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Inflação e crescimento, o eterno conflito

Antonio Lanzana
é copresidente do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC).
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Antonio Lanzana
é copresidente do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC).

Nos últimos três anos, a expansão da economia brasileira foi de 3,3% ao ano (a.a.), levando à impressão de que o potencial de crescimento do País teria se elevado de forma expressiva. As expectativas para 2025 e 2026 encarregaram-se de negar essa conclusão e mostrar a real situação da nossa economia.

De acordo com a pesquisa Focus, do Banco Central (BC), o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer 2%, neste ano, e 1,7%, em 2026. Para entender esse cenário, é importante chamar a atenção para o fato de que o maior crescimento dos anos recentes foi viabilizado pela existência de capacidade ociosa, o que permite, por algum período, o País crescer além do seu potencial. Isso ocorreu porque, nos últimos dez anos, o PIB cresceu à razão de apenas 0,9% a.a. Ao se esgotar a ociosidade, a manutenção do crescimento acima do potencial leva, inevitavelmente, à aceleração da inflação, como está acontecendo. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 12 meses, findos em abril, está em 5,53% para uma meta de inflação de 3%, com teto de 4,5%.

O potencial de crescimento do Brasil é baixo porque a taxa de investimento — volume de investimentos em relação ao PIB — foi de apenas 17% em 2024, e 16,4% na média dos últimos dez anos. Considerando que a depreciação do estoque de capital represente cerca de 15% do PIB, o “investimento líquido” é muito baixo. Além disso, a produtividade da economia brasileira apresenta desempenho pífio: na última década, a produtividade por hora trabalhada ficou estagnada — 0% de acordo com o Observatório da Produtividade da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O crescimento acima da capacidade do País obriga o BC a elevar a taxa de juros para contrair a demanda da economia e reduzir a inflação, o que explica a vigência, no Brasil, de taxas reais de juros de cerca de 8% ou 9% anuais, os quais devem se manter elevadas por um período mais longo, como reconhece o próprio presidente do BC.

Nesse sentido, vale destacar dois pontos: o primeiro é a defasagem de dois a três quadrimestres existente entre elevação dos juros e redução da inflação; o segundo está associado à tentativa do governo de recuperar a popularidade, adotando medidas que vão na contramão do objetivo do BC de reduzir a demanda da economia. São medidas de ordens fiscal, parafiscal e creditícia, como o programa Pé-de-Meia, a ampliação do crédito consignado para trabalhadores formais, a facilitação do acesso ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o aumento da faixa de renda com acesso ao programa Minha Casa Minha Vida com recursos do Fundo Social do pré-sal, a isenção ampliada de acesso gratuito à energia elétrica, entre outras. De um lado, o BC tenta reduzir a demanda, pisando no freio; de outro, o governo pisa no acelerador.

Enquanto não aumentar, de forma significativa, a produtividade da economia brasileira e a taxa de investimento — como no passado, na casa dos 23% do PIB —, a manutenção de taxas reduzidas de inflação (condição indispensável para um crescimento sustentado) somente ocorrerá com expansão do PIB limitada a cerca de 2% a.a., que é o ritmo de expansão do produto potencial brasileiro.

Inverter essa situação passa, necessariamente, por um ajuste das contas públicas, com um novo regime fiscal que permita estabilizar e, posteriormente, reduzir a relação entre dívida e PIB. Somente assim será possível baixar os juros, criar um ambiente de negócios mais favorável e viabilizar volumes crescentes de investimentos, tanto internos como externos.

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