Sonia Guimarães, doutora em Física e professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), é entrevistada da série Duas gerações de Brasil: de onde viemos e para onde vamos, produzida pelo Canal UM BRASIL e a Revista Problemas Brasileiros (PB) durante a BRASA EuroLeads 2023, em Lisboa.
Durante muito tempo, foi difundido na sociedade que o cérebro da mulher não era biologicamente capaz de lidar com temas complexos — como os relacionados às ciências exatas —, tampouco de liderar uma nação e todas as áreas inerentes ao interesse coletivo, como Economia, Tecnologia, Segurança e Saúde.
No Brasil, em especial, essa barreira historicamente sempre foi imposta desde cedo às meninas. A reflexão é de Sonia Guimarães, doutora em Física e professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), uma das mais prestigiadas instituições de ensino brasileiras. Sonia é a primeira mulher negra do País a se tornar doutora em Física.
“Até 1996, mulheres eram impedidas até mesmo de prestar vestibular para o ITA. Hoje, as melhores notas do vestibular são de mulheres. A melhor nota dentre quem se formou em 2022 foi de uma mulher, com 9,5 em todas as engenharias. A luz no fim do túnel para elas está em parar de acreditar na história de que são menos capazes. As campeãs das Olimpíadas de Física e Matemática são meninas; os países que menos tiveram mortes por covid-19 têm presidência feminina ou uma mulher como ministra da Saúde”, argumenta.
Desde o início da década de 1990, Sonia já lecionava no ITA, a única mulher negra dentre as pouquíssimas no campus, tendo em vista que, na época, elas não podiam ingressar como estudantes.
“No ensino fundamental, me disseram que eu nunca aprenderia Física. Eu terminei aquele ano como a segunda do colégio inteiro na disciplina. Na universidade, a história foi parecida. Infelizmente, é um fato em todas as áreas que, pela cor da pele, você tem de ‘matar dois leões por dia’ — e juntando com o fato do gênero, são ‘quatro leões por dia’”, reflete.
A cientista ressalta ainda que a melhor forma de atrair o público feminino desde cedo para carreiras que envolvam ciências exatas e tecnologia é mostrando os exemplos de mulheres que não apenas não acreditaram na falácia da incapacidade, como também estão chegando aos mais altos cargos e posições, representeando, inclusive, 70% das publicações científicas do País.
Assista à entrevista na íntegra: