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Como se proteger da alta do dólar?

André Sacconato
é economista e integra a assessoria técnica da FecomercioSP
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André Sacconato
é economista e integra a assessoria técnica da FecomercioSP

Na quarta-feira (12), a cotação do dólar ultrapassou os R$ 5,40, após dados positivos da economia dos Estados Unidos e falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a política fiscal brasileira. Além disso, a economia norte-americana continua mostrando sinais de força, o que deve contribuir para que o Federal Reserve (FED), o banco central dos EUA, mantenha os juros do país na taxa atual, que oscila dentro de uma banda entre 5,25% e 5,5% ao ano, desde julho do ano passado. Com juros historicamente altos, os títulos públicos de lá se tornam mais atraentes para o investidor, e há um fluxo capital para essas aplicações. Por isso, o dólar se valoriza em relação a outras moedas do mundo, principalmente de países emergentes. E, claro, o real entra nessa história, porque a saída de dólares do Brasil rumo aos Estados Unidos reduz a oferta da moeda por aqui.

Mas não é só isso. No cenário doméstico, Lula disse, em evento no Rio de Janeiro, que está buscando o equilíbrio fiscal, mas não previu cortes de gastos. O governo sofreu uma derrota após o Congresso rejeitar parte da Medida Provisória (MP) que restringe o uso de créditos tributários por empresas. A desconfiança do mercado financeiro quanto aos caminhos do governo rumo ao prometido equilíbrio das contas públicas bateu justamente no câmbio, levando à valorização do dólar em comparação com o real.

A turbulência no meio da semana passada fez a equipe econômica de Brasília se pronunciar. Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, defenderam a intensificação da agenda de revisão e corte de gastos. Haddad disse que já existe uma equipe focada na revisão de gastos, mas garantiu que haverá, a partir de agora, uma intensificação nos trabalhos para que possa haver mais clareza na elaboração do Orçamento de 2025. E afirmou que está sendo feita uma reavaliação “ampla, geral e irrestrita das despesas do País”. Além disso, destacou que todas as propostas dos senadores para compensar a desoneração da folha de pagamentos dos 17 setores da economia serão processadas e que os poderes vão chegar a um denominador comum rapidamente. Já Tebet disse haver margem para rever despesa e que o governo não quer aumentar a carga tributária. Em evento no Rio, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, também engrossou o coro em favor do controle de gastos e do compromisso do governo com a responsabilidade fiscal. O mercado, enfim, se acalmou, e o dólar foi para mais perto dos R$ 5,30.

O movimento recente já foi captado pelo Boletim Focus desta semana, elaborado pelo Banco Central (BC) e que traz as projeções do mercado para diversos indicadores econômicos. O último boletim mostrou que a mediana das expectativas é de dólar a R$ 5,13 no fim de 2024, contra uma previsão de R$ 5,05 da semana anterior.

O que faz a taxa de câmbio subir e descer?  

O modelo de câmbio no Brasil é flutuante: é o mercado quem determina a taxa de câmbio, e o BC não tem o compromisso de comprar divisas do mercado. Então, a oferta e demanda por dólares aqui é que faz a diferença. No entanto, há intervenção quando a autoridade monetária vê necessidade. Seria um risco, por exemplo, uma desvalorização inesperada de 10% num só dia. Além do impacto sobre a inflação interna (por exemplo, aumento do preço em reais do barril de petróleo), os que têm dívida em dólares teriam um aumento da dívida em reais em 10% de uma só vez. Nesses casos, o BC interfere no mercado, comprando e vendendo divisas, de forma a manter a taxa de câmbio em níveis adequados, sem grandes oscilações.  

A oferta de divisas depende dos exportadores — que querem trocar os dólares que ganharam por moeda nacional, pois têm receita em dólares e custos em reais —, da entrada de investimentos e empréstimos externos, de recebimentos diversos (como os lucros de empresas brasileiras no exterior) e dos turistas que entram no País. Já a demanda depende dos importadores, que precisam pagar as compras no exterior em dólares, da saída de capitais financeiros, de pagamentos diversos e de turistas brasileiros que compram dólares aqui para gastar no exterior. Contudo, há um fator menos palpável que pesa sobre o câmbio: as expectativas. É aí que entram as falas do governo e a incerteza quanto aos rumos da política monetária dos EUA.

Como se proteger?

Essas instabilidades na cotação do dólar acabam afetando as empresas brasileiras que atuam no comércio exterior ou que comercializam produtos importados. Com base nas projeções do mercado, esses negócios elaboraram o planejamento com um valor de referência, como o apontado pelo Focus, por exemplo. Agora, considerando o cenário de instabilidade, como as empresas podem se proteger?

A Federação do Comércio de Bens, Serviços em Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) traz alguns pontos de atenção. A primeira dica é buscar informações confiáveis. Sabendo quem demanda e quem oferta câmbio, é importante considerar o movimento de exportadores e importadores. A Entidade fornece, mensalmente, uma carta de conjuntura com análise do câmbio. A segunda é nunca almejar ganhar na taxa de câmbio, mas focar no próprio produto ou serviço. Para quem trabalha com itens importados, diversificar os fornecedores pode ser uma alternativa para negociar condições comerciais melhores e evitar um aumento de preços para o cliente final.

O setor financeiro oferece muitos produtos que proporcionam variação cambial mesmo sem contar com dólares físicos na troca. Exportadores e importadores que tenham dívidas em dólar, ou dependam de insumos importados, geralmente investem em estratégias voltadas ao mercado futuro, criando modelagens para mitigar os riscos das variações cambiais. Isso acontece porque essas empresas costumam ter compromissos em moeda estrangeira — e quando a cotação da moeda sobe, os seus custos aumentam, comprometendo os resultados financeiros.

É aqui que o hedge cambial usa o dólar como estratégia de proteção para outros ativos ou operações. Para contornar problemas como esses, as empresas podem investir em contratos futuros de dólar, fixando um valor da moeda para a data de liquidação do compromisso. Dessa forma, mesmo diante de variações na cotação da moeda, esses negócios já têm assegurado o direito de negociar dólares por um valor determinado — ou seja, sabem exatamente o montante que precisam desembolsar. O importante é que o valor não mude e o ganho seja no lucro, e não na variação cambial.

Preserve-se! Busque informação, procure produtos financeiros que possam defender você de uma variação cambial e lembre-se sempre de que o seu negócio é o que importa — e não ganhos financeiros com variação cambial.

Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.