O volume dos gases lançados na atmosfera resultantes do uso de combustíveis fósseis, do desmatamento e das atividades agrícolas já atingiu um nível tal que fez a temperatura média da Terra aumentar em 1,5 ºC. As consequências desse aquecimento tornam-se cada vez mais óbvias e tendem a aumentar significativamente até meados do século. Desde 1992, as Conferências das Partes (formadas pelos países signatários da Convenção do Clima) são realizadas anualmente com o objetivo de adotar medidas que evitem o agravamento dessa situação. No entanto, os avanços, até hoje, foram limitados.
A decisão mais importante nesse sentido foi tomada somente na 28ª Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP28) da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em Dubai, em 2023. Foi deliberado, naquela reunião, o início de uma “transição do sistema energético que eliminasse a dependência de combustíveis fósseis de uma forma justa, ordenada e equitativa”. Isto é, deveria haver redução do consumo de combustíveis fósseis — carvão, gás natural e petróleo —, o qual representa 75% das emissões mundiais de Gases do Efeito Estufa (GEE).
Apesar de o consumo de carvão estar em declínio, existem ainda amplas reservas de gás natural e petróleo — e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não prevê nenhum declínio na sua produção. A estimativa da entidade é que o consumo diário no mundo aumente de 105 milhões de barris, em 2025, para 123 milhões, em 2050. Em contraste, a Agência Internacional de Energia (IEA) aponta uma queda no consumo até 2030. Por essa razão, o governo dos Estados Unidos ameaçou abandonar a IEA, acusando-a de promover fontes renováveis de energia por “razões ideológicas”.
Transições energéticas não são nenhuma novidade e ocorreram no passado, como a troca da madeira pelo carvão mineral, depois por gás natural e petróleo e, mais recentemente, por energias renováveis. Essas transições ocorreram lentamente, ao sabor das forças do mercado e da inovação tecnológica. A diferença é que, atualmente, há urgência em encontrar soluções para reduzir as emissões de carbono resultantes da queima de combustíveis fósseis, responsáveis pelo aquecimento global, o que levou à politização das soluções. Forças do mercado foram substituídas por políticas de governo e por subsídios em larga escala, que abrem caminho para soluções com sólidas bases técnicas e econômicas.
Joe Biden, ex-presidente dos Estados Unidos, entendeu bem o problema e lançou, em 2020, ainda na campanha eleitoral, um programa ambicioso de cerca de US$ 0,5 trilhão para aumentar significativamente o uso de energia limpa nos setores de transporte, eletricidade e construção civil. Um amplo espectro de programas foi lançado — como produção e uso de hidrogênio e captura e armazenamento de carbono —, além de terem sido obtidos progressos nas células fotovoltaicas e na integração de renováveis às redes elétricas, entre outros.
Na contramão, o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao questionar frontalmente essa visão, cancelou o programa, além de estimular o renascimento do carvão e novas prospecções de petróleo. A investida levou outros governos, bancos e grandes grupos econômicos a abandonarem gradualmente o ano de 2050 como data-limite para alcançar a meta de emissões zero. Apenas 13 países entregaram as metas revisadas das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) até a data-limite, que era 10 de fevereiro de 2025. Até o início de julho, apenas 30 países haviam submetido suas NDCs. A União Europeia entregará somente em setembro, com metas menos exigentes do que o esperado.
Dificilmente a COP30 — que acontecerá em novembro, em Belém, no Pará — resolverá esse problema, o que significa que a transição energética será adiada sem que surjam novas lideranças na Europa, na China (maior emissor mundial) e no Brics capazes de reverter essas tendências negativas.
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