A agenda climática não tem fronteiras. Nos últimos dez anos, a pauta passou a pautar as discussões dos principais blocos econômicos e políticos do mundo — do G7 ao Brics+. Mesmo quando a palavra “clima” é evitada por questões políticas ou eleitorais, os temas ligados à transição energética e aos impactos ambientais seguem presentes nas negociações.
A avaliação é de Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e conselheira consultiva internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em entrevista à Revista Problemas Brasileiros e ao Canal UM BRASIL — ambas realizações da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
A íntegra da entrevista em vídeo, conduzida por Vinícius Mendes, está disponível no Canal UM BRASIL. E confira abaixo os principais pontos da conversa.
Os Estados Unidos seguem vulneráveis à crise climática. É o que apontam os recentes incêndios no Estado da Califórnia, por exemplo. “O fato de eles desembarcarem [do Acordo] de Paris não quer dizer que estejam isentos dos fenômenos climáticos, do impacto desse aquecimento global”, adverte Izabella.
Investir em fósseis é comprar crise futura. Ainda segundo a especialista, “não é só desembarcar de Paris”. Ao incrementar investimentos em combustíveis fósseis, a potência norte-americana está “comprando crise adicional no futuro”, afirma. “Uma coisa é a atitude política do governo, outra é a atitude da sociedade, do setor privado e de como se dará a transição energética”, completa Izabella.
Desafio é sair da bolha. Ainda que a questão climática tenha tomado um espaço nunca antes visto na agenda geopolítica mundial, é preciso romper outras barreiras. A pauta tem o desafio de sair das bolhas científica e ambiental em que foi inserida, defende Izabella.
Clima pede abordagem intersetorial. “É um assunto estratégico para a nova maneira de viver do século”, explica. “Trata-se de uma discussão política, estratégica, econômica e geopolítica. Por quê? Porque o clima é uma agenda de desenvolvimento”, conclui.
A governança climática precisa ser revista. Por essa razão, Izabella defende que os espaços de decisão da COP, por exemplo, contem com outras autoridades além de ministros e ministras do Meio Ambiente, como representantes das pastas da Fazenda e Inovação.
O Brasil está falhando em desenvolver a bioeconomia. Isso acontece porque, de acordo com a especialista, o setor enfrenta entraves logísticos e de infraestrutura no País. “Como é que se lança o produto no mercado consumidor? Isso é desenvolvimento”, afirma. “O Brasil não discute infraestrutura e logística do ponto de vista mais estratégico. O País discute esses temas pontualmente”, critica.