O endividamento do brasileiro atingiu nível recorde. Uma pesquisa nacional realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) aponta que 78% das famílias brasileiras tinham alguma dívida ao fim do primeiro semestre de 2022. Em relação à média de endividamento dos últimos 12 anos, no período houve um aumento de mais de 2 milhões e meio de lares com débitos – o que representa um contingente 24,7% acima do padrão histórico.
Considerando as famílias das capitais, a Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias, produzida pela Entidade, aponta que 4,9 milhões delas (quase 600 mil a mais do que no ano passado) tinham alguma conta em atraso em junho, ou seja, estavam inadimplentes. O estudo é realizado anualmente pela Federação para avaliar o comportamento dos lares brasileiros quanto à administração de suas condições financeiras e da utilização das opções de crédito.
São tidas como “endividadas” as famílias que têm alguma dívida, mas sem atrasos – por exemplo, a fatura do cartão de crédito do mês ou o financiamento de um automóvel. É um universo de pessoas que precisaram recorrer ao sistema financeiro para fazer algum tipo de aquisição, de curto ou longo prazo. O conceito gera confusão com a inadimplência, quando há no orçamento doméstico alguma conta já vencida, mas ainda não liquidada, como uma cobrança de luz ou de aluguel que passou do prazo de vencimento.
De acordo com a FecomercioSP, a alta no endividamento aconteceu porque os brasileiros usaram o crédito para substituir a renda perdida nos dois últimos anos – período que concentrou o quadro mais letal da pandemia, o início da vacinação e a retomada das atividades econômicas.
Para se ter uma ideia da trajetória deste cenário, em junho de 2020, este montante era de 67% das famílias, passando para 71%, em junho 2021, e 78%, no encerramento do primeiro semestre de 2022, o maior patamar da série histórica (iniciada em 2010). Isso significa que, há quatro meses, mais de 13,1 milhões de famílias residentes nas capitais brasileiras estavam endividadas, 1,16 milhão (9,7%) a mais em comparação a junho de 2021.
Ao avaliar a renda média das famílias das capitais brasileiras, nota-se uma queda de 3,9% em comparação a junho de 2020. Mesmo diante de uma conjuntura de volta à normalidade, a renda registrada, ao fim do primeiro semestre deste ano, teve queda de 0,4% em relação a junho de 2021. A Entidade destaca que a alta da inflação no início do ano prejudicou o poder de compra, graças à alta de preços sobre a renda.
O montante de dívidas varia segundo o perfil socioeconômico de cada região: dentre as cinco do País, a Sudeste é a que apresenta a maior estatística, tanto por ser a mais populosa (concentrando 42% da população) como por contar com uma oferta de crédito proporcionalmente maior (um volume de 44,7%). O estudo ressalta que a Região Nordeste, apesar de abrigar 27% dos brasileiros, é responsável por apenas 16% do volume de crédito.
Curitiba (PR) acumula o maior porcentual de famílias endividadas. No município, 95% das famílias têm dívidas, o maior registrado entre todas as capitais desde 2010. Porto Alegre (RS) vem na sequência, com 94%. As outras três capitais no topo do ranking nesta situação são Belo Horizonte (MG), com 90%; Rio Branco (AC), com 89%; e Rio de Janeiro (RJ), com 88%.
Duas capitais do Centro-Oeste registraram os menores porcentuais de famílias endividadas em junho de 2022. Goiânia, com 57%, e Campo Grande, com 59% das famílias nestas circunstâncias. Os dados mostram que os lares das duas cidades têm o orçamento doméstico sob controle. Ambas exibiram crescimento da renda média em comparação a junho de 2020, bem como aparecem no ranking de menores taxas de comprometimento da renda com dívidas, apontando taxas de inadimplência abaixo da média das capitais.
Por abrigar a maior população do País, São Paulo (SP) apresenta o maior valor total de dívida mensal: R$ 8,9 bilhões. O valor mensal da dívida por família passou de R$ 2.622, em junho de 2021, para R$ 2.757, no fim do primeiro semestre de 2022.
No que se refere às capitais com as maiores taxas de inadimplência, um ponto em comum entre elas, que explica parte deste comportamento, é que as famílias dessas cidades sofreram queda na renda entre 2020 e 2022. Belo Horizonte (MG) é a primeira colocada no ranking, com 43% das famílias com contas em atraso. Ao lado de Porto Alegre (RS), na terceira posição (41%), a capital mineira apresentou as maiores taxas de famílias endividadas da história.
Por outro lado, apesar de terem registrado uma queda de 8,1% da renda média em relação a junho de 2020, as famílias de João Pessoa (PB) se mostraram disciplinadas na administração do orçamento doméstico, com redução do valor total da dívida e menor parcela da renda comprometida com dívidas (15%) entre os 27 municípios. A capital da Paraíba também marcou o menor porcentual de famílias com contas em atraso do País, apenas 9%.
A FecomercioSP ressalta que o simples aumento do número de endividados não é um fato negativo de maneira isolada, uma vez que acesso maior ao crédito é fator essencial para que a população possa adquirir bens de forma parcelada. Esta variável deve estar associada a outras, como comprometimento da renda (capacidade de arcar com as dívidas) e variação de inadimplência.
Quando se observam dados de elevação significativa de consumo entre 2021 e o primeiro semestre de 2022, nota-se a utilização muito intensa do crédito no período para compras varejistas, que estavam reprimidas durante os meses mais rigorosos da pandemia.
A Entidade espera uma melhora nas variáveis do uso do crédito nos próximos meses, considerando a evolução dos fatores que afetam o nível da renda familiar: o mercado de trabalho mais aquecido; os números do Produto Interno Bruto (PIB) revisados para cima; a inflação em um ciclo de queda no segundo semestre; e a maior injeção de renda na economia.
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Diante deste cenário, a Federação preparou também um vídeo com estratégias que podem nortear os negócios nos próximos meses. Acesse clicando aqui.