Artigo

Reputação para a transição

Paulo Nassar
é diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e professor titular na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Hamilton dos Santos
é diretor-executivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).
A
Paulo Nassar
é diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e professor titular na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Hamilton dos Santos
é diretor-executivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).

A 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP30) da Organização das Nações Unidas (ONU) é, antes de tudo, sobre o clima — e precisa continuar sendo. Além disso, o evento se consolidou como espaço ampliado de disputa por narrativas, visibilidade e influência. Ao acontecer no Brasil, a Conferência ganha contornos simbólicos que vão além da pauta climática — e é essencial que as empresas reconheçam que estar presente é relevante, mas não substitui o dever contínuo de oferecer bons produtos, atender às expectativas dos consumidores e manter coerência entre discurso e prática.

A reputação, nesse contexto, deixa de ser apenas reflexo da conduta e passa a funcionar como um índice de confiança coletiva. E torna-se um ativo indispensável para os negócios que pretendem transitar com legitimidade rumo a uma economia de baixo carbono.

Setores tradicionalmente expostos a pressões socioambientais, como Agronegócio, Energia e Mineração, estão, sim, na linha de frente e ainda precisam investir mais esforços para mudar a percepção da sociedade. Entretanto, a COP30 deixa claro que a reputação, atualmente, é um fenômeno em rede — não basta fazer, é preciso também articular, engajar e comunicar com responsabilidade e coerência. O risco reputacional contemporâneo não está apenas na ação, mas também na circulação simbólica dessa ação num ambiente marcado por desinformação, vigilância e polarização.

Os dados da pesquisa Comunicação e Engajamento Empresarial na COP30 (Aberje, 2025) ajudam a entender o cenário. Embora 52% das organizações nunca tenham participado de nenhuma conferência do clima, e apenas 18% planejem participar da COP30 como convidadas oficiais, a grande maioria já coloca o tema da sustentabilidade entre as prioridades estratégicas (93%) e tem estrutura formal para a sua gestão (90%). Mesmo entre as empresas que não estarão em Belém, 70% pretendem se envolver com a agenda climática em 2025, por meio de ações internas, monitoramento dos desdobramentos do evento ou envolvimento com marcos regulatórios.

Os dados também mostram que a reputação depende menos de mensagens e mais da capacidade de articulação. A comunicação, nesse cenário, é o principal vetor de inteligência reputacional. As empresas que compreenderem essa nova lógica simbólica estarão mais bem posicionadas para navegar, com resiliência e legitimidade, pelas transições que a crise climática demanda. A COP30 é, assim, menos um destino e mais um espelho, revelando não só onde estamos, mas o quanto somos capazes de construir sentido coletivo em tempos de crise.

ESTE ARTIGO FAZ PARTE DA EDIÇÃO ESPECIAL COP30 (SET/OUT) DA REVISTA PB.
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