A Revista Problemas Brasileiros reuniu dez especialistas em suas respectivas áreas de conhecimento em torno de uma pergunta: o que esperar de 2025? As respostas foram tão diversas quanto as dificuldades e oportunidades que aguardam o Brasil nos próximos 12 meses. Aqui você confere mais dois primeiros olhares, agora sobre política e relações internacionais. Nos próximos dias traremos as perspectivas para mais quatro temas de atenção para o ano que está começando.
O ano de 2025 não é de eleição, mas o “esquenta” da corrida presidencial deve marcar o debate político ao longo do ano, com acirramento da polarização política e crescimento do discurso antissistema, afirma o cientista político Claudio Couto. Essas discussões devem ganhar os holofotes mesmo diante de debates urgentes de pautas importantes para o País, como a regulamentação da Reforma Tributária.
“A polarização vai não apenas se manter, como também se intensificar. Não vejo caminho, no momento, para romper essa tendência”, prevê Couto. “Vamos ter de conviver com essa oposição, figuras que discursam contra o sistema devem ganhar espaço, sempre no espectro mais à direita”, completa. Uma das razões para a escalada dessa polarização está no avanço dos processos que investigam os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, que devem culminar no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de alguns de seus aliados
Na avaliação de Couto, políticos “antissistema”, como o candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, e o próprio Bolsonaro de 2018, contam com o apoio da parcela mais conservadora da população, que viu os próprios valores confrontados com o avanço de pautas progressistas em anos anteriores. Em contraste, a esquerda enfrenta uma crise de representatividade e força.
Desde a deflagração da Operação Lava Jato, a recessão de 2015 e o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, os partidos de esquerda não conseguem recuperar espaço. De acordo com Couto, a nova configuração política do País reforça a ideia de que o conservadorismo é uma tendência sólida na sociedade brasileira, que se opõe às pautas progressistas e identitárias, e é mais facilmente mobilizada por políticos de direita.
A dinâmica de poder entre as nações está em constante transformação — e não é mais possível falar em relações internacionais sem inserir a pauta ambiental no centro do debate. Assim, o Brasil terá, em 2025, a chance de se consolidar como o principal interlocutor da transição energética no mundo, mas também terá que lidar com temas sensíveis na sua agenda internacional.
A avaliação é de Dawisson Lopes, especialista em política internacional e pesquisador sênior no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Lopes ressalta que, apesar de protagonista quando o assunto é clima, o País patina na busca pelo fortalecimento da América do Sul em âmbito global. Além disso, adotou posições menos alinhadas com o Ocidente em relação aos grandes conflitos em andamento — Ucrânia e Oriente Médio.
“O Brasil buscou uma posição independente. Condenou a invasão da Rússia, mas foi pragmático e não houve sanções. E condenou o ataque do Hamas, em outubro de 2023, mas critica a reação de Israel, o que incomoda as nações que estão no guarda-chuva da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]”, analisa o pesquisador.
Outro tema sensível para o Brasil são os esforços para tornar a América do Sul uma região de maior destaque. Nesse front, o País deixou de contar a Argentina, segunda maior força da região, hoje sob o governo de Javier Milei, que não compartilha do mesmo desejo de governo brasileiro. De qualquer modo, o trabalho nacional para uma maior relevância regional deve ficar em segundo plano, pois o tema que deve dominar a relação do País com o exterior, em 2025, é a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que será realizada em Belém, no Pará.
É nesse palco que o governo deve angariar apoio para o financiamento de uma transição energética que possibilite a inclusão de países menos desenvolvidos. “O Brasil é, de longe, o país com a matriz energética menos poluente. No encontro, teremos vitrine para mostrar as condições de sermos uma potência quando se trata de governança ambiental”, conclui Lopes.
ESTA REPORTAGEM É PARTE DA EDIÇÃO #484 IMPRESSA DA REVISTA PB. A ÍNTEGRA DA PUBLICAÇÃO ESTÁ DISPONÍVEL NA PLATAFORMA BANCAH.