Em webinário da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) em parceria com o Brazil Institute do King’s College de Londres, e apoio da PB e do Canal UM BRASIL, especialistas apontam elementos necessários para que a Conferência em Glasgow tenha sucesso; inclusão e divisão justa de responsabilidades com objetivos acordados ficaram entre os principais pontos.
A palavra “inclusão” protagonizou o debate COP-26: Desafios, Metas e Ações, produzido pela da Aberje em parceria com o Brazil Institute do King’s College de Londres. O webinário híbrido ocorrido na última quinta-feira (7) teve a participação de Juliane Reinecke, professora de Gestão Internacional & Sustentabilidade na Escola de Negócios do King’s College de Londres; Kat Thorne, diretora de Sustentabilidade da mesma universidade, e Cristiano Teixeira, diretor-geral da Klabin.
As mudanças climáticas, que representam uma ameaça existencial à humanidade, nortearam a conversa. Em resposta a questões enviadas pela equipe da Revista Problemas Brasileiros e do Canal UM Brasil, apoiadores na realização do webinário, os especialistas elucidaram as atitudes esperadas de líderes mundiais, no mês que vem, na cidade de Glasgow, para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021. O evento será realizado entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro. Ao todo, representantes de 196 países discutirão metas para a redução de emissões de gases causadores do efeito estufa e de alterações em suas matrizes energéticas para conter o aquecimento global. Durante o evento, também serão avaliados os resultados do Acordo de Paris de 2015.
“Os negociadores da COP-26 terão um grande desafio para algum acordo. Nós sabemos aonde queremos chegar, mas como fazer isso é o ‘X’ da questão, bem como alcançar estes objetivos de forma justa e inclusiva”, destacou Juliane Reinecke. Ela acrescentou que a proteção ao meio ambiente que temos hoje “não é suficiente”, considerando a extensão e a complexidade da questão climática.
Kat Thorne concordou no que diz respeito à importância de que o viés do debate e dos compromissos firmados seja realmente inclusivo. “O Reino Unido, como anfitrião, pedirá que os países participantes estabeleçam metas mais ambiciosas de redução de emissão de poluentes para 2030. Obviamente, o que queremos é ver estas metas acontecendo, [que os outros países] as levem à ação”, disse Kat.
Para Juliane, não é verdadeira a ideia de que países mais ricos sejam menos vulneráveis às consequências das mudanças climáticas do que os países pobres. “Divulgou-se recentemente que a Suécia, a França, a Finlândia, a Alemanha e os Estados Unidos estariam no ranking dos menos afetados, e os que correriam mais riscos seriam Nigéria, Bangladesh, Costa do Marfim, Tanzânia e Tunísia.”
Para a pesquisadora Kat Thorne, este conceito é um mito. “Todos os países são vulneráveis e serão afetados pelo aquecimento global. O Fórum Econômico Mundial estimou que, até 2050, 80% da população global serão atingidos pelas mudanças climáticas. Isto é, todos nós somos vulneráveis.” Ela destacou ser importante pensar como balancear as responsabilidades de mitigar as mudanças climáticas.
“A grande discussão é: como fazer com que os países ricos ajudem os países pobres a progredir na questão climática?”, indagou Juliane.
A respeito do papel das empresas em prol do cumprimento da meta zero de carbono até 2050, atendendo os objetivos do Acordo de Paris, Juliane ressaltou que é um compromisso coletivo. “É preciso limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius. Para isso, em menos de dez anos, as emissões de carbono devem cair pela metade. É uma meta muito ambiciosa.”
“Por um lado, está nas mãos de todos nós, inclusive das empresas, agir para começar a mitigar as mudanças climáticas e evitar que os piores efeitos aconteçam. Contudo, é uma situação desafiadora, pois exige um compromisso de todos. Infelizmente, muitas vezes ninguém quer aderir sem que todos os outros tenham feito o mesmo. Por isso, é muito importante que autoridades e governos do mundo todo definam o escopo e as regras, para que isso possa se tornar realidade”, ponderou Juliane.
Ela lembrou ainda que, em 2008, o relatório IPCC da ONU estabeleceu o prazo de 12 anos para reduzir o risco da catástrofe da mudança climática. “Isso significa que, agora, temos apenas nove anos. O relatório IPCC de 2021 apenas confirmou que os impactos no meio ambiente estão se acelerando. E a não ser que tenhamos uma redução drástica de emissões, a meta estabelecida no Acordo de Paris, há alguns anos, de limitar o aquecimento global de 1,5 a 2 graus Celsius, estará fora de nosso alcance.”
O governo brasileiro articula uma proposta de neutralidade climática para 2050, a qual será apresentada na COP-26. O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, afirmou que o principal compromisso do momento é com o desmatamento.
Em relação ao que se pode esperar da participação do Brasil, Cristiano Teixeira, da Klabin – a única empresa brasileira no COP-26 Business Leaders, grupo formado por dez executivos da iniciativa privada –, disse estar otimista. “Se olharmos o que está na agenda oficial [da conferência], e não nas redes sociais e em outros meios, o Brasil reafirma o que ficou acordado no encontro recente ocorrido nos Estados Unidos, organizado por Joe Biden. O governo se compromete a zerar o desmatamento ilegal da Amazônia até 2030 e atingir a neutralidade climática em 2050, não mais em 2060.”
Na visão do executivo, o cenário não é tão negativo quanto o que tem sido falado a respeito. “Sabemos como diminuir o desmatamento ilegal da Amazônia, já fizemos isso há alguns anos. E se avaliarmos o que foi feito nos últimos 40 anos, pensando em termos do Estado brasileiro, e não considerando apenas um único governo, estamos bem”, avaliou. Para Teixeira, é fundamental que o Brasil contenha as ações ilegais de desmatamento da Amazônia. “Hoje, representamos 3% da emissão de gases poluentes, estando como o sexto maior emissor no mundo. Estima-se que 50% desta emissão sejam decorrentes do desmatamento ilegal da Amazônia. É por isso que precisamos pressionar as autoridades para que inibam estas ações.”
Entretanto, a principal medida, na visão dele, é deixar de utilizar o carvão e o gás natural como fontes de energia. “Este é o passo mais difícil, basta ver a crise de energia que está acontecendo na China. O governo está tentando convencer as empresas a reduzir o uso de carvão, e apenas este anúncio já gerou uma crise. Imaginem o que pode acontecer no norte da Europa no próximo inverno, em países como a Alemanha, que depende do gás natural da Rússia?”
Teixeira ainda lembrou que a Klabin tem buscado fazer sua parte em relação à proteção ambiental. “Agimos para neutralizar as emissões de carbono que resultam das nossas operações. Em relação ao COP-26, temos buscado dialogar com os representantes brasileiros. Tenho ido a Brasília a cada 15 dias e conversado com negociadores oficiais que irão a Glasgow, para tentar influenciar as autoridades nos pontos que precisamos alcançar e no que o mundo espera de nós.”
“É preciso conscientizar a iniciativa privada, fazer com que as empresas brasileiras, e do mundo todo, se engajem. Este compromisso não se esgota no COP-26, deve continuar pelas próximas décadas, ou veremos muitas catástrofes decorrentes da mudança climática”, finalizou o executivo brasileiro.
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