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Efeitos do tarifaço de Trump

Antonio Lanzana
é presidente do Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC)
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Antonio Lanzana
é presidente do Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC)

Desde a posse de Donald Trump, a economia mundial vive momentos de instabilidade e incertezas gerados pelas constantes decisões e ameaças do presidente norte-americano quanto às tarifas de importação. É o fim de uma era que começou no pós-guerra e o início de uma nova ordem mundial, que ninguém sabe exatamente onde vai parar. Basta observar que a expectativa é de que a tarifa média de importações dos Estados Unidos passe de 2% para algo próximo a 20%, podendo ficar até acima disso.

Nesse contexto, o Brasil, que estava entre os países com menores taxas de importação (10%), foi surpreendido com um tarifaço de 50%, parcialmente aliviado com a divulgação de uma extensa lista de exceções. É a maior taxa imposta pela nação norte-americana, mesmo entre os países do Brics — a África do Sul foi taxada em 30% e a Indonésia, em 32%. É um enorme retrocesso no relacionamento bilateral. Considerando que os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil — de US$ 1,7 bilhão, no primeiro semestre deste ano —, fica claro que a decisão é de caráter político, com mensagens para atender ao público estadunidense, alertar aliados estratégicos e advertir adversários globais.

Na análise dos impactos sobre a economia brasileira, chama a atenção, em primeiro lugar, a enorme incerteza sobre como ficará esse quadro num futuro próximo. É o começo de uma longa jornada cuja evolução é difícil de analisar.

Trump é totalmente imprevisível, podendo ceder ou radicalizar, e o que vale hoje pode não valer amanhã. É possível que haja espaço para negociação, pois o que se assistiu até agora foi uma imposição unilateral. As negociações podem ocorrer entre governos e entre os setores privados dos dois países, com a chance de aumentar a lista de isenções. Outro item de indefinição é como o governo brasileiro vai se posicionar daqui para a frente.

E há ainda a questão da abertura, por ordem de Trump, de investigação comercial contra o Brasil — com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 —, que permite retaliar nações contra práticas comerciais consideradas injustas, discriminatórias ou restritivas para os Estados Unidos. Não é possível concluir como vai evoluir esse processo.

Considerando que cerca de 40% das exportações brasileiras estarão isentas e supondo que o governo do Brasil não adote medidas de reciprocidade, pode-se concluir que os efeitos de curto prazo sobre o Produto Interno Bruto (PIB) serão limitados — próximos a 0,2% ou 0,5% —, dado que as exportações para os Estados Unidos representam pouco menos de 2% do PIB brasileiro.

As maiores consequências ocorrerão sobre os setores e as empresas que não estão na lista de isenções e têm nas exportações para os Estados Unidos uma parcela significativa das suas receitas. Por outro lado, pode-se esperar efeitos positivos sobre a inflação pelo aumento da oferta interna, o que pode antecipar o início de um período de redução dos juros.

Numa visão de prazo mais longo, o Brasil pode ver reduzido o fluxo de investimentos diretos, pois muitas empresas aqui instaladas são norte-americanas e exportam para os Estados Unidos. Um outro ponto é o redirecionamento das exportações, com a conquista de novos mercados, proposta que vem ganhando corpo. É positivo, mas esse é um processo que leva tempo. A busca por mercados é constante pelo setor exportador. Novos acordos comerciais — como tem sido sondado com México e Canadá — levam anos para serem implementados. E há, ainda, a incerteza sobre como ficará a nova ordem mundial, inclusive com acordos que podem afetar as exportações brasileiras.

ESTE ARTIGO FAZ PARTE DA EDIÇÃO #488 (SET/OUT) DA REVISTA PB. CONFIRA A ÍNTEGRA, DISPONÍVEL AQUI.

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