25 palavras para pensar 2025

23 de dezembro de 2024

Como você definiria o ano que passou? E o que imaginar para o que está chegando? Enquanto a humanidade é confrontada com a prevista — e agora real — crise climática, também observa a escalada das guerras, uma das suas mais antigas mazelas. No Oriente Médio, há décadas não se via tamanha violência, enquanto o conflito entre Rússia e Ucrânia entra no terceiro ano sem bandeira branca à vista. Um mundo que está em veloz transformação, capitaneada pelo avanço tecnológico que muda a vida das pessoas em diversas frentes, da economia ao dia a dia dos trabalhadores, das salas de aula ao campo. Transformação essa que muda também a estrutura do próprio tecido social, com desdobramentos ainda imprevisíveis.

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Para organizar esses pensamentos, a Revista Problemas Brasileiros elegeu 25 palavras e expressões essenciais para entender 2025. Divididas em cinco temas – Política, Economia, Inovação, Sustentabilidade e Sociedade – a reportagem ouviu especialistas em cada em cada um deles. Com reflexão e intencionalidade, as várias pontas soltas do novelo podem ser encaradas como verdadeiras oportunidades para que a transformação em curso se traduza em avanço para todos.

Ao longo dos próximos dias traremos aqui para o site da PB cada um dos eixos analisados na reportagem, que faz parte da edição especial de fim de ano da Revista Problemas Brasileiros.

Confira abaixo as cinco palavras para pensar sustentabilidade em 2025.

CRISE CLIMÁTICA

O planeta está cada vez mais quente — e não há refresco à vista, diante da média da temperatura anual quase 2º C acima do registrado no período pré-industrial. “Estamos colhendo as consequências de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs). O aumento da temperatura significa a extinção de espécies”, afirma Flávia Martinelli, especialista em Mudanças Climáticas da WWF-Brasil. Por aqui, as consequências vão de aumento da seca — principalmente na Região Norte, mas também no Centro-Oeste, no Nordeste e no Sudeste — a chuvas e inundações, sobretudo na Região Sul. “A tendência é que os fenômenos climáticos que ocorrem hoje sejam intensificados”, explica Flávia. 

Além das perdas imediatas, há consequências concretas na saúde, como o agravamento de surtos de dengue e as mortes de idosos e crianças nas ondas de calor. “A alta no preço dos alimentos também é uma realidade: milho, soja, café, feijão, arroz, leite, carne bovina e frango encareceram já em 2022 — e o cenário pode se agravar, pois a Agricultura é o setor que mais depende da previsibilidade climática”, ressalta. Resultados a longo prazo precisam de ações imediatas: de um lado, o País precisa reduzir as emissões; de outro, preparar-se para situações de crise. 

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

O último relatório do Fórum Econômico Mundial mostrou o Brasil na 12ª posição no Índice de Transição Energética, o primeiro entre os países emergentes e terceiro entre os participantes do G20. “Quase 50% da nossa matriz energética é renovável, enquanto a média mundial é de 16%. Só não estamos melhor porque ainda usamos muito diesel para transporte de carga e gasolina nos carros de passeio”, afirma Rosana dos Santos, diretora do Instituto E+ Transição Energética. Como as florestas, a matriz energética é um ativo ambiental do Brasil. “Esse conjunto de fontes oferece uma vantagem competitiva no mercado internacional, permitindo a venda de produtos com baixas emissões de carbono, um setor que vai crescer”, avalia Rosana. 

Para descarbonizar o transporte de carga, biodiesel e biometano parecem mais viáveis que a eletricidade. “O hidrogênio de baixa emissão tem um papel importante na descarbonização, mas em alguns processos não é tão eficiente e vai acabar ficando caro para o Brasil, dado que temos outras fontes renováveis de altíssima qualidade, como os ventos no Nordeste”, explica a diretora. Outro ponto importante é evitar que a produção de hidrogênio seja uma commodity. “É preciso um plano nacional de desenvolvimento de cadeias industriais em torno dos polos de produção de hidrogênio”, recomenda.

