O negacionismo econômico é mais uma faceta do movimento que rejeita as mudanças climáticas e seus efeitos. De acordo com o embaixador André Aranha Corrêa do Lago, presidente designado da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), negar a crise que vivemos em nome da economia é um erro estratégico.
“Dizem que é muito caro combater a mudança do clima, que não vale a pena, porque vai acontecer de qualquer maneira. Mas não é assim, a ciência nos diz que, com mitigação e adaptação, vamos conseguir reduzir as consequências disso”, defende.
O presidente da COP30 cita, como exemplo, o caso do Rio Grande do Sul. “Certos investimentos de infraestrutura em Porto Alegre poderiam ter diminuído o impacto extremamente negativo das enchentes do ano passado”, adverte.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL e à Revista Problemas Brasileiros — ambas realizações da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, em parceria com o RenovaBR, Corrêa do Lago debate os principais temas desta COP e revela a expectativa de que o Brasil saia da conferência “melhor e mais contemporâneo”.
A íntegra da entrevista em vídeo está disponível no Canal UM BRASIL. E confira abaixo os principais pontos da conversa.
Falar sobre clima é falar sobre dinheiro. O custeio de ações de mitigação e adaptação climáticas será um dos principais temas do evento, que reúne representantes de nações de todo o mundo para debater as mudanças do clima. Na COP30, que ocorre em Belém, capital do Pará, em novembro, os países terão de definir caminhos para arrecadar US$ 1,3 trilhão (R$ 7,2 trilhões) em financiamento.
Modelo encontra resistência. A ideia por trás desse conceito é que os países ricos — que, historicamente, são os grandes emissores dos Gases de Efeito Estufa (GEE) — financiem soluções climáticas nos territórios em desenvolvimento. Mas, nas últimas conferências, houve resistência em atender à demanda dos países mais pobres por mais dinheiro. “A negociação de mudança do clima se transformou numa grande divisão entre Norte e Sul”, avalia o embaixador.
Clima deve guiar investimentos. Para o presidente da COP, o que realmente resolveria o problema seria embutir o clima em todas as movimentações de investimentos. “Se você só pudesse investir e obter recursos se a questão climática fosse levada em consideração, isso certamente reuniria US$ 1,3 trilhão e muito mais”, afirma.
País sairá melhor da conferência. “Esta COP30 deve contribuir para que o Brasil dê um salto na direção de um novo tipo de desenvolvimento: o sustentável”, opina Corrêa do Lago. Após o encontro, ele acredita que o País estará mais integrado na discussão da economia de baixo carbono.
Agenda verde trará avanço econômico. O presidente da COP projeta um futuro com mais investimentos na redução de emissões e consequente melhoria na vida das pessoas. “Esta nova agenda pode trazer grandes vantagens econômicas. O Brasil pode ser um dos maiores beneficiários disso”, ressalta.
Transição é uma agenda de negócios. Corrêa do Lago também vê no tema uma oportunidade para atrair recursos ao País. Para ele, a COP vai contribuir para mostrar ao mundo que é mais barato investir em transição no Brasil do que em outros lugares. “É mais uma oportunidade para os negócios, para investimentos”, diz.
Agenda de ação. Para além das negociações entre países, o presidente da COP30 explica que o encontro será marcado por uma agenda que tem como base o Balanço Global do Acordo de Paris. “Vamos transformar esse consenso em ação”, explica. “E isso é uma oportunidade incrível para todo o setor privado nacional.”
Oportunidades extrapolam setor público. Em um momento no qual o mundo todo discute a transição, Corrêa do Lago lembra que o País desenvolve soluções em áreas essenciais para o combate à mudança climática, como as renováveis, a agricultura e as florestas. “Pelo fato de o mundo ter adotado, por consenso, o direcionamento a uma economia de baixo carbono, abre-se um número muito grande de oportunidades para as empresas privadas no País”, opina.