Para refletir sobre o impacto da semana e o legado modernista, a PB criou uma lista com títulos que percorrem uma variedade de assuntos relacionados a esse evento, que foi um marco na história da arte brasileira, e a seus protagonistas. ESTE CONTEÚDO ESTÁ PUBLICADO NA ÍNTEGRA NA EDIÇÃO #467 IMPRESSA DA REVISTA PB. A VERSÃO DIGITAL ENCONTRA-SE DISPONÍVEL NA BANCAH.
Aracy Abreu Amaral é uma das responsáveis por sedimentar o significado da Semana de Arte Moderna. Muito do que se entende sobre o que ocorreu naquele movimento de cem anos atrás é graças ao meticuloso trabalho desta autora, professora de História da Arte da Universidade de São Paulo (USP), ex-diretora da Pinacoteca do Estado e do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP). Publicado pela primeira vez em 1970, Artes plásticas na Semana de 22 é um mergulho naquele contexto histórico e artístico. Não à toa, a obra é considerada referência fundamental para todos aqueles que queiram estudar o modernismo brasileiro.
Artes plásticas na Semana de 22, de Aracy A. Amaral. Editora 34. R$ 65.
O livro proporciona uma saborosa viagem àquele início do século 20, apresentando os antecedentes que propiciaram a semana modernista, os bastidores da organização do evento no Theatro Municipal, um bom detalhamento do que realmente ocorreu naqueles dias de fevereiro de 1922 e, claro, as consequências e os desdobramentos. Por fim, Amaral ainda traz ricas sinopses biográficas dos principais artistas envolvidos.
Na obra, as detalhadas explicações da historiadora da arte são enriquecidas com um farto cardápio de imagens, entre fotografias que ajudam a mostrar a vida naquela época e reproduções de trabalhos artísticos que permitem entender o que é apresentado.
Semana de 22: entre vaias e aplausos parte de um fato curioso e pouco explorado: analisando o que ocorreu na época, pode-se dizer que o evento modernista foi um grande fracasso. Afinal, como bem aponta a jornalista Marcia Camargos, o festival deu prejuízo, foi difamado por boa parte da imprensa relevante e ganhou mais vaias do que aplausos do público.
Semana de 22: entre vaias e aplausos, de Marcia Camargos. Editora Boitempo. R$ 48.
A autora, contudo, esmiúça os desdobramentos da Semana de 22 para explicar, com um texto saboroso e cativante, por que este evento de cem anos atrás se tornou tão importante para a cultura brasileira.
Assim, se boa parte do que se produziu, de lá para cá, sobre o movimento contribuiu para alçá-lo ao patamar de mito, pode-se dizer que Camargos conseguiu desmistificar o evento e seus desdobramentos – sem negar sua importância histórica.
O maestro e compositor Livio Tragtenberg precisou de apenas 88 páginas para elaborar uma contundente crítica ao modernismo, considerando o aspecto musical. Para ele, o evento ocorrido no Theatro Municipal limitou-se a apresentar obras de autores como Heitor Villa-Lobos (1887-1959), e negligenciou a oportunidade de dar espaço à efervescente cena musical popular que brotava no Brasil, sobretudo nos rincões do Rio de Janeiro.
Para Tragtenberg, vale ressaltar, Villa-Lobos foi superior aos modernistas paulistas, porque já havia superado o provincianismo dos literatos que se curvavam aos ares importados da Europa.
O que se ouviu e o que não se ouviu na Semana de 22, de Livio Tragtenberg. Edição Independente. R$ 39,99.
No livro O que se ouviu e o que não se ouviu na Semana de 22, ele analisa o papel do compositor-chave da Semana de 22 e debruça-se sobre o que foi descartado, no caso, a riquíssima cena musical popular da época. Com isso, ele procura desmontar o que chama de “lenda da ruptura”.
Mais do que narrar com estilo os acontecimentos de fevereiro de 1922, o grande mérito do livro do jornalista Marcos Augusto Gonçalves é incorporar as críticas e contextualizações que vêm sendo feitas, sobretudo nas últimas quatro décadas, sobre a grandeza e a importância daquele evento.
Neste sentido, 1922: a Semana que não terminou também não se furta a revalorizar a arte que existia antes dos modernistas, relativiza a ideia de que os paulistas davam as cartas no universo cultural e, mesmo assim, reconhece o imenso valor daquelas noites ocorridas no Theatro Municipal.
Mas o livro não é só discussão “cabeça”. O autor descreve saborosamente os personagens da época, apresentando-os com todos os predicados: dos playboys às mulheres fatais, passando pelos mecenas, imortais da Academia Brasileira de Letras e pelos ditos “passadistas”.
_1922: a semana que não terminou, de Marcos Augusto Gonçalves. Editora Companhia das Letras. R$ 64,90.