inserissem, no centro das atenções, os mais diferentes desafios complexos nacionais. Em uma década de história, foram mais de 600 entrevistas, muitas delas capazes de gerar grande debate público em torno de temas essenciais.
Os participantes dessas entrevistas vêm de áreas muito distintas, atuando, pesquisando e compreendendo diversos fenômenos. Quero, com este texto de homenagem à plataforma — que celebrará festa em evento exclusivo na próxima semana —, trazer o quanto seus conteúdos me impactaram.
A primeira forma de fazer isso está associada às oportunidades que tive de ser entrevistado. Na primeira ocasião, o tema central foi a educação política, entendida como parâmetro basilar ao desenvolvimento da democracia. Estávamos em 2015, e fui entrevistado no Insper, faculdade na qual trabalhei quase uma década. O material, que ainda tem grande serventia para debatermos a qualidade da democracia no País, pode ser acessado aqui.
A partir dessa experiência, aproximei-me bastante da plataforma, a ponto de gerar a segunda forma de agradecer os conteúdos. Perto daquela data, findei sendo desligado da Rádio Estadão, um projeto do Grupo Estado que não prosperou. Ele começou em 2012, e eu assinava um boletim diário de educação política após ter sido, por anos, fonte da Rádio Eldorado. A partir de 2013, tornei-me colunista fixo de política, posição que ocupei até 2014. No ano seguinte, depois de alguns testes cobrindo férias de colegas, fui para a bancada diária ao lado da jornalista Roxane Ré. Minha função: ser comentarista do noticiário das 16h às 19h. Experiência única que durou nove meses. Estávamos no auge das radicalidades políticas no rádio, e eu insistia em manter certo equilíbrio que desagradava minha chefia. Caí, mas caímos todos nós. Fim do projeto. Mas não sem receber compensação maravilhosa do destino: fui procurado pelo UM BRASIL e, dado o equilíbrio e o nível das entrevistas na rádio, me tornei entrevistador da plataforma.
A nova posição começou com uma conversa com Zeina Latif quando ela ocupava o cargo de economista-chefe da XP. Logo passei por Samuel Pessôa, Maílson da Nóbrega e outras figuras relevantes do meio econômico. Não demorou para eu me acostumar e ter honras máximas ao lado de uma série de nomes muito especiais. Destaco três blocos de entrevistas aqui. O primeiro deles associado a uma quantidade grande de cientistas políticos. Foram professores que tive na faculdade, tais como Maria Teresa Sadek, Fernando Limongi e Boris Fausto. Ademais, colegas queridos, como Lara Mesquita, Graziella Testa, Nara Pavão, Andréa Freitas, entre outros. Por fim, referências bibliográficas como Sérgio Abranches, Marta Arretche, Argelina Figueiredo, Michael Coppedge etc.
O segundo bloco é composto por pessoas que me trouxeram conhecimentos extremos e informações com as quais não imaginei ter contato a ponto de dirigir perguntas e gerar debate. O ponto máximo aqui atende pelos nomes de Silvio Meira, Bruno Paes Manso, Guilherme Leal e João Miranda.
O terceiro bloco está associado a entrevistas empacotadas na forma de séries especiais. Destaco aqui o trabalho em parceria com o Instituto Atuação (atualmente, Sivis), em torno do Dia da Democracia em Curitiba, bem como série feita na FGV do Rio de Janeiro. Mas as duas ações mais emblemáticas aqui foram uma série sobre política municipal pensando nas eleições de 2016, com diversos especialistas em políticas públicas que compuseram uma disciplina específica no curso de Gestão de Políticas Públicas da USP; e uma série de entrevistas em 2022 sobre o papel de empresas em ações de educação política para o fortalecimento da democracia. Ao todo, em nove anos de contato direto, seguramente, foram mais de 50 entrevistas conduzidas que muito me orgulharam e pelas quais agradeço a cada entrevistado e entrevistada.
Voltando à primeira forma de agradecer à plataforma, eu ainda seria ouvido mais duas ou três vezes. A principal delas falando sobre o Índice de Governabilidade da 4i, junto com Joyce Luz e José Mario W. Gomes Neto. Aqui, merece atenção a terceira forma de agradecer ao UM BRASIL: a quantidade de material impresso, escrito e em vídeo que foi gerada nessa década invadiu muitas das minhas salas de aulas. Não foram poucos os conteúdos convertidos em bibliografia e bases para a realização de trabalhos acadêmicos, bem como não foram poucas as vezes que mostrei trechos e conteúdos para aprimorar reflexões. Os dez anos do UM BRASIL marcam um compromisso de seus organizadores com a democracia e com o debate honesto, dentro das quatro linhas em múltiplos setores e posicionamentos ideológicos. Agradeço, de formas distintas, tamanhas oportunidades e sempre aguardo os próximos conteúdos.
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