O ano de 2022 será emocionante, com duas disputas importantes: as eleições e a Copa do Mundo. A disputa eleitoral será quase que um recall das eleições de 2018, porém, sob ambientes econômico e social bastante conturbados. A polarização – que já era grande – se exacerbou e o Brasil enfrentou uma pandemia global, tudo isso em meio a um cenário de reformas. Basicamente, o País está tentando “cobrir o telhado debaixo de chuva”. Tudo isso torna o cenário intrigante e dramático.
Internacionalmente, o Brasil, durante a crise sanitária, comportou‑se de forma parecida com a do resto do mundo. Adotou algumas medidas que protegeram os cidadãos mais vulneráveis (o auxílio emergencial) e deu suporte às empresas durante os momentos mais críticos (Pronampe, para dar crédito e suspensão de contratos de trabalho e eventuais postergações de impostos). Assim, a economia recuperou em formato de “V”. No entanto, infelizmente, com uma enorme diferença nas condições de saída da crise. Embora as previsões para o crescimento mundial estejam se arrefecendo para este ano, a situação ainda é muito positiva, enquanto por aqui, a conjuntura é bem mais pessimista, diante de uma conjuntura política que tem dificultado muito o equilíbrio fiscal e a contenção da inflação. O cenário internacional não é o problema para 2022.
Os problemas surgem, a começar, na Indústria, área em que o Brasil não consegue manter um ritmo de crescimento de longo prazo. O histórico mostra que são poucos períodos de desenvolvimento e, normalmente, apenas posteriores a momentos de crise aguda. Em outras palavras, o crescimento da indústria é absolutamente circunstancial há questão de décadas. A entrada de países do Sudeste Asiático, em especial da China, no circuito global produtivo foi um evento que não consegue ser superado – e não parece que isso se resolverá nos próximos meses, o que aponta para mais um ano de retração produtiva.
Já o setor de Serviços, o primeiro a ser atingido pelos efeitos da pandemia, será o último a se recuperar. O ritmo continua desacelerado, e há um caminho longo para recuperar as perdas, apesar do patamar atual do volume de serviços estar próximo ao que se via em 2019. Enquanto isso, as perspectivas de crescimento do Varejo em 2021 marcaram algo entre 4% e 6%, patamar que, conforme previsto, foi revisto para baixo ao longo dos últimos meses do ano. O Comércio, por sua vez, não caiu tanto entre 2020 e 2021, porém, agora, o setor, que recebeu muitos estímulos, dá sinais claros de esgotamento.
Ainda é nebuloso o que pesará mais na decisão dos consumidores. O ano passado terminou com um resultado relativamente positivo na empregabilidade, mas salários médios mais baixos. Além disso, o consumidor está bastante endividado, ao passo que as famílias mais ricas ainda mantêm bom grau de poupança (e demanda reprimida), por causa da não retomada plena dos serviços – ainda não se vê o patamar de viagens, lazer e entretenimento de volta àquele visto antes da crise.
Como o ambiente é incerto em 2022, não se pode garantir que um eventual excedente de poupança das famílias mais ricas e a retomada do emprego entre os mais pobres resultarão em mais consumo interno, pagamento de dívidas ou cautela na forma de poupança. Esta definição depende da confiança do consumidor, a qual está justamente atrelada a coisas simples, como emprego, renda e inflação. Nada disso está claro, e o consumidor tende a ser mais conservador.
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