Os indicadores disponíveis mostram uma clara desaceleração do nível de atividade da economia brasileira no fim dos primeiro semestre e início do segundo. Além do crescimento anualizado de apenas 1,6% registrado no segundo trimestre (contra 5,3% no primeiro), a evolução dos dados macroeconômicos e setoriais confirmam que essa tendência se intensificou: as importações caíram 2% em agosto contra o mesmo mês de 2024 e a produção de automóveis encolheu 4,8% para a mesma comparação, além da “perda de fôlego” do Comércio e da Indústria. Apenas o setor Serviços vem mantendo o ritmo de expansão.
Além disso, observou-se, no mesmo mês de agosto, forte retração dos índices de confiança empresarial em todos os segmentos, principalmente no Comércio e na Indústria. Esse cenário está levando a reduções nas projeções do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025, que deverá se situar em torno de 2% (contra uma expansão média de 3,2% nos últimos três anos).
Essa desaceleração pode ser explicada pela manutenção de juros elevados por longo período e mais cautela por parte dos bancos na concessão de empréstimos às pessoas físicas — em razão do aumento da inadimplência e da elevação do nível de endividamento do consumidor —, além das incertezas geradas pela situação fiscal do País e pelo cenário internacional, o que tem afetado as decisões de investimento.
O processo de redução do ritmo de crescimento da atividade econômica não tem gerado, até o momento, impactos negativos sobre o mercado de trabalho. Ao contrário, nota-se que a taxa de desemprego (5,6% no trimestre encerrado em julho) é a menor desde 2012. O rendimento médio trimestral cresceu 3,8% sobre o mesmo período do ano passado, enquanto a massa real de rendimentos cresceu 6,9% nos últimos 12 meses findos em julho.
Considerando que a demanda dos Serviços está fortemente associada ao nível de renda, esse comportamento do mercado de trabalho explica a manutenção do ritmo de alta do setor e a forte elevação dos preços (6,5% em 12 meses findos em agosto).
Não se pode esperar, porém, de forma realista, que esse quadro positivo do emprego vá se manter no fim deste ano e em 2026. Essa expectativa pode ser explicada pelos seguintes fatores: a) há um efeito defasado do aperto monetário sobre indicadores de emprego; b) projeções da pesquisa Focus apontam um crescimento do PIB de apenas 1,8% em 2026; c) dado o elevado custo de admissão e contratação, os ajustes efetuados pelas empresas referentes ao emprego ocorrem de forma defasada, na expectativa de que a desaceleração possa ser revertida (em alguns setores, esse ajuste é realizado incialmente nas horas trabalhadas e, depois, no emprego) ; d) o salário real médio não pode crescer sistematicamente acima da produtividade, como ocorre hoje.
Sinais de desaceleração já começam a ser observados nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Considerando a geração de vagas formais nos últimos 12 meses, verifica-se que, em fevereiro, foram criados 1,8 milhão de empregos, dado que caiu para 1,5 milhão em julho.
É importante observar que a expectativa vigente tanto para o fim de 2025 como para o próximo ano é de desaceleração do nível de atividade, e não de recessão. Como consequência, também não se espera contração do nível de emprego, mas geração menos pronunciada de vagas, com a evolução dos salários compatível com os ganhos de produtividade.
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