A economia brasileira entra na segunda metade de 2024 sob a influência de um conjunto de incertezas, tanto no cenário externo como no âmbito doméstico. Nos Estados Unidos, embora surjam sinais de que a atividade econômica começa a sentir “na margem” os efeitos dos juros elevados, verifica-se que o núcleo da inflação — que exclui os produtos com muita volatilidade de preços — ainda se encontra pressionado pelos serviços e pelo mercado de trabalho. Como consequência, permanecem as dúvidas sobre o momento em que os juros começarão a cair, lembrando que a eleição se aproxima e o Federal Reserve (FED), banco central norte-americano, precisa se mostrar apolítico. Muitos analistas, inclusive, acreditam que as taxas permanecerão inalteradas até o fim do ano.
Internamente, além da intervenção na Petrobras, que afeta o mercado acionário, e o desastroso episódio da desnecessária importação de arroz, o mercado elevou as preocupações com a situação fiscal do País. Isso ocorre por vários motivos: a) mudança nas metas do arcabouço fiscal, poucos meses após a aprovação; b) subestimação dos gastos com Previdência; c) despesas com a recuperação do Rio Grande do Sul; d) pronunciamentos frequentes do governo sinalizando que o ajuste fiscal será feito mediante aumento de impostos e redução de juros, numa circunstância que garanta expansão de gastos; e) aumento de impostos se torna cada vez mais difícil no Congresso, que tem forçado derrotas frequentes ao governo; f) pronunciamentos mais recentes de ministros da área da Economia de que pretendem cortar despesas públicas não geraram credibilidade — até mesmo pela falta de propostas mais concretas.
O ambiente de incertezas se reflete, inicialmente, no mercado financeiro, com elevação de mais de 30% no risco-país — calculado pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos — nos últimos dois meses do primeiro semestre; no câmbio, que passou de cerca de R$ 4,90, entre fevereiro e março, para perto de R$ 5,40, em junho; e na queda de mais de 5% do Índice Bovespa nos dois últimos meses.
Como essa conjuntura impacta a economia brasileira no segundo semestre? Há de se separarem os impactos já destacados sobre as variáveis financeiras, as primeiras a serem afetadas, e o chamado lado real da economia. Num momento inicial, o desequilíbrio fiscal impulsiona a atividade econômica, como ocorreu nos primeiros meses do ano, e deve manter algum crescimento no segundo semestre. Não será uma expansão forte, porque os juros ficarão mais elevados, e o potencial de crescimento nacional é limitado pela reduzida taxa de investimento (de 16,9%, no primeiro trimestre de 2024) e pelo baixo desenvolvimento da produtividade. Pode-se esperar uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2% ao fim do ano, novamente abaixo do crescimento mundial, que deve ser de 3,2%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, o mercado de trabalho ainda deve apresentar resultados positivos no próximo semestre.
Ao mesmo tempo que a política fiscal expansionista favorece a atividade econômica no curto prazo, começa a pressionar a taxa de inflação, que voltou a subir na variação anual e deve continuar acelerando nos próximos meses. Isso obrigou o Banco Central a interromper o processo de corte dos juros, mantendo a Selic acima do previsto inicialmente. É muito provável que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — medição considerada para o cumprimento das metas oficiais — encerre 2024 muito próximo do teto (4,5%).
A conjugação entre desequilíbrio fiscal e política expansionista cria estímulos no curto prazo, mas é insustentável no tempo, pois gera aumento da inflação e pressiona para baixo o potencial de crescimento. Portanto, os próximos seis meses serão de transição.
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