Apesar das evidências, pouco está sendo feito para mitigar os impactos das mudanças climáticas em nível global. Motivados pela urgência do tema, um grupo de cientistas de renome internacional na área lançou, em junho, o Climate Crisis Advisory Group (CCAG), sediado no Reino Unido. A meta é fornecer aconselhamento e orientação para líderes globais que busquem fortalecer suas ações de combate à crise climática.
A iniciativa reúne 14 cientistas especialistas de todos os continentes, liderados pelo ex-conselheiro científico do Reino Unido, Sir David King, e tem lançado uma série de análises técnicas regulares sobre os esforços para enfrentar o aquecimento global e as crises de biodiversidade para o público mundial.
“Esperamos que, ao colocar a expertise diretamente no domínio público, estejamos alcançando os processos de decisão dos formuladores de políticas, bem como o setor financeiro e como eles investem em nosso futuro”, conta Sir King, ao jornal britânico The Guardian. A ideia também busca oferecer orientações propositivas para os governantes e as companhias responsáveis por estas tomadas de decisão em relação ao clima. “Acredito que tenhamos cinco anos para resolver este problema. Começamos a falar seriamente sobre as mudanças climáticas em 1992, mas estamos em uma posição muito pior agora – vendo os gases do efeito estufa aumentarem ano após ano.”
Os relatórios mensais do CCAG, antecipados aos jornalistas brasileiros com exclusividade pela Agência BORI, têm como porta-voz a brasileira a pesquisadora Mercedes Maria da Cunha Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB). Para ela, a inclusão de vozes de diferentes regiões na equipe do CCAG, com um vasto conjunto de experiências, pode ajudar a melhorar a percepção pública da urgência do tema
No primeiro relatório, o grupo convoca ações política e financeira internacionais ágeis para mitigar as consequências das mudanças climáticas por meio de redução de emissões, remoção de gases de efeito estufa e reparação do clima. No documento, o grupo delineia o estado da crise climática e convoca tomadores de decisão internacionais para colaborar e agir em três áreas principais:
• reduzir: as metas atuais de redução das emissões de gases de
efeito estufa ainda não são suficientes. As nações precisam
triplicar as promessas de redução de emissões para limitar os
efeitos da crise climática;
• remover: é preciso ter investimento em grande escala para
desenvolver e escalonar técnicas, a fim de remover gases de efeito
estufa da atmosfera;
• reparar: pesquisas aprofundadas são necessárias para explorar
e investigar métodos e tecnologias seguras, com o objetivo de
reparar os danos dos nossos sistemas climáticos.
O grupo oferecerá consultoria científica de ponta em um formato aberto e transparente para os governos, as partes interessadas e o público, com o propósito de catalisar compromissos globais reais e significativos necessários para fazer as mudanças.
“Cada membro é um especialista líder mundial, com conhecimento e capacidade para se dirigir a políticos, instituições financeiras e membros do público mediante um grau de agilidade que nenhum outro órgão internacional de especialistas é capaz, focando em ações reais e tangíveis em relação a mudança climática global, mitigação e reparação para as nossas gerações futuras”, afirma Sir King.
• Sir David King (presidente), Universidade de Cambridge – foco em alertar governos e instituições em todo o mundo sobre os perigos da crise climática
• Dr. Robert W. Corell, US Global Environment Technology Foundation – interesse em mudanças climáticas globais e regionais
• Professor Qi Ye, Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong e Universidade Tsinghua – especialista em política ambiental da China
• Dr. Klaus Lackner, Universidade do Estado do Arizona – trabalha com temas como fechamento do ciclo do carbono através da captura do dióxido de carbono do ar e política ambiental e energética
• Professora Mercedes Bustamante, Universidade de Brasília (UnB) – reconhecida por contribuições ao conhecimento ecológico de ecossistemas tropicais ameaçados e suas interações com mudanças induzidas pelo homem
• Professora Lavanya Rajamani, Universidade de Oxford – especialista na área de legislação ambiental internacional e mudanças climáticas
• Dr. Arunabha Ghosh, Conselho de Energia, Meio Ambiente e Água – especialista em políticas públicas e conselheiro de mudanças climáticas
• Dr. Fatih Birol, Agência Internacional de Energia – especialista e contribuidor para o debate político internacional sobre energia e mudança climática
• Professor Dr. Johan Rockström, Universidade de Potsdam – especializado em ciências ambientais com ênfase em recursos hídricos e sustentabilidade global
• Professora Lorraine Whitmarsh, Universidade de Bath – interesse em percepções e comportamentos em relação às mudanças climáticas, energia e transporte
• Professor Nerilie Abram, Universidade Nacional da Austrália – expertise em pesquisa cobrindo os impactos das mudanças climáticas, dos oceanos tropicais à Antártica
• Dr. Tero Mustonen, Snowchange Cooperative – especializada em biodiversidade do Ártico e impactos para comunidades locais da região
• Professora Laura Diaz Anadon, Universidade de Cambridge – especialista em política de energia, clima e inovação, os motores da mudança tecnológica e avaliação de políticas
• Professor Mark Maslin, Universidade London College – especialização em compreender o Antropoceno e como ele se relaciona com os principais desafios da humanidade no século 21
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