Artigo

Novos ventos e novos climas para o setor privado

Mônica Sodré
é cientista política, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), entrevistadora do Canal Um Brasil e diretora-executiva da Meridiana, organização de inteligência política que apoia tomadores de decisão na conexão entre natureza e desenvolvimento econômico.
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Mônica Sodré
é cientista política, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), entrevistadora do Canal Um Brasil e diretora-executiva da Meridiana, organização de inteligência política que apoia tomadores de decisão na conexão entre natureza e desenvolvimento econômico.

A economia e a ciência do clima têm um encontro marcado. Há mais de 50 anos, as evidências apontam que o mundo está aquecendo — e, historicamente, isso foi tratado como uma questão ambiental. O presente e o futuro, no entanto, mostram que esse é um problema econômico.

As perdas globais de quase US$ 4,2 trilhões nos últimos 30 anos, segundo dados da organização alemã Germanwatch, são um alerta sobre como eventos extremos já estão redesenhando diversos setores. No caso do Agronegócio, por exemplo, que representa 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a escassez de água exigirá inovações em biotecnologia de ponta — como sementes resistentes à seca — e inovação na Pecuária, como raças mais tolerantes ao calor extremo.

Uma vez que essas atividades são intensivas em capital, será fundamental garantir que pequenos e médios produtores tenham acesso a crédito e assistência técnica para que possam se adaptar. Considerando que boa parte do setor é subsidiada com recursos públicos (e que o custo do dinheiro ficará maior), avizinha-se a hora de discutirmos até quando o Estado será capaz de dar suporte à produção agrícola do País. A agenda de ação da 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP30), da Organização das Nações Unidas (ONU), tem justamente destacado a importância de mecanismos financeiros inovadores e acessíveis para apoiar setores como esses.

No caso das seguradoras, o novo cenário exigirá, por exemplo, a ampliação da escala de seguros paramétricos — nos quais a indenização ocorre com base em índices como volume de chuvas e velocidade do vento — e a ampliação da cobertura com divulgação da exposição a riscos climáticos por região, permitindo aos clientes escolhas mais conscientes.

Diante desses desafios, o setor privado pode atuar em parceria com o setor público. Prefeituras e governos estaduais terão de criar fundos para catástrofes, retirando recursos de outras áreas prioritárias, e precisarão de parcerias para fornecimento de capacidades. Essas ações locais, mencionadas como prioritárias na COP30, são imprescindíveis para conectar soluções.

O futuro será mais incerto e com mais riscos. Assim, é fundamental que as empresas sejam capazes de analisar o cenário político e mensurar o impacto do risco climático para seus negócios, ampliando a análise hoje concentrada quase exclusivamente na volatilidade dos preços nas Bolsas de Valores. Se a economia e a ciência do clima têm um encontro marcado, do seu resultado deve sair uma mudança radical no mundo das finanças e dos negócios, com os CFOs — diretores financeiros — nas salas.

ESTE ARTIGO FAZ PARTE DA EDIÇÃO ESPECIAL COP30 (SET/OUT) DA REVISTA PB.
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