Quantos anos tem a Amazônia?

22 de maio de 2025

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A Bacia Amazônica abriga mais da metade das florestas tropicais remanescentes no mundo, o que faz dela um dos maiores reservatórios de carbono não oceânico do planeta, com papel essencial para o clima e a temperatura globais. É lá também que está a maior biodiversidade da Terra, com mais de 3 milhões de espécies de plantas e de animais conhecidos atualmente. No entanto, de que forma a Amazônia se tornou tão biodiversa ainda é uma incógnita para a ciência e um tema estudado desde os tempos dos naturalistas Alfred Russel Wallace e Charles Darwin. Agora, um projeto de pesquisa, que conta com cientistas de 13 países, busca determinar a data de nascimento do Rio Amazonas.

A principal hipótese para a imensa biodiversidade da Amazônia é que a formação dos principais rios da região e seus afluentes criou barreiras físicas que dividiram as populações animais e vegetais existentes, forçando-as a evoluir separadamente ao longo de milhões de anos. “As espécies vegetais e animais não se distribuem uniformemente pela Amazônia, e, sim, tendem a ser endêmicas de áreas específicas. Há espécies que só existem ao norte do Rio Amazonas, por exemplo, ou apenas ao sul”, explica o geólogo André Sawakuchi, professor no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP). “Então, precisamos estudar o desenvolvimento desses rios — e saber a idade do Amazonas é uma questão fundamental”, completa.

Perfurem, cientistas, perfurem

O Projeto de Perfuração Transamazônica (TADP), do qual Sawakuchi é um dos coordenadores, consiste em perfurar a rocha sedimentar da Bacia Amazônica e extrair amostras para serem estudadas em laboratórios especializados. Apoiado e financiado pelo International Continental Scientific Drilling Program (ICDP), pela National Science Foundation (NSF), pelo Smithsonian Tropical Research Institute e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o projeto inclui pesquisadores de Alemanha, Áustria, Brasil, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Holanda, Islândia, Itália, Panamá, Suécia e Suíça.

A superfície da Terra — e, particularmente, o seu subsolo — fornece à ciência uma cronologia do que veio antes, já que os sedimentos se formam ao longo de milhões de anos, estruturando camadas de rocha. O projeto TADP consiste em perfurar as rochas sedimentares a centenas ou milhares de metros de profundidade e extrair amostras cilíndricas de solo, verdadeiras “cápsulas do tempo” para a ciência.

A perfuração do solo já é, por si só, bastante complexa, mas os obstáculos dos cientistas vão além disso. De imediato, a redução do financiamento científico forçou os pesquisadores a limitarem o estudo a dois locais de perfuração — um no Acre, próximo à nascente do Amazonas, e outro no Pará, na ilha de Marajó, próximo à foz do rio —, em vez dos cinco inicialmente planejados. E as perfurações realizadas não saíram exatamente como planejado. “Para mapear a história geológica da Amazônia em 65 milhões de anos, estimamos que teríamos de perfurar cerca de 2 mil metros de profundidade no sítio do Acre e cerca de 1,3 mil metros no Marajó”, detalha Sawakuchi. “Não conseguimos chegar tão fundo em nenhum dos sítios”, lamenta.

No Acre, os pesquisadores conseguiram atingir 923 metros de profundidade, e 924 metros no Marajó, extraindo amostras contínuas de rochas, o que envolve um período de estudo entre 10 e 25 milhões de anos — resultado ainda inédito para estudos desse tipo. Segundo Sawakuchi, para repetir o estudo e atingir as profundidades desejadas, são necessários mais financiamento e melhores equipamentos. “A indústria petrolífera perfura quilômetros abaixo da superfície, mas não coleta amostras. Para nós, depois de perfurar três metros, extraímos um testemunho. Perfuramos mais três metros e extraímos outro testemunho. A perfuratriz precisa iniciar e parar durante esse processo, e, então, ela trava”, relata.

Rochas que contam história

O Rio Amazonas nasce na Cordilheira dos Andes, no Peru, e flui por 6,4 mil quilômetros no sentido leste em direção ao Oceano Atlântico. Os sedimentos encontrados na foz contêm material particulado de origem andina, que Sawakuchi descreveu como perceptível em análises científicas, em razão das suas diferentes características. Como as rochas sedimentares se formaram em camadas ao longo de milhões de anos, pode-se concluir que a amostra mais recente encontrada pelos pesquisadores, que não tem vestígios de sedimentos andinos, é do período anterior à formação do rio.

As análises do material coletado pelos pesquisadores começaram em agosto de 2024, com amostras do local de perfuração no Acre, que foram enviadas a um laboratório da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. As extraídas na ilha de Marajó devem ser enviadas para o mesmo laboratório ainda em maio. Os resultados preliminares serão consolidados em artigo científico a ser submetido antes do fim de 2025.

A publicação deste conteúdo é fruto de parceria entre a Revista Problemas Brasileiros e o portal The Brazilian Report. Acesse aqui o material original, em inglês.

The Brazilian Report Débora Faria
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