COP30

Há 29 anos, anualmente, as conferências para discutir questões relacionadas ao meio ambiente se repetem. No entanto, a prevista para Belém, no ano que vem, parece ser especial, pois marca os dez anos do Acordo de Paris — hora de os países apresentarem as metas ambientais para 2035. Também será a primeira vez que uma região de floresta tropical receberá o evento, o que aguça o olhar do mundo para a conferência. “Em 2021, havia restrições por causa da pandemia. Nos três anos seguintes, as COPs foram realizadas por governos autocráticos. Existe a expectativa de esta ser também uma celebração da sociedade civil, uma COP mais inclusiva”, afirma Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima. 

O Brasil tem boa capacidade diplomática, um interlocutor tanto entre as nações mais ricas como as do Sul Global, ocupando posição de liderança no tema. “Mas me preocupa a expectativa de que a COP vá salvar o mundo. Quem trabalha com o clima sabe que os avanços diplomáticos são sempre incrementais, o mínimo denominador comum”, afirma a especialista. Outra preocupação são as escolhas internas do País, que podem pôr em xeque a pretensão de liderança. “Seria bom liderar pelo exemplo. Não dá para ser o quarto maior exportador de petróleo e líder ambiental ao mesmo tempo”, alerta Stela.  

MERCADO DE CARBONO

Avanços ambientais dependem de boas políticas públicas e regulamentação. Se aprovado, o Projeto de Lei (PL) do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões pode inserir o Brasil na vanguarda do mercado de carbono, ao lado da União Europeia. “O mercado voluntário que temos hoje é mais propício a fraudes e acaba sendo usado como estratégia de marketing”, explica José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade e do Comitê Energia da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), sobre a importância da aprovação da lei. 

Embora ainda possa haver mudanças no PL, a ideia central de mirar nos grandes emissores é elogiada por Goldemberg. “É uma discussão complicadíssima, mas o importante é que empresas dos setores do Comércio de bens e de serviços não sejam incluídas no mercado regulado. Contudo, esses negócios, ao reduzir emissões, melhorando os sistemas de refrigeração, por exemplo, poderiam vender créditos — e, dessa forma, obter receita extra”, explica. Mesmo uma usina termelétrica pode ter vantagens ao se tornar mais eficiente. A lei, portanto, pode ser uma boa promotora de avanços tecnológicos.  

Um mercado regulado de carbono sozinho, porém, não vai resolver as emissões. É preciso trabalhar em todas as frentes, sobretudo no combate ao desmatamento. “A atividade industrial emite 0,48 gigatonelada, e o desmatamento mais que o dobro disso, 1,11”, ressalta Goldemberg.     

ECONOMIA CIRCULAR

Mesmo que o Brasil já disponha de uma estratégia nacional de economia circular, até agora, o plano se mostra um decreto sem um plano de ação claro. Esses são os próximos passos necessários para que o documento tenha impacto real, explica Cristiane Cortez, assessora da FecomercioSP. Em 2022, o País gerou 81,8 milhões de toneladas de resíduos, mas reciclou apenas 4%, quando o potencial estimado era de 30%.

A ideia da economia circular vai além da reciclagem, numa proposta de produção e consumo de bens que não fabrique rejeitos — ou que estes sejam mínimos. “O papel da Indústria é fundamental, já que a mudança precisa começar na forma como os produtos são pensados, da escolha das matérias-primas à garantia de que esses insumos possam ser reinseridos no mercado após o uso”, explica Cristiane. 

Ainda que a Indústria seja a chave, a responsabilidade é compartilhada. “Necessitamos de uma mudança de mentalidade, tanto por parte das empresas quanto da sociedade em geral. As pessoas têm de descartar adequadamente e, na hora da compra, preferir produtos com menos embalagens, que durem mais, que sejam reaproveitáveis”, afirma. De acordo com a assessora, cabe ao Poder Público municipal promover uma coleta seletiva que funcione e conscientizar os cidadãos sobre a importância desse processo. 

ESTA REPORTAGEM FAZ PARTE DA EDIÇÃO #484 (DEZ/JAN/FEV) DA REVISTA PB. CONFIRA A ÍNTEGRA, DISPONÍVEL NA PLATAFORMA BANCAH.

Luciana Alvarez Débora Faria
Luciana Alvarez Débora Faria