Efeitos do clima extremo

08 de maio de 2025

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De cada dez empresas paulistas, seis (64,5%) foram prejudicadas de alguma forma pelas mudanças climáticas no último ano — de chuvas excessivas que interromperam as operações ao calor intenso que afetou cadeias de fornecimento inteiras, por exemplo. Os dados são de uma sondagem realizada pelo Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), que ouviu 200 empresas paulistas entre 27 de fevereiro e 21 de março.

Não é de se estranhar, então, que quase metade (44,5%) dos negócios relate prejuízos financeiros causados pelos efeitos adversos do clima — como queda nas receitas pelos dias parados ou reposição de mercadorias perdidas. Em 2024, o Estado de São Paulo experimentou, entre os meses de maio e agosto, a pior seca desde 1982, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). No período, 60% das cidades paulistas vivenciaram seca extrema. Em outubro, em decorrência das chuvas fortes, a capital ficou muitos dias sem fornecimento de eletricidade, somando um prejuízo de R$ 2 bilhões para as empresas. No início de 2025, as tempestades voltaram a prejudicar o comércio de muitos municípios paulistas.

No primeiro semestre do ano passado, a FecomercioSP fez esse mesmo estudo na Cidade de São Paulo e descobriu que metade (51%) dos negócios paulistanos sofria consequências climáticas — da qual cerca de um terço (35%) contabilizou prejuízos.

Na edição de 2025, os empresários foram questionados também sobre a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em novembro, em Belém, no Pará. Da amostra, 36% já ouviram falar sobre o evento, mas sabem pouco a respeito do que se trata, ao passo que 47% não têm conhecimento algum sobre o tema. Ainda assim, 55% das empresas acreditam que pode haver resultados positivos da reunião, o que mostra que, mesmo sem domínio do assunto, alguns empresários arriscaram responder.

Falta de recurso

Apesar dos números elevados — e do fato de a maioria (61,5%) dos entrevistados classificar a questão climática como “muito relevante” —, o empresariado ainda encontra dificuldades para investir em sustentabilidade. Os dados da Federação apontam que 58% dos negócios no Estado de São Paulo não adotam qualquer tipo de ação para a redução de emissões de gases que geram o efeito estufa, por exemplo.

Na leitura do Conselho de Sustentabilidade da Entidade, essa falta de medidas voltadas para a sustentabilidade acontece porque o empresariado ainda não está consciente da própria força para colher melhorias ambientais coletivas, tampouco ainda dá-se conta de que essa é uma demanda inequívoca dos consumidores. Há a percepção de que os clientes até se interessam pelo tema, mas não topam pagar mais por produtos associados a pautas sustentáveis.

Mas não é só isso. A maior parte das empresas consultadas no estudo (40%) declarou que faltam recursos financeiros para injetar em práticas mais sólidas, enquanto outras 26% admitem não ter conhecimento técnico para ações desse tipo. São gargalos típicos de economias emergentes, em que a transição verde esbarra em limitações de capital e em falta de capacitação.

Por causa desses fatores, a Federação pontua que há um descompasso entre a conscientização ambiental do empresariado e a internalização de práticas sustentáveis. Essa divergência também pode ser percebida no universo de 15,5% dos negócios que implementam medidas, mas sem metas estipuladas, e outros 15% que estabelecem objetivos claros, mas não são de conhecimento público. Somadas as variáveis, 42% das empresas adotam alguma ação atualmente — o que não é de todo ruim.

No entanto, quando questionadas acerca dos procedimentos que aplicam para a descarbonização do negócio, a maioria responde de forma simples: destinação de resíduos orgânicos à compostagem, realizada por 69% das empresas que disseram desenvolver alguma ação sustentável. O uso de etanol na frota, em vez de gasolina, também é muito mencionado (79,8%). Ambas são excelentes condutas, porém, de baixo custo — diferentemente de práticas como geração da própria energia renovável ou uso de veículos híbridos ou elétricos, por exemplo.

Na avaliação do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, esses números revelam um cenário de transição em curso, apesar da ambiguidade que persiste quanto às mudanças climáticas. De um lado, o reconhecimento de que essas transformações são reais e resultam em repercussões concretas sobre os negócios. De outro, muitos gargalos que impedem uma atuação mais efetiva — e incluem desde dificuldades com os custos operacionais até leis que não favorecem essa transformação de forma mais efetiva e rápida.

Nesse contexto, a FecomercioSP lançou, em abril, a sua Agenda Verde, elencando um conjunto de objetivos que a Entidade entende como as prioridades ambientais que o Brasil deve assumir até 2030.

Conheça aqui Agenda Verde da FecomercioSP por este código QR.

Redação PB Débora Faria
Redação PB Débora Faria