A Revista Problemas Brasileiros reuniu dez especialistas em suas respectivas áreas de conhecimento em torno de uma pergunta: o que esperar de 2025? As respostas foram tão diversas quanto as dificuldades e oportunidades que aguardam o Brasil nos próximos 12 meses. Aqui você confere mais dois primeiros olhares, sobre Saúde e Educação.
O Brasil registrou um número recorde de casos de dengue em 2024: mais de 6 milhões de pessoas contraíram a doença, com 4 mil mortes. Mas a situação crítica enfrentada pelo País, especialmente nos primeiros meses do ano, parece não ter servido de alerta. As doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti — que incluem também a zika e a chicungunha — vai desafiar, mais uma vez, as autoridades em 2025.
O alerta é do médico infectologista David Uip, que já foi secretário de Saúde de São Paulo e que esteve na coordenação da covid-19 no Estado. “A vacina não vai conseguir cobrir toda a população, tampouco há previsão de condições climáticas diferentes. Com isso, o número de casos não deve diminuir”, avalia. Diferentemente do mosquito, outra ameaça é invisível a olho nu, mas também desafiadora: as bactérias super-resistentes. Na projeção de Uip, esses organismos podem ser responsáveis por 39 milhões de mortes no País até 2050.
E se a dengue deve continuar no noticiário, e as bactérias não combatidas com os antibióticos preocupam, Uip, felizmente, vê com otimismo a melhoria do enfrentamento das doenças infecciosas, muito por causa dos avanços nos diagnósticos moleculares, como os testes de PCR, e os histopatológicos, que são aqueles que estudam tecidos de seres vivos (biópsias).
No entanto, ainda há dois tópicos importantes de atenção: o combate ao negacionismo e o fortalecimento da divulgação científica de qualidade. Um exemplo do médico é o retrocesso da cobertura vacinal, que passou de 95% para apenas 67,5% — o que pode trazer de volta doenças erradicadas, como a poliomielite —, e elevou o contágio de outras, como o sarampo. “Essa redução é um drama não só no Brasil. Há grupos que claramente são contra as vacinas, e isso é inadmissível. A imunização é um bem pessoal, mas também um bem para toda a população”, argumenta.
O suicídio de um adolescente negro e bolsista num colégio de elite de São Paulo, em agosto de 2024, reacendeu o debate sobre saúde mental e bullying, pauta que deve se manter forte em 2025. A avaliação é de Luciane Tognetta, pesquisadora e autora de obras sobre violência no ambiente escolar.
Segundo ela, o desempenho acadêmico deve andar ao lado da construção de espaços saudáveis. “Não é possível ter bons resultados sem o que se chama de bem-estar emocional. Nesse sentido, a escola vai precisar favorecer o convívio positivo e o conforto dos alunos para que haja bom desempenho”, afirma.
A preocupação com o tema é reforçada pela Lei 14.811, de 2024, que criminaliza o bullying, definido como intimidação sistemática por meio de violência física ou psicológica. Com a lei, tanto o autor das agressões quanto a escola onde os atos ocorreram podem ser responsabilizados. “A escola forma o indivíduo e não deve focar apenas em questões acadêmicas.
Assim como se ensina matemática e outras disciplinas, a convivência também deve ser um objetivo de aprendizado”, afirma Luciane. Ela ressalta que os países que mais avançaram na criação de um ambiente escolar benéfico foram os que adotaram políticas públicas e planejamento para combater o bullying e a violência.
O assunto também está no radar da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a incidência de ansiedade entre crianças e jovens já supera a dos adultos. Para a pesquisadora, a saúde mental dos alunos deve ser tratada com a mesma seriedade do que o bullying, já que ambos se desenvolvem de forma paralela. “Um dos grandes tópicos da Educação é o aumento do sofrimento emocional entre as crianças, motivado por atos de violência, muitas vezes velados.”
Formação contínua dos educadores, programas de apoio psicológico e promoção de um espaço inclusivo são fundamentais para garantir uma escola mais propícia ao ensino de qualidade, em suas múltiplas abordagens.