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Copom tranquiliza o mercado com nova ata

André Sacconato
é economista e integra a assessoria técnica da FecomercioSP
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André Sacconato
é economista e integra a assessoria técnica da FecomercioSP

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulgou na terça-feira (4) a ata de sua última reunião, quando elevou a taxa Selic em 1 ponto porcentual (p.p.), resultado amplamente esperado desde a divulgação anterior, quando a própria autoridade monetária sinalizou essa direção. O documento – o primeiro da gestão de Gabriel Galípolo à frente da instituição – detalha as discussões e decisões do comitê, abordando a conjuntura econômica, a dinâmica da inflação e o cenário externo. Publicada após cada reunião, a ata apresenta insights acerca das motivações por trás das deliberações e das projeções futuras do Copom.

A análise desse documento é importante para compreender a percepção dos diretores sobre o cenário macroeconômico e tentar antecipar os próximos passos da política monetária. Na última edição, a expectativa era ainda maior, pois alguns agentes econômicos interpretaram uma postura mais dovish [termo que descreve autoridades monetárias mais brandas no combate à inflação]. Esse receio foi intensificado após a nomeação de Galípolo à presidência da instituição.

Contudo, felizmente, o conteúdo da ata dissipou as incertezas. Embora reconheça sinais de desaceleração em alguns indicadores, o documento destaca que a maioria dos dados econômicos exige monitoramento atento nas próximas reuniões. O dinamismo da atividade econômica e do mercado de trabalho permanece evidente, e a própria desaceleração observada é considerada incipiente e sujeita a efeitos sazonais.

No cenário externo, por sua vez, o Copom recomenda cautela, especialmente para economias emergentes. O documento observa que os principais bancos centrais do mundo mantêm uma política monetária restritiva, visando à convergência da inflação para as suas metas, o que pode pressionar a taxa de câmbio e, consequentemente, alimentar preocupações com a dinâmica inflacionária interna.

Ademais, a ata ressalta que “as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de distintos grupos de agentes, elevaram-se de forma significativa em todos os prazos, indicando desancoragem adicional e tornando o cenário inflacionário mais adverso”. O Copom ainda manifesta desconforto com o cenário fiscal, afirmando que “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária”.

Em síntese, a ata revela uma análise alinhada com a realidade econômica e as aflições do momento, o que é um sinal positivo para o mercado, uma vez que o documento reforça que o Bacen permanece comprometido com uma abordagem técnica e vigilante — dependendo, entretanto, de uma política fiscal mais austera para evitar novos aumentos na taxa de juros.

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