É crescente a associação entre obesidade e desenvolvimento de diferentes tipos de câncer. O Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI), por exemplo, lista mais de uma dezena de tipos de tumores malignos que, com base em estudos epidemiológicos, quantificam o risco aumentado de uma pessoa obesa (ou com sobrepeso) vir a desenvolver a doença.
O câncer de endométrio (tecido que reveste o interior do útero) é o caso no qual essa relação mais se estreita. O risco de desenvolver a enfermidade é de duas a quatro vezes maior entre mulheres obesas ou com sobrepeso e sete vezes maior para as mulheres com obesidade severa. Já no câncer de esôfago, a obesidade severa eleva o risco em 4,8 vezes. Os demais tipos de tumores malignos que têm essa condição como fator de risco são gástrico, de fígado, de rim, de pâncreas, colorretal, de vesícula biliar, de mama, de ovário, de tireoide, mieloma múltiplo e meningioma.
Para falar mais sobre o tema, a Problemas Brasileiros conversou com Fernando Gerchman, referência em pesquisas clínicas sobre obesidade, síndrome metabólica e câncer. Ele é membro da diretoria da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
A obesidade está associada ao um aumento dos níveis de estrógeno por aumento da conversão periférica de andrógenos em estrógenos no tecido gorduroso, causando estímulo do endométrio, aumentando o risco de câncer de endométrio/útero de uma maneira muito significativa. É o tipo de câncer de maior risco para mulheres com obesidade, considerado 40% das causas desse câncer.
A desregulação do processo inflamatório na obesidade causa inflamação crônica subclínica, só identificada por exames. Além disso, aumenta os níveis de insulina e IGF-1, um hormônio responsável por crescimento e proliferação celular, que pode ficar descontrolada e dar origem ao câncer.
Há uma série de dados demonstrando que a atividade física continuada reduz o câncer consideravelmente. O que importa é se mexer. Não é preciso uma frequência intensa. Óbvio, uma carga média de exercícios ajuda em outros aspectos da saúde, mas uma atividade física mais leve e menos frequente já diminui casos de morte por câncer ou doença cardiovascular.
Uma série de dados desenvolvidos pelo meu grupo e publicados em quatro diferentes estudos apontam que a mudança para um estilo de vida mais ativo — por exemplo, 180 minutos por semana de caminhadas em ritmo moderado a intenso — e a adoção de uma dieta que objetive perda de 5% a 10% do peso previnem o desenvolvimento do diabetes em quem tem predisposição. Reduz problemas de humor e depressão também. Para a maior parte dos nossos pacientes que apresentam essas condições, é muito difícil seguir uma dieta saudável e um programa contínuo e estruturado de atividade física. Se conseguirem se exercitar um pouco, já haverá benefício. E isso os fazem se sentir menos culpados e evita o chamado estigma próprio, que traz sentimentos de incompetência e fracasso, aumentando as chances de o tratamento ser mais bem-sucedido.