Em meio à retomada do debate público sobre a Reforma Administrativa, volta à tona uma das perguntas mais recorrentes — e, muitas vezes, mal colocada — no País: afinal, precisamos de um Estado maior ou menor? Essa dicotomia, embora presente na agenda política, afasta o foco do que realmente importa. O desafio não é de tamanho, mas sim de qualidade. O Brasil precisa de um Estado melhor! Mais estratégico, eficiente e com capacidade efetiva de entregar resultados. E isso começa pelo planejamento.
É nesse contexto que o Planejamento da Força de Trabalho (PFT) assume papel central. Fundamental para uma gestão de pessoas orientada por dados e resultados, o PFT ainda é frequentemente negligenciado. Tratar esse instrumento como uma mera formalidade é perpetuar distorções, ineficiências e desperdício de talentos no setor público, sob o custo de uma gestão que opera com baixa capacidade de adaptação aos desafios dos complexos tempos atuais.
O PFT deve orientar decisões sobre contratação, alocação e desenvolvimento de servidores, com base em métricas de produtividade e nas reais demandas dos serviços públicos. Isso significa responder perguntas como: quantos servidores são necessários? Onde devem atuar? Com quais competências? Na Educação, por exemplo, devem ser considerados o número de estudantes, o tipo de ensino ofertado (ensino integral ou comum, por exemplo) e as projeções de crescimento, que são determinantes para esse planejamento.
Trata-se, portanto, de pensar estrategicamente o presente e o futuro da força de trabalho pública. Mais do que contar cargos, é preciso entender a demanda por perfis específicos, as particularidades dos territórios e os arranjos institucionais de cada ente federativo.
Apesar de já existirem ferramentas desenvolvidas, inclusive com apoio acadêmico, falta institucionalidade governamental. O PFT ainda não está plenamente integrado ao ciclo orçamentário, às decisões sobre vagas em concursos e à contratação de temporários, tampouco à gestão de desempenho. Essa realidade agrava-se nos Estados e municípios, que concentram a maior parte do funcionalismo público e onde, historicamente, a capacidade institucional é mais frágil.
Outro ponto de atenção é a movimentação de pessoal. A ausência de regras claras e nacionais sobre cessões, redistribuições e requisições gera rigidez, sobrecarga em áreas críticas e subutilização de competências. Um marco legal pode corrigir essas distorções, além de permitir a reorganização de carreiras frente à obsolescência de funções decorrente de transformações tecnológicas.
Neste momento, em que o Grupo de Trabalho (GT) da Reforma Administrativa — coordenado pelo deputado federal Pedro Paulo (PSD/RJ) — avança em propostas para modernizar o serviço público, o PFT deve ser valorizado como alicerce. Ele tem o potencial de tornar concursos melhor planejados, qualificar a alocação de vínculos temporários, apoiar a gestão de desempenho e combater desigualdades salariais com mais critérios e racionalidade.
É hora de apostar em inteligência. Planejar a força de trabalho significa ampliar a capacidade do Estado de cumprir o seu papel com justiça, eficiência e compromisso com a sociedade. A boa gestão pública começa pelas pessoas, ou seja, começa com planejamento.
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