Olhares para 2025: crise climática e IA

02 de janeiro de 2025

A Revista Problemas Brasileiros reuniu dez especialistas em suas respectivas áreas de conhecimento em torno de uma pergunta: o que esperar de 2025? As respostas foram tão diversas quanto as dificuldades e oportunidades que aguardam o Brasil nos próximos 12 meses. Aqui você confere os dois primeiros olhares, sobre crise climática e inteligência artificial. Ao longo das próximas semanas traremos as perspectivas para mais oito temas de atenção para o ano que está começando.

C

Carlos Nobre, climatologista, referência mundial em estudos sobre o aquecimento global

O mundo está em risco total”, afirma, pessimista, o cientista Carlos Nobre, um dos principais nomes no mundo quando o assunto é crise climática. Diante das sucessivas — e cada vez mais fortes — ondas de calor que atingem o planeta, e das queimadas que assolaram parte relevante do território nacional em apenas dois meses, ele é categórico: as metas de redução de emissões precisam ser antecipadas. 

“O mundo está em risco total”, afirma, pessimista, o cientista Carlos Nobre, um dos principais nomes no mundo quando o assunto é crise climática. Diante das sucessivas — e cada vez mais fortes — ondas de calor que atingem o planeta, e das queimadas que assolaram parte relevante do território nacional em apenas dois meses, ele é categórico: as metas de redução de emissões precisam ser antecipadas. 

Há mais de um ano, a temperatura média global está 1,5°C acima do registrado antes da Revolução Industrial. Se esse patamar persistir em 2025, há um risco exacerbado de chegarmos ao ponto que a comunidade científica imaginava que a Terra atingiria apenas entre 2033 e 2035. E por que a preocupação? “É uma antecipação perigosa. Mostra que as metas estipuladas no Acordo de Paris e nas COPs [Conferências das Nações sobre Mudanças Climáticas] 26 e 28 podem ser insuficientes”, reforça. Nobre lembra que um dos compromissos da edição 26, em 2021, era reduzir em 42% as emissões em comparação a 2019 e zerá-las até 2050, o que seria suficiente para limitar o aumento da temperatura de 1,5°C a 2°C até 2050.

No entanto, um planeta 1,5°C mais quente, mesmo que ainda não seja algo permanente, já causou recordes de eventos extremos. A persistência desses patamares exige uma rápida redução das emissões para chegar ao net zero (redução a zero das emissões líquidas de Gases de Efeito Estufa — GEEs) antes de 2050. Isso pode evitar o ponto irreversível, um “ecosuicídio” do planeta, nas palavras do próprio Nobre.

Algum refresco pode vir do La Niña, fenômeno climático que tem como efeito o resfriamento das águas do Oceano Pacífico. Contudo, o evento deve ocorrer em uma intensidade entre fraca e moderada, o que não será suficiente para reverter o aquecimento já registrado. Então, é fundamental, em nível mundial, diminuir o uso de combustíveis fósseis. No Brasil, país menos dependente do recurso natural, o desafio é zerar o desmatamento e adotar pecuária e agricultura regenerativas. Ademais, no curto prazo, combater as queimadas, muitas delas criminosas. “Se, no ano que vem, durante a COP30, em Belém, o nível de queimadas for o mesmo, o mundo inteiro vai cobrar o País”, alerta.

Eduardo Salvalaggio, CEO da Dishubtive e especialista em IA

O que há pouco tempo ainda parecia coisa de ficção científica se tornou realidade: a Inteligência Artificial (IA) saiu dos laboratórios e chegou ao cotidiano, do trabalho ao lazer. Na mídia, o assunto saiu das páginas de tecnologia e se tornou constante em outras editorias, da política ao comportamento. Ainda assim, só para 2025 é esperada uma maior aplicabilidade das ferramentas gerativas, que vão muito além do ChatGPT.

A avaliação é de Eduardo Salvalaggio, especialista no tema e CEO da Dishubtive. Segundo ele, o Comércio e, principalmente, a Indústria logo começarão a tirar proveito da ferramenta. “A IA generativa já permite reescrever a descrição de um produto ressaltando os atributos que o consumidor mais valoriza. É a época da hipersegmentação e da hipercustomização”, afirma. Salvalaggio — que lançou o primeiro curso sobre o assunto no Brasil — acredita que o comércio eletrônico já deu passos importantes na aplicação da IA e logo será corriqueiro apresentar produtos informações e cenários próximos às preferências do consumidor.

Na Indústria, uma das aplicações mais aguardadas é o uso da IA na sugestão de paradas programadas em máquinas e linhas de produção. No entanto, para isso ser realidade, as empresas precisam de profissionais com repertório para avaliar e pôr em prática as sugestões da ferramenta. “É uma tecnologia que funciona como um booster: o ser humano dá algumas informações e a IA responde. Quanto mais dados você fornecer, maior será o retorno. Com um profissional bem treinado, a máquina é mais produtiva”, avalia. Diante de avanços que impressionam, o especialista chama a atenção para uma questão preocupante: com a popularização da IA, um dos maiores desafios da sociedade é (e será) a disseminação de fake news

ESTA REPORTAGEM É PARTE DA EDIÇÃO #484 IMPRESSA DA REVISTA PB. A ÍNTEGRA DA PUBLICAÇÃO ESTÁ DISPONÍVEL NA PLATAFORMA BANCAH.

Ana Paula Ribeiro Débora Faria
Ana Paula Ribeiro Débora Faria