O mercado de bebidas é uma parte vital das economias global e nacional, transcendendo o simples consumo para promover o desenvolvimento econômico, a inovação tecnológica e as práticas sustentáveis. Englobando uma ampla gama de produtos, como água mineral, sucos, refrigerantes e chás, além dos alcoólicos, a constante transformação desse setor reflete não apenas as mudanças nas preferências dos consumidores, mas também os desafios de um mundo cada vez mais atento à saúde e às questões ambientais.
As exportações de bebidas representam uma parcela significativa do comércio exterior de muitos países, ajudando a equilibrar balanças comerciais e fortalecer economias locais. Nações exportadoras de vinho (como França e Itália) ou de café (como Brasil e Colômbia) contam com essas commodities para impulsionar o próprio Comércio.
Além desse dinamismo global, todo o segmento se desenvolveu a ponto de atender às preferências regionais em todas as partes do mundo, sem deixar de fora as diferenças culturais e de poder aquisitivo. As bebidas alcoólicas, por exemplo, contam com um mercado diversificado que atende desde os consumidores ocasionais até os apreciadores de bebidas premium, como o uísque escocês e a vodca russa (ou polonesa).
O Brasil, sem dúvida, não fica para trás quando se trata de integrar o setor na economia, seja pelo consumo, seja pela produção. Recentemente, o País entrou nesse mercado de produtos premium, qualificando a cachaça como o seu item de exportação no ramo alcoólico.
O consumo de bebidas pelo brasileiro
No País, a compra de bebidas tem peso muito relevante sobre os gastos das famílias, alcançando cerca de R$ 10 bilhões ao mês — ou R$ 120 bilhões ao ano —, próximo a 3% do total do consumo dos brasileiros. As tendências podem variar, mas a importância econômica desses segmentos é clara no contexto geral das despesas alimentares e gerais.
Embora bebidas como refrigerantes e alcoólicas tenham uma participação menor no total das despesas dos consumidores, ainda representam uma parte relevante entre as demaisFonte: Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2019, do IBGE, com valores de preços ajustados em 2024.
Estímulo e inovação
A sustentabilidade é uma preocupação crescente nesse mercado. É aqui que o setor também mostra força econômica, graças a um alto nível de inovação tecnológica — o que permite produção em larga escala e garantias de qualidade e segurança alimentar.
As tendências de compra recentes indicam um aumento na demanda por bebidas mais saudáveis, como sucos naturais, chás orgânicos e alternativas com baixo teor de açúcar. O movimento clean label ganha força entre os consumidores que buscam mais transparência na lista de ingredientes e nos métodos de produção. Assim, as companhias estão mais comprometidas com práticas ambientais responsáveis, como uso de embalagens recicláveis, redução do consumo de água e energia e implementação de melhores práticas agrícolas. Além disso, as inovações na produção, como o uso de tecnologias de purificação de água e métodos de fermentação mais eficientes, estão permitindo a redução do impacto ambiental sobre o setor.
Todos esses avanços possibilitam o desenvolvimento de novos produtos, atendendo às necessidades dos clientes por opções mais saudáveis e sustentáveis. Tendo em vista que a globalização facilitou o acesso a mercados internacionais — ampliando a distribuição e aumentando a competitividade dos produtores —, o brasileiro, hoje, se depara com uma grande variedade de produtos, o que era impensável até o começo do século 21.
Geração de empregos e incentivo econômico
A relevância do segmento também é atestada pela capacidade de empregabilidade. Ao longo de toda a sua cadeia global de agricultura, produção, logística e varejo, o mercado de bebidas contribui substancialmente para a geração de milhões de empregos diretos e indiretos. Em razão disso, é uma fonte importante de receita tributária para muitos países — em especial, para o Brasil, que lida com um sistema tributário que pesa fortemente sobre alguns itens, como os destilados.
Vale destacar que, conforme os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), até 2022, os segmentos brasileiros do atacado e varejo de bebidas dispunham de 47,1 mil estabelecimentos. Cerca de 45,6% dessas lojas mantinham algum vínculo empregatício. Até aquele ano, o Estado de São Paulo participava com um quarto dessas instalações em território nacional.
Também vale ressaltar que há consistente avanço de empregabilidade de 2021 a 2024. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) aponta que o mercado de trabalho do segmento comercial de bebidas era composto, em abril de 2024, por quase 181,2 mil vínculos celetistas em âmbito nacional.
Assim como o Comércio, o segmento de bebidas é formado predominantemente por micro e pequenos negócios que, apesar de terem sido fortemente impactados pela pandemia, mostraram resiliência para diversificar os produtos e os canais de distribuição. Isso levou o setor a um crescimento na geração de vagas para além da necessária recuperação.
Todos esses fatores reafirmam as capacidades desse mercado de se adaptar de forma ágil a um novo ambiente econômico, acompanhar as transformações sociais e, também, compreender, como poucos, o perfil e as necessidades do consumidor.
Fábio Pina é economista e assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
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