Além de receber o vencimento mensal de R$ 43.366,19, Eduardo Bolsonaro (PL/SP) já custou aos cofres públicos, em 2025, R$ 590.961,49. Entre verba de gabinete e salários de secretários parlamentares, esse foi o valor declarado apenas até abril — informação disponível a qualquer cidadão no site da Câmara dos Deputados. Os gastos referentes aos meses da licença parlamentar não constam do sítio virtual, mas, a partir de segunda-feira, o contribuinte seguirá financiando o mandato de um deputado que declaradamente não está no Brasil e não exerce suas funções parlamentares.
Em recente entrevista, o advogado do deputado faltoso chamou o Brasil de ditadura. Ora, se vivêssemos sob um regime autoritário, o mínimo que se esperaria de um deputado eleito seria a renúncia ao cargo. O Parlamento é a instância máxima da democracia representativa. Os direitos e as prerrogativas dos parlamentares decorrem da dignidade do cargo: o Congresso é a materialização da representação democrática. Se o deputado entende que vivemos em uma ditadura, o mínimo que se esperaria seria que renunciasse ao mandato de uma instituição que considera de fachada.
Perguntado sobre o impacto do recente faniquito tarifário de Donald Trump, Eduardo respondeu que “não imaginou” que suas ações pudessem repercutir dessa forma. A falta de imaginação talvez não seja o seu pior defeito — ainda que antever minimamente as ações dos demais atores seja requisito básico de qualquer articulador político, seja na arena nacional, seja na internacional.
O deputado, seus advogados e apoiadores têm o direito de afirmar publicamente que o Brasil é uma ditadura. Podem criticar o Poder Judiciário, os partidos de oposição e julgar injusto o processo em curso que busca responsabilizar os líderes da tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito. Podem, inclusive, recorrer a instâncias internacionais adequadas, como fez Maria da Penha ao buscar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA). Ironicamente, eles podem fazer tudo isso porque, graças à vontade do povo brasileiro — e após muito sofrimento — vivemos em uma democracia. Mas se o deputado tem dificuldade com a imaginação, não se pode esperar que compreenda a ironia.
Um pouco de memória não faz mal a ninguém. Cabe lembrar que 173 deputados tiveram os mandatos cassados durante a ditadura. Desses, 40 foram destituídos apenas dez dias após o golpe de 1964, a partir do Ato Institucional nº 1. Dentre eles, estavam Rubens Paiva, Leonel Brizola e João Doria (o pai). Em 2012, a Câmara dos Deputados realizou uma cerimônia simbólica que restituiu o mandato de todos os 173. A história honra os corajosos. E Maquiavel já nos ensinou: nada é melhor para a República do que um governante que ambiciona ser lembrado pelas próximas gerações.
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