A cada US$ 1 milhão investido pelo governo em infraestrutura, cerca de 35 empregos são gerados na área de Saneamento Básico; 6 em Energia; 3 em Escolas e Hospitais; e 16 em Estradas. O número varia conforme o grau de crescimento do país – o potencial é maior em economias em desenvolvimento, como o Brasil.
Os números fazem parte de um estudo elaborado em 2021 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e divulgado no ano passado. Com base em dados de 41 países (27 economias avançadas e 14 emergentes, incluindo o Brasil) e 5,6 mil empresas, o FMI mediu o impacto dos gastos em infraestrutura na geração de empregos nas nações avaliadas. Foram analisados dados de 19 anos abrangendo diversas áreas.
Os resultados indicam que o gasto público em infraestrutura pode contribuir significativamente para a criação de empregos. “No geral, 1% do Produto Interno Bruto (PIB) global em gastos com investimentos públicos pode criar mais de 7 milhões de empregos em todo o mundo, apenas pelos efeitos diretos”, explica o autor do estudo, o economista-sênior do FMI, Marian Moszoro.
O impacto, segundo Moszoro, pode ser ainda maior em investimentos ligados à economia verde, em parte porque muitos empregos em energias renováveis não exigem alto grau de qualificação e enfrentam poucas barreiras de entrada no mercado formal. Segundo o FMI, para cada US$ 1 milhão investido, 10 empregos podem ser criados em eletricidade verde (eólica e solar, por exemplo), 12 vagas em novos edifícios eficientes e 14 postos de trabalho em saneamento verde.
Por aqui, há a perspectiva de criação de 2 milhões de empregos no Nordeste nos próximos anos, em projetos de energias solar e eólica. É o que indica o recente estudo Plano Nordeste Potência. O número se refere apenas às outorgas já concedidas, mas o potencial é ainda maior. Atualmente, cerca de 66 gigawatts (GW) de potência em energia renovável já foram outorgados para a região, energia equivalente a cinco vezes a potência da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Deste total, 34,4 GW se referem a projetos eólicos no continente, dos quais 19,7 GW já estão em operação. Outros 28,7 GW são de energia solar.
A expansão deve ser acompanhada pela formação da mão de obra. “Ao mesmo tempo que as energias renováveis crescem, é preciso garantir que esta expansão seja feita de maneira ordenada, com bases sólidas para a formação de um mercado de trabalho com empregos bons e qualificados”, afirma Aurélio Souza, conselheiro do Instituto Climainfo, empresa envolvida no projeto.
O investimento em pesquisa e desenvolvimento também pode criar empregos, embora com foco em trabalhadores altamente qualificados: cerca de 4 postos de trabalho são criados a cada US$ 1 milhão investido, aponta o FMI. “Precisamos ficar atentos para resolver a questão dos empregos de curto prazo, com baixo valor agregado, e de médio e longo prazos”, observa Ricardo Valente, diretor comercial e de Relacionamento da RZK Energia, que atua em soluções para o setor energético, considerado um dos pilares para a expansão da infraestrutura e, por consequência, das vagas de trabalho.
O setor rodoviário, um dos principais do País – e outra fonte propulsora de vagas –, registrou, em 2022, deterioração da malha rodoviária, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT): dos 110.333 quilômetros analisados, 66% foram classificados como regular, ruim ou péssimo. No ano passado, este porcentual era de 61,8%.
A situação é pior nas rodovias sob gestão federal ou estadual: o estado geral considerado ótimo ou bom nestes trechos caiu de 28,2%, em 2021, para 24,7%, em 2022. Em 2019, o porcentual era de 32,5%. Logo, 75,3% da malha rodoviária sob gestão pública são considerados regular, ruim ou péssimo.
Nas rodovias concedidas à iniciativa privada, o resultado é bem melhor, segundo a CNT. A pesquisa aponta que 69% dos 23.238 quilômetros avaliados são avaliados como ótimos ou bons. “A importância das rodovias brasileiras se deve à capilaridade de sua estrutura no País. Contudo, a sua conexão com outros modais é defeituosa, evidenciando o potencial para melhorias”, diz o professor de Finanças e Valuation da Trevisan Escola de Negócios, Rodrigo Siviéri. Ao analisar a importância das concessões, ele ressalta que a extensão de serviços de recuperação, operação, manutenção, conservação, monitoramento, além da ampliação da capacidade viária, exige grande contingente de recursos humanos.
Ainda assim, agentes do setor apontam a necessidade de aportes públicos em projetos estruturais. “Não há como pensar que, sozinha, a iniciativa privada vai conseguir fazer tudo”, diz Venilton Tadini, presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). Estudo anual elaborado pela entidade revela que os investimentos em infraestrutura no Brasil estão muito aquém dos necessários.
De acordo com dados da Abdib, os incentivos em infraestrutura brasileira somaram R$ 148,2 bilhões em 2021, 28,6% menos do que o pico atingido em 2014, quando foram aplicados R$ 207,5 bilhões, entre gastos públicos e privados. Segundo a entidade, são necessários incrementos anuais correspondentes a 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) – cerca de R$ 374,1 bilhões – nos próximos dez anos, para redução dos gargalos e promoção dos desenvolvimentos econômico e social. Em 2021, este número correspondeu a 1,71% do PIB. As maiores defasagens estão nas áreas de Transportes, Logística e Saneamento Básico.