Ensaio

Uma viagem de saber e concreto

Laura Toyama Laura Toyama

A Universidade de São Paulo (USP) completa 90 anos em 2024. A história da instituição reside em edifícios de diferentes estilos que ajudam a contar também a história da capital paulista. Alguns deles ultrapassam os limites da Cidade Universitária e excedem também o quase um século da universidade, em uma rica relação com a paisagem urbana paulistana.

Projetados pelo famoso engenheiro-arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, os prédios das faculdades de Medicina, no bairro Cerqueira César, e de Direito, no Centro, são do início do século 20 — que, ao lado de construções como o Theatro Municipal e a Pinacoteca do Estado, pertencem ao movimento que misturou alguns estilos arquitetônicos predominantes até meados do século 19, combinados por Ramos de Azevedo para dar à luz edificações singulares.

Na Cidade Universitária, construções de diferentes épocas dividem espaço em cerca de 4,3 milhões de metros quadrados, tornando-a uma eclética coleção de clássicos da arquitetura brasileira. O prédio que abriga os cursos de História e Geografia, por exemplo, projetado na década de 1960, é vizinho da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, construída somente 50 anos depois.

Ambos são exemplares de diferentes fases da arquitetura, assim como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), projetada por João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. As suas características mais marcantes, como as rampas e grandes vigas de concreto exposto, pertencem a uma vertente do modernismo brasileiro, o brutalismo.

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As monumentais estruturas de concreto e amplos vãos têm usos que vão além da circulação de estudantes, professores, funcionários e pesquisadores: abrigam atividades coletivas, acervos históricos e servem de palco a movimentos que influenciaram a construção política do País. Os prédios contam, até hoje, histórias um dia sonhadas por seus arquitetos.

Orientado por conceitos como a continuidade espacial e estruturas que interligam as muitas partes de um prédio, o brutalismo também representa a conexão entre edifícios de diferentes gerações, entrelaçados no objetivo de abrigar os 90 anos de história de uma universidade de referência não só no Brasil. 

A mistura de elementos clássicos e contemporâneos nos prédios. As faculdades mais antigas de São Paulo combinam mármore e vitrais, enquanto as construções de meados do século 20 usam e abusam da força das linhas retas. As estruturas de concreto foram combinadas a detalhes de inspiração barroca, como ornamentos em bronze, lustres, grandes vitrais com figuras e mármore revestindo o piso e as escadas.

Laura Toyama Laura Toyama
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