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Transição climática: novo imperativo de competitividade para empresas brasileiras

Christianne Maroun
é coordenadora do Climate Finance Hub Brasil
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Christianne Maroun
é coordenadora do Climate Finance Hub Brasil

Por muitos anos, o investimento em sustentabilidade foi uma escolha reputacional ou resposta a demandas regulatórias e impactos. Hoje, tornou-se um requisito estratégico para a resiliência dos negócios e competitividade no mercado internacional. A transição climática — entendida como o processo de adaptação dos modelos de negócio a uma economia de baixo carbono e resiliente às mudanças do clima — já não é mais uma pauta acessória. É central. E, para o Brasil, representa mais do que um desafio: é uma janela real de oportunidade para reposicionamento global.

Do ponto de vista empresarial, os riscos das mudanças climáticas vão muito além da imagem corporativa. Há riscos físicos, ligados ao impacto direto de eventos extremos sobre ativos e operações. Em 2024, as enchentes no Rio Grande do Sul causaram prejuízos econômicos estimados em mais de R$87 bilhões, além de interromper operações logísticas, industriais e agropecuárias por semanas. O episódio expôs vulnerabilidades das cadeias produtivas e a necessidade urgente de adaptação da infraestrutura e do planejamento empresarial.

Novas regulamentações envolvendo disclosure e precificação de carbono também ganham peso crescente e impactam diretamente a competitividade empresarial. A implementação do CBAM, mecanismo de ajuste de carbono da União Europeia, já onera importações com base na pegada de carbono dos produtos. Soma-se a isso a obrigatoriedade de cumprimento dos padrões S1 e S2 do ISSB no Brasil, a partir de 2026, para relato de sustentabilidade empresarial. Esses movimentos sinalizam de forma inequívoca que só permanecerá competitivo quem souber transformar sustentabilidade em estratégia de negócio.

Diante desse cenário, planos de transição climática deixam de ser diferencial e tornam-se necessidade imperativa. Funcionam como bússola estratégica, pois permitem reduzir emissões, mitigar riscos financeiros e operacionais, adaptar-se a impactos já inevitáveis do clima e responder de forma ágil às crescentes exigências dos investidores e reguladores. O raciocínio é claro: quem investe hoje evita perdas futuras e pode ainda se beneficiar de instrumentos como o mercado regulado de carbono.

Se, por um lado, grandes empresas aceleram ações — parte delas pressionadas por investidores internacionais ou regras do setor financeiro —, pequenas e médias ainda engatinham. Segundo o Sebrae, apenas 8% dessas empresas adotaram ações concretas contra riscos climáticos. O acesso restrito à informação, financiamento e capacitação técnica tornam a transição especialmente desafiadora para esse grupo, criando um risco sistêmico — já que são essenciais nas cadeias de valor das grandes corporações e movimentam boa parte da economia.

Para essas empresas, programas de incentivo, linhas de crédito verdes (com juros reduzidos), consultorias gratuitas e parcerias com startups e universidades podem ser caminhos práticos e necessários. Políticas públicas como o Plano ABC, que incentiva agricultura de baixo carbono, e iniciativas privadas voltadas à ecoeficiência já mostram resultados positivos que poderiam ser ampliados.

O Brasil tem vantagens materiais inegáveis: uma matriz elétrica com mais de 90% de fontes renováveis, referência histórica em biocombustíveis, crescente capacidade de produção de bioenergia e potencial único para soluções baseadas na natureza. Desafios, no entanto, ainda persistem, principalmente nos setores altamente emissores, como transporte de cargas e indústria pesada. Esses segmentos, classificados como “hard-to-abate”— cimento, siderurgia, petróleo e gás —, detêm emissões vinculadas ao próprio processo produtivo. Superar esses gargalos exigirá mais do que metas: é preciso planejamento setorial, metas escalonadas e fomento à inovação tecnológica.

Para apoiar essa jornada, iniciativas como o Climate Finance Hub Brasil (CFH) ganham relevância. Realizando diagnósticos precisos sobre maturidade climática das empresas brasileiras com metodologia internacional, o CFH identifica gargalos e destaca boas práticas dos setores produtivos, servindo como orientação para líderes que desejam avançar de forma estruturada e para decisões mais sustentáveis e embasadas em dados baseados na ciência.

Chegou a hora de abandonar a lógica obsoleta de que sustentabilidade é custo. Se quisermos ser mais do que fornecedores de commodities e ocupar uma posição de liderança no mercado global, é preciso que as empresas atuem de forma estratégica e ágil na transição climática e possam contar com políticas públicas efetivas.

Este conteúdo é fruto da parceria editorial entre a Revista Problemas Brasileiros (PB) e a Casa Balaio, um espaço de encontros, cultura e inovação, situado em um casarão histórico no centro de Belém, no Pará. Com salão principal e salas modulares anexas, foi criada pela Alter Conteúdo Relevante e pela Jambo Comunicação para conectar marcas, ideias e territórios — antes, durante e depois da COP30. Saiba mais em casabalaio.com.br.

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