Olhares para 2025: economia e negócios

07 de janeiro de 2025

A Revista Problemas Brasileiros reuniu dez especialistas em suas respectivas áreas de conhecimento em torno de uma pergunta: o que esperar de 2025? As respostas foram tão diversas quanto as dificuldades e oportunidades que aguardam o Brasil nos próximos 12 meses. Aqui você confere mais dois olhares, sobre economia e negócios. Ao longo das próximas semanas traremos as perspectivas para mais seis temas de atenção para o ano que está começando.

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Raul Velloso, economista especialista em contas públicas

Ao longo de 2024, as discussões sobre os rumos da economia brasileira fincaram o pé no equilíbrio fiscal — e de lá não devem sair tão cedo. Outros indicadores tradicionais para sentir o clima do dinheiro, como juros e inflação, serão pautados pela forma como o governo cuidará das contas. A avaliação é do economista Raul Velloso, uma das maiores autoridades em orçamento público do País.


“Há uma preocupação com a evolução da dívida pública, e isso não vai sair do radar. Diante da percepção de maior endividamento, o mercado financeiro vai cobrar”, afirma. Segundo Velloso, o que está sob o escrutínio dos diversos agentes econômicos é a capacidade do governo de entregar um resultado primário positivo, ou seja, que as receitas superem as despesas e, principalmente, a dinâmica do crescimento dos gastos. Essa é a grande questão, aponta o economista.

O novo arcabouço fiscal, em vigor desde meados de 2024, estabelece que o resultado primário pode oscilar até 0,25 ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB), para mais ou para menos. Mas há dificuldades para cumprir essa meta, principalmente em decorrência dos custos com aposentadorias e benefícios sociais. Para se ter uma ideia, em 1987, os gastos assistenciais e com a Previdência Social representavam 28% das despesas do governo, fatia que saltou para 68% em 2021. E não parou por aí: só entre janeiro e julho de 2024, o ritmo de crescimento desses gastos foi de 4,7%, já descontada a inflação. “E não há perspectiva de alívio, uma vez que a população brasileira está envelhecendo, o que aumenta esses custos, sem as receitas”, lembra o economista.

Se a meta é que os gastos cresçam no máximo 2,5%, mas as despesas com maior peso no orçamento sobem num ritmo duas vezes maior, a conta não fecha. “É um objetivo ambicioso. Se o governo não adotar medidas, como combater fraudes, haverá uma pressão para que os juros subam, o que tem efeitos em toda a economia.” 

Ricardo Bastos, diretor de Relações Institucionais e Governamentais da GWM Brasil

O mercado de carros elétricos no Brasil deve quintuplicar até 2027, mostra relatório da Bloomberg New Energy Finance (BNEF). Somente em 2024, as vendas cresceram mais de 100%, segundo a Associação Brasileiro do Veículo Elétrico (ABVE). Além desses dados, tem o potencial nacional para se tornar uma base exportadora a toda a América Latina.


Esses são os fatores que fazem parte do checklist de motivos que trouxeram a montadora chinesa Great Wall Motors (GWM) para o País, onde deve inaugurar uma fábrica ainda no primeiro semestre de 2025.
“Mesmo nos momentos mais difíceis, o mercado brasileiro sempre está entre o quinto e o oitavo no ranking mundial, tanto em produção quanto em vendas, e há uma excelente base de fornecedores, com alta capacidade tecnológica”, explica Ricardo Bastos, diretor de Relações Institucionais e Governamentais da GWM Brasil. Outro fator que inseriu o País na rota de interesse da montadora chinesa é a sua matriz energética, uma das mais limpas do mundo

A fábrica será instalada em Iracemápolis, em São Paulo, onde antes havia uma fábrica da Mercedes-Benz. A instalação contrasta com um dado importante: a Indústria, que chegou a gerar quase metade de toda a riqueza do País, hoje, participa com menos de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB). Especialistas apontam que a corrida pela descarbonização pode ser uma oportunidade para reverter essa desindustrialização. A GWM segue a conterrânea BYD, que deve iniciar a produção em Camaçari, na Bahia, no início de 2025, onde anteriormente existia uma fábrica da Ford.  

Contudo, o potencial visto pelas chinesas contrasta com questões perenes que mantêm, ano após ano, o ambiente de negócios desafiador para quem quer investir. Segundo Bastos, a primeira delas é a complexidade do sistema tributário, que ainda não sente os efeitos da recente reforma. Há, ainda, a insegurança jurídica. “Falta previsibilidade quanto às regras do setor”, afirma. Um exemplo é o aumento do imposto de importação de carros elétricos, que está sendo cobrado de forma escalonada até 2026. 

ESTA REPORTAGEM É PARTE DA EDIÇÃO #484 IMPRESSA DA REVISTA PB. A ÍNTEGRA DA PUBLICAÇÃO ESTÁ DISPONÍVEL NA PLATAFORMA BANCAH.

Ana Paula Ribeiro Débora Faria
Ana Paula Ribeiro Débora Faria