O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, marcou o início da construção de uma nova ordem internacional, com a criação de instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) — depois transformado na Organização Mundial do Comércio (OMC). Elas foram pensadas não apenas para evitar os erros protecionistas da década de 1930, mas também para tornar a integração econômica e a interdependência entre países num instrumento de paz duradoura.
Em 2025, essa arquitetura global está sendo questionada em seu epicentro: os Estados Unidos, justamente o principal arquiteto desse sistema. O governo do presidente Donald Trump tem rompido com a lógica econômica defendida desde Adam Smith, economista para quem a riqueza de uma nação está na alocação eficiente de recursos produtivos e na ampliação do bem-estar, e não em superávits comerciais. O comércio internacional, nesse entendimento, é uma via de mão dupla — favorece o acesso a bens e insumos mais baratos por meio das importações e permite ganhos de produtividade e escala com as exportações.
Ignorando acordos multilaterais, inclusive da OMC, os Estados Unidos elevaram tarifas de importação para todos os seus parceiros, inclusive a Europa. No caso da China, a taxação chegou a 125%. Após o anúncio de tarifas recíprocas, a aplicação da medida foi adiada por 90 dias (exceto para a China), abrindo espaço para negociações bilaterais. A imposição tarifária deve se manter em pelo menos 10%, de forma permanente.
Duas leituras predominam sobre essas ações. A primeira enxerga uma tática de negociação dura, com foco em conter o avanço chinês e reafirmar a hegemonia norte-americana. Sob essa ótica, os custos econômicos imediatos seriam o preço a pagar por ganhos estratégicos futuros. A segunda aponta para uma política personalista e desinformada, baseada na nostalgia dos anos 1950 e 1960 e em uma visão distorcida do seu déficit comercial — compensado por superávits em serviços e capitais. Dados mostram que a economia do país segue forte, com salários reais e produtividade elevados. Os setores mais afetados pela concorrência externa, como têxtil e vestuário, já estavam em declínio. O impacto chinês sobre o emprego industrial é estimado em 3 milhões de vagas perdidas em décadas, um número modesto diante da rotatividade mensal do mercado de trabalho estadunidense. As políticas protecionistas, somadas às restrições migratórias, tendem a elevar custos e alimentar a inflação, acentuando o risco de estagflação global.
Diante dessa situação incerta, o Brasil precisa agir com inteligência e pragmatismo, retomando a sua tradição diplomática, evitando retaliações comerciais e priorizando negociações multilaterais e bilaterais. É hora de estreitar laços com os Estados Unidos, garantir acesso ao seu mercado, avançar com o acordo Mercosul–União Europeia e atender à maior demanda chinesa por insumos, deslocada pelas tarifas. O País também pode aproveitar o momento para modernizar a Indústria e a Infraestrutura, importando máquinas e atraindo investimentos externos — especialmente os redirecionados dos Estados Unidos, como europeus e chineses. Nesse sentido, é essencial melhorar o ambiente de negócios.
A resposta brasileira deve ser de abertura estratégica, e não de retração. Em tempos de ruptura, transformar a crise mundial em oportunidade depende de visão, diplomacia e ação coordenada.
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