A famigerada carta do tarifaço que Trump enviou a Lula pelo Twitter (PASME!) no dia 9 de julho, é um show de horrores digno do palco de bizarrices que Trump tem nos feito ver. Usando a estratégia do tensionamento contínuo, como já é praxe da extrema direita, Trump tem transformado a, classificada por muitos como, “maior e mais estável democracia do mundo” em um fantoche de suas vontades.
A carta, além de conter partes com trechos idênticos a outros documentos enviados a outras nações. Ela também contém informações incorretas, como a de que há “déficits comerciais insustentáveis” dos EUA em relação ao Brasil, o que está absurdamente incorreto, já que desde 2009 o Brasil importa mais que exporta dos EUA, gerando um superavit de 484 bilhões.
A carta ainda traz o seguinte trecho “devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades de comércio digital de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais injustas, estou instruindo o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 do Brasil”.
De acordo com o United States Trade Representative (USTR), em 15 de julho, ao iniciar a investigação sobre supostas “práticas comerciais desleais no Brasil”, entre outras coisas, o comércio digital norte-americano pode estar sendo prejudicado pelo Brasil, isso porque o país poderia “prejudicar a competitividade de empresas norte-americanas envolvidas nesses setores, por exemplo, retaliando contra elas por não censurarem o discurso político ou restringindo sua capacidade de fornecer serviços no país”.
Trocando em miúdos, os EUA alegam que as decisões que o STF brasileiro tem tomado contra a proliferação de desinformação, conteúdo de ódio e ilegal nas plataformas geridas pelas bigtechs deveriam permanecer na rede para não afetar o ganho dos bilionários no Vale do Silício.
A própria empresa Trump Media juntamente com a plataforma de vídeos Rumble entrou com uma ação contra Alexandre de Moraes por praticar “censura” ao determinar que perfis fossem bloqueados.
Fica cada vez mais transparente, e agora está registrado em carta, o incômodo do governo Trump e das empresas de tecnologia com a defesa brasileira de sua soberania, tanto no seu território físico quanto no digital.
Um furor semelhante, ainda que menor, aconteceu quando o Congresso brasileiro, ainda com EUA sob Joe Biden, começou a discutir o PL 2630/2020, apelidado de PL das Fake News, que se propõe a responsabilizar as plataformas de mídias sociais por conteúdos ilegais postados
Para mim esse incômodo dos EUA com o Brasil vem a partir de três fatores principais: a ignorância em relação à constituição federal brasileira; o ganho de capital das bigtechs; e o imperialismo norte-americano.
Em relação à Constituição Federal de 1988 há uma ignorância, por escolha ou não (não se sabe), sobre o entendimento do Brasil em relação à liberdade de expressão. E de que neste país, não há liberdade quando o discurso fere a honra ou a dignidade de alguém ou de alguma instituição.
Quanto aos lucros das big techs, é notório que boa parte de seus ganhos vem da indústria da desinformação. Por isso, elas não estão interessadas nem comprometidas em disponibilizar conteúdos de qualidade ou alinhados com parâmetros democráticos.
Por fim, e intimamente ligado ao segundo ponto, está o imperialismo norte-americano, que, em maior ou menor grau (dependendo do presidente), enxerga o Sul Global, e especialmente a América Latina, como seu quintal, tratando suas populações como cidadãos de segunda classe, a serem controlados econômica e culturalmente. “E não me venha cantar de galo falando de BRICS”.
Enquanto isso, os EUA fingem que sua grande preocupação é com a “democracia brasileira” e com a grande “Ditadura do STF”.
Vamos vivendo a história para ver o que ocorrerá.
De longe, todas essas brigas que EUA estão soando desespero.
Num sei. Só sei que foi assim.
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