Artigo

Desafios econômicos para 2023

Antonio Lanzana
é copresidente do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC).
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Antonio Lanzana
é copresidente do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC).

Embora as discussões envolvendo a sucessão presidencial estejam concentradas em assuntos imediatos (preços dos combustíveis e da energia elétrica, assim como transferências governamentais), é importante destacar que o presidente eleito vai enfrentar uma série de desafios na área econômica em 2023.

A elevada inflação observada em praticamente todo o mundo está obrigando os Bancos Centrais a elevar as taxas de juros, indicando perspectiva de forte desaceleração da economia mundial, ou até mesmo de recessão, no próximo ano. O Brasil será duplamente afetado por este cenário: de um lado, os preços das commodities tendem a cair (o que já está ocorrendo), lembrando que, nos últimos anos, as fases de melhor desempenho econômico do País estiveram associadas à alta dos preços das commodities; de outro, o aumento da aversão ao risco, normal em períodos de contração da atividade mundial, afetará os países emergentes (incluindo o Brasil), impactando o fluxo de recursos estrangeiros e, consequentemente, a taxa de câmbio. 

A inflação, apesar de indicar tendência de desaceleração até o final do ano, permanecerá muito alta, com o IPCA encerrando 2022 próximo a 7% (muito acima do centro da meta, 3,5%, e do teto, 5%). Ao mesmo tempo, porém, em que as previsões de inflação para este ano vão se reduzindo, as estimativas para 2023 vão subindo, afinal, a expectativa atual de redução do ritmo de crescimento dos preços ocorre a partir de ações artificiais. Este quadro sinaliza que as taxas de juros devem permanecer muito elevadas ao longo do próximo ano, para não se verificar mais um “estouro” da meta.

O maior desafio do próximo governo será, certamente, promover o ajuste fiscal. É importante lembrar que: a) as condições que permitiram um aumento considerável das receitas neste ano (isto é, aumento dos preços de produtos com alta taxação, como combustíveis e energia elétrica, e elevação dos preços das commodities) não se manterão em 2023; b) haverá muita pressão para a manutenção das “benesses” recentes (aumento do auxílio emergencial de R$ 200,00; elevação do vale-gás; auxílio para caminhoneiros autônomos; subsídio à gratuidade para idosos; compensação a Estados, para garantir competitividade tributária do etanol hidratado em relação à gasolina; auxílio a taxistas; e suplementação orçamentária para o Programa Alimenta Brasil), ainda que sejam válidas somente até o final do ano; c) haverá necessidade de definir um novo modelo de controle dos gastos públicos, dado que o atual teto de gastos está desmoralizado, com as várias alterações processadas; e d) a ausência de um ajuste fiscal mais significativo impactará negativamente o risco país, com consequentes reflexos na taxa de câmbio e, portanto, na inflação.

Outra preocupação está na taxa de desemprego, que vem mostrando redução nos últimos meses, contudo, deve encerrar o ano com números ainda elevados. A sociedade brasileira demanda não somente a criação de novos postos de trabalho. Também precisa de empregos de melhor qualidade. O alcance deste duplo objetivo está diretamente associado ao ritmo de crescimento econômico. As previsões de expansão do PIB para 2023, no entanto, não são animadoras, e vêm sendo sistematicamente reduzidas, como mostra a pesquisa FOCUS (último resultado indicou crescimento esperado de 0,5%).

O controle da inflação e o ajuste das contas públicas podem até ser pré–requisitos para se alcançar um período de crescimento econômico sustentado. Mas, no curto prazo, estes objetivos são conflitantes, situação típica de 2023. E o cenário internacional não vai colaborar.

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