Às vésperas das eleições municipais, o Brasil urbano convive com complexidades locais que refletem os gargalos do País, como violência e mobilidade. Assim, realidades distintas se tornam dilemas nacionais: enquanto municípios do Rio Grande do Sul tentam se reerguer da tragédia das inundações, Belém se prepara para receber o principal encontro climático do planeta. Em meio a tantos desafios, fenômenos como a periferização impactam desde o funcionamento do comércio até a produtividade da economia. Este é o tema de capa da edição 482 (ago/set) da Revista Problemas Brasileiros.
Com o título Cidades do presente repensam o futuro, por dois meses a PB fez a mesma pergunta para fontes diferentes entre si em diferentes lugares do País: quais são, hoje, os principais desafios das cidades brasileiras? As respostas soam fundamentais. Além do arquiteto João Leonardo Dadalti, de São Paulo, e a antropóloga Ana Luiza Carvalho da Rocha, do Rio Grande do Sul, foram ouvidos um líder comunitário de Belém (PA) e outro de Salvador (BA), um gestor público mineiro formado nos Estados Unidos e uma socióloga carioca radicada na capital paulista, além de uma miríade de gente em cidades como Campinas, Peruíbe e Itapeva (SP), Salvador e Feira de Santana (BA), Natal (RN), Brasília (DF), Cachoeiro de Itapemirim e Vitória (ES), Maceió (AL) e Florianópolis e Urubici (SC).
É interessante, mas não surpreendente, notar como pessoas que tenham alguma atuação política — seja nas mobilizações da sociedade civil, seja no nível institucional — fornecem diagnósticos técnicos dos problemas nacionais urbanos, enquanto quem experimenta a cidade no cotidiano relata, de forma mais concreta (e, às vezes, pormenorizada), esses dilemas comuns. Como boa parte da população utiliza transporte público, este aparece como tema central — das grandes metrópoles às pequenas localidades. O que muda são os patamares.
Afinal, é nas cidades que as pessoas vivem. Por isso, é nelas que emergem problemas que afetam diretamente a vida da população. Dilemas tradicionais como insegurança pública e mobilidade dividem a atenção com questões mais recentes, como crescimento desordenado e eventos climáticos extremos. As soluções passam por repensar as cidades do presente com os olhos voltados para o futuro, sem reproduzir fórmulas antigas em novos contextos.
Legado da Rio 2016 e soft power
E enquanto atletas de todo o mundo buscam superar os próprios limites nas Olimpíadas de Paris, olhamos para dentro de casa: afinal, qual foi o legado dos jogos de 2016 para a cidade do Rio de Janeiro? Celebrado como uma das grandes vitórias do Brasil na última década, o evento custou caro aos cofres públicos: R$ 21,5 bilhões. O problema é que pouco sobrou para a população carioca, como mostra a reportagem Rio de atrasos de promessas. Teleféricos abandonados marcam a promessa não cumprida de urbanização das favelas, enquanto investimentos para melhorar a mobilidade urbana foram insuficientes e mal planejados. Algumas arenas esportivas estão às moscas. Por outro lado, a cidade recebeu, dos jogos de 2016, quatro ginásios educacionais tecnológicos, parques, uma escola municipal, uma piscina transferida a um novo parque, uma estação de metrô e o Boulevard Olímpico, onde fica o Museu do Amanhã, na revitalizada área portuária.
Convencer o outro a fazer aquilo que se espera é uma arte. Nas relações internacionais, quem exerce influência sem ser pela força ou pelo dinheiro tem outro tipo de poder, o tal soft power, tema de outra reportagem de destaque da edição, Nem cenouras, nem porretes. Entre k-pop, kimchi, pad thai, praia e futebol, como o Brasil se posiciona globalmente e como pode aprender a elevar o seu “poder suave”? O País tem lugar relevante no mundo quando o assunto é soft power, mas ainda aquém das reais potencialidades de uma nação com a nossa dimensão territorial, diversidade, cultura e influência regional. O que os números mostram é que os esforços do Brasil para se tornar uma liderança global pacífica se mostram pouco frutíferos até o momento. Prova disso é que o País ficou em 31º lugar no Soft Power Index 2024, estudo da Global Finance que classifica as nações pela influência, mantendo a posição do ano anterior e fora do topo das 30 nações mais dominantes do mundo.
O Brasil possível
A nova edição traz, ainda, um debate entre Armínio Fraga, economista e ex-presidente do Banco Central (BC), e Paulo Hartung, também economista e ex-governador do Espírito Santo. Sentados lado a lado, ambos refletem sobre as fragilidades e virtudes da agenda político-econômica brasileira. Dentre os temas discutidos, questões que vão ditar os rumos nacionais nos próximos anos e inquietam quem já esteve no centro do poder — da autonomia do BC ao Sistema Único de Saúde (SUS); do populismo das atuais lideranças políticas à Reforma Tributária; do potencial de protagonismo nacional na transição energética ao equilíbrio das contas públicas. Os melhores trechos da conversa, mediada pelo cientista político Humberto Dantas, você encontra nas páginas da PB #482.
A Problemas Brasileiros é uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), com distribuição dirigida a empresas associadas da Entidade, sindicatos filiados, universidades e escolas, Poder Público e organizações do terceiro setor.
A ÍNTEGRA DA EDIÇÃO #482 IMPRESSA DA REVISTA PB ESTÁ DISPONÍVEL NA PLATAFORMA BANCAH